segunda-feira, 24 de maio de 2021

terça-feira, 18 de maio de 2021

"Nada para o povo PRETO foi de graça, ou por acaso; a libertação NUNCA bateu na nossa porta" ! ! !

“A liberdade nunca bateu na

nossa porta: 133 anos de falsa

abolição”

“Três séculos de tortura, assassinato, privação de liberdades e estupros não se apagaram em 133 anos de abolição da escravatura. O genocídio continua”, adverte a vereadora Dandara Tonantzin, do PT de Uberlândia (MG) 



A história oficial nos conta que no dia 13 de maio de 1888 a “benevolente” princesa Isabel assinou a Lei Áurea, salvando o povo negro dos horrores da escravidão. O que não consta nos livros tradicionais é que a abolição foi fruto de muita luta de nossos antepassados, que resistiram com fugas organizadas dos cativeiros, rebeliões, quilombos e lutas abolicionistas. De salvadora a princesa branca não teve nada; a lei foi assinada por pressão econômica internacional inglesa que desde 1845 proibia o tráfico negreiro.

Cerca de 4,8 milhões de africanos foram sequestrados de suas famílias e encarcerados em navios tumbeiros para o Brasil. O trajeto era desumano e a vida dos sobreviventes era rodeada de perversidade. Latifúndios eram campos de concentração onde pessoas escravizadas eram tratadas pior que animais de carga. Apesar de tanta dor, sobrevivemos e construímos esse país à sangue e suor. A contribuição que demos para a construção da pátria ainda é negada. Ainda aparecemos nos livros de história somente nas páginas que remetem ao crime da escravidão.

 

Somos bisnetos (as) de guerreiros e guerreiras, que saíram da escravidão sem reparação alguma, sem direitos à terra, à educação ou moradia. Sem perspectivas, o povo negro começou a habitar as periferias ao redor dos centros urbanos que se formavam. No dia 14, após a lei de abolição, o que restou para nós?

 

Por isso hoje não comemoramos a falsa abolição, chancelada pelo viés branco.

Hoje exigimos respeito e igualdade, mesmo que tardia. A escravidão deixou marcas na nossa história. No momento em que nascia o Brasil, a escravidão era mais do que somente um modelo econômico, era um sistema político, cultural, social, que constituiu valores, que organizou geopoliticamente as cidades, determinou lugares e não lugares. O preconceito racial se enraizou de tal maneira em nossa sociedade que o racismo se tornou estrutural, presente nos discursos de ódio da internet, nas piadinhas sobre o cabelo ou traços afros, na ausência de pessoas negras em cargos de liderança e espaços de poder.

Hoje, negros são 79,1% das vítimas de intervenções policiais que resultam em morte, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2020. Somos também 66,7% dos encarcerados nas prisões brasileiras. Durante a pandemia de Covid-19 morreram 40% mais pretos e pardos do que brancos.

A chacina de Jacarezinho, no dia 06 de maio, nos lembra que os fantasmas da escravidão seguem os passos de cada pessoa negra nesse país: Na desvalorização, no medo, na perseguição, na fome, nos estigmas, na bala perdida que sempre encontra o corpo negro. Nossa cor de pele é alvo. Nossa cultura, nossos ritmos, nossa fé.

No dia 13 de maio de 2021 são milhares de mães pretas que velam seus filhos assassinados, desaparecidos, crimes que nunca tiveram justiça. Miguel Santana, Clayton da Silva Freitas Lima, Cláudia Silva Ferreira, Ray Pinto Faria, Jenifer Gomes e tantos mais. Se tornaram vítimas de sistema cruel, onde o preto é suspeito e nossas lágrimas não importam.

Temos pressa para que as coisas mudem. Já são 133 anos de um grito preso na garganta. Diferente do que canta o hino nacional, o sol da liberdade não raiou para todos (as) nós. É cansativo ainda lutarmos pela quebra das correntes do racismo.


Ocupamos espaços importantes, por exemplo, sou uma mulher negra na Câmara de Vereadores de Uberlândia. Olho para o lado e vejo os herdeiros da casa grande até hoje no poder. Não