Piada
pronta: repórter DO ESTADÃO chama blogueiro de “mentiroso”
A esquerda faz muitas
críticas “à mídia”, mas se esquece de que não existe uma “mídia” propriamente
dita. O que existe é um exército composto – salvo honrosas exceções – de
puxa-sacos dispostos a vender a alma na esperança de caírem nas boas graças dos
patrões.
A mídia que tanto
indigna a setores tão amplos da sociedade é produto dos ditos “profissionais da
imprensa”, seja de que “nível” forem. Nesse aspecto, tanto faz um Reinaldo
Azevedo ou um repórter de campo da Veja: ambos se valem das mesmas práticas.
Sempre ressalvando
que tudo, nesta vida, tem exceção e com a “mídia” não é diferente.
Qual é a diferença,
porém, entre Mervais, Azevedos, Cantanhêdes, et caterva, e os repórteres de
política que correm exclusivamente atrás de “pautas” que possam prejudicar a
esquerda, os movimentos sociais, os sindicatos e todos aqueles agentes políticos
que incomodam a direita?
Seja como for, esses
pensamentos me ocorrem ao chegar em casa após passar o fim da tarde de
sexta-feira 17 na sede nacional do PT em São Paulo, no “centro velho” da
cidade. No local ocorreria entrevista coletiva do presidente da sigla, Rui
Falcão.
Este blogueiro –
entre outros, assim como a “grande mídia” – recebeu aviso de pauta do PT sobre
coletiva em que, entre outros fatos, seria divulgado o nome do novo tesoureiro
do PT, o ex-deputado federal por Sergipe Márcio Macedo, que já foi ligado ao
ex-governador Marcelo Deda, morto em 2013.
A entrevista estava
agendada para as 16 horas e 30 minutos. Cheguei ao número 132 da rua Silveira
Martins, que dista poucas centenas de metros das Praças da Sé e João Mendes.
Estacionei o carro ao lado da sede petista e já havia umas 10, 15 pessoas à
porta.
Grandes câmeras
apoiadas em tripés, carros e furgões de reportagem da Globo, da Band, do SBT,
do Estadão etc. tomavam a rua. No saguão do prédio do PT, mais uma dezena de
repórteres aguardava que terminasse reunião da direção petista para subirem ao
auditório.
Um porta-voz do PT
sai ao saguão e chama os repórteres para anunciar o nome do novo tesoureiro do
partido. Imediatamente, o batalhão de repórteres se põe a digitar em seus
celulares, tablets, notebooks ou a fazer ligações telefônicas, repassando as informações.
Como já testemunhei
em outras oportunidades, apesar de trabalharem em veículos distintos, nessas
coberturas políticas esses repórteres parecem atuar todos para um único veículo
– compartilham informações e opiniões, que repassam aos seus veículos.
Quem já testemunhou
uma cena dessas não se surpreende quando, no dia seguinte, lê reportagens
praticamente idênticas no Estadão, no Globo, na Folha, nos telejornais etc.
O trabalho é
pasteurizado, mecânico.
Voltando ao ocorrido
na tarde desta sexta, dos blogueiros avisados pelo PT sobre a entrevista
compareceram um representante da Rede Brasil Atual, o coeditor do Diário do
Centro do Mundo, Kiko Nogueira, e eu.
Cheguei antes deles
e, como costumo fazer, fiquei na miúda ao lado dos grupinhos de repórteres
prestando atenção no processo de fazer linguiça que são essas coberturas. Eis
que percebo a presença de um repórter do Estadão com o qual tive uma discussão
no ano passado.
Relato, a partir
daqui, a razão da discussão que tive com esse repórter.
Em 17 de maio do ano
passado, ocorreu o 4º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que contou
com a presença de Lula. Na oportunidade, o ex-presidente deu uma declaração
sobre crítica que a mídia fizera aos estádios de futebol que estavam sendo
construídos para a Copa do Mundo, de que nenhum deles contava com estação de
metrô dentro.
Lula disse, no
evento, que não fazia sentido construir uma estação de metrô dentro de um
estádio de futebol porque fica muito caro e essa estação só teria grande
movimento em dias de jogos, e que, portanto, essa cobrança seria “babaquice”.
Minutos depois, em
todos os portais de internet, e no dia seguinte, em todos os grandes jornais,
manchetes dizendo que, para Lula, pedir metrô em estádio seria “babaquice”.
Um grupo de
blogueiros presenciou como nasceu essa manchete comum a toda a grande mídia.
Segundo esses colegas
me informaram, à porta do encontro de blogueiros os repórteres dos grandes
veículos, em rodinha, teriam combinado como relatariam a fala de Lula sobre
metrô nos estádios. Os blogueiros que fizeram a denúncia fizeram até um vídeo
do flagra.
Com base no relato
dos blogueiros, fiz um post contendo a informação de que eles afirmaram ter
presenciado os repórteres combinando o tom de uma manchete que, corroborando o
relato, saiu praticamente idêntica em Folhas, Globos, Estadões etc.
Conheço alguns dos
repórteres da mídia corporativa presentes àquele encontro de blogueiros. Um
deles, do Estadão, ficou furioso com o post que escrevi. Enviou-me mensagens
por SMS criticando o post e me chamando de “mentiroso”. Eu lhe disse que apenas
havia reproduzido informação que colegas blogueiros me passaram, mas ele não
quis saber.
Nunca mais tinha tido
contato com aquele repórter. No dia em que escrevo, porém, ele estava presente
diante da sede do PT. Até lhe fiz um cumprimento, que não foi correspondido.
Fiquei na minha.
Alguns minutos
depois, estava eu próximo a uma rodinha de repórteres de que ele participava.
Quando me viu, disse em voz alta, obviamente que para que eu ouvisse, o
seguinte:
— Cuidado, falem
baixo porque tem um blogueiro progressista escutando.
Passaram-se mais
alguns minutos e os presentes fomos chamados para o auditório – a coletiva iria
começar.
Eu estava à porta
conversando com o Kiko Nogueira. Quando nos preparávamos para entrar no prédio,
esse repórter do Estadão, chamado Ricardo Galhardo, passa olhando para minha
cara. Em uma tentativa de desanuviar o ambiente, brinquei:
— Não precisa ter
medo, blogueiro progressista não morde.
O sujeito,
visivelmente alterado, com os olhos injetados de raiva, chamou-me de
“mentiroso”. O Kiko Nogueira, do DCM, ficou tão surpreso que soltou um “Opa!”.
Claro que eu lhe
devolvi a “gentileza”, mas esse não é o ponto.
A razão pela qual o
tal repórter do Estadão alertou os colegas de minha presença seria a de que eu
teria inventado que os repórteres combinaram a pauta que apareceu igualzinha na
primeira página de todos os grandes jornais de 18 de maio do ano passado.
Eu não vi a cena da
combinação de pauta, mas o vídeo acima mostra que os repórteres ficaram
constrangidos com a pergunta dos blogueiros sobre se combinaram a pauta sobre a
fala de Lula.
A verdade verdadeira
é que esses ditos “profissionais da imprensa”, em grande parte, confundem-se
com seus patrões. Acham-se muito importantes. E agem de forma ameaçadora.
Pensam que fazem parte de uma grande família midiática feliz, esquecendo-se de
que, daqui a pouco, baixa um “passaralho” nas redações e eles são postos no olho
da rua.
Para mostrar como
essa gente “se acha”, mais uma cena da tarde desta sexta-feira 17.
Pouco antes do
entrevero com o jornalista do Estadão, o assessor da Presidência para assuntos
internacionais, Marco Aurélio Garcia, deixava a sede do PT quando foi cercado
pelos repórteres. Cheguei perto antes de alguns deles e coloquei o celular
próximo do rosto de Garcia para filmar sua fala, mas não consegui.
Os repórteres exigiam
que eu saísse da frente das câmeras deles, cheguei a ser empurrado. Para evitar
um confronto, acabei desistindo. Até porque, de empurrão em empurrão eu já
havia perdido boa parte da fala de Garcia.
Dentro da sede do PT,
na coletiva, só perguntas provocativas. Nada sério foi tratado. O sujeito que
me insultou quis saber como o PT respondia a declaração do ministro Gilmar
Mendes no sentido de que a corrupção está no “DNA” do PT.
Parece coisa de
fofoqueira de bairro, não?
Enfim, só vendo esse
exército de pit bulls “trabalhar” para entender por que o produto final desse
“trabalho” é tão tendencioso, parcial, virulento e infiel aos fatos – o que,
aliás, torna piada pronta repórter do Estadão – justo do Estadão – chamar
alguém de “mentiroso”.
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário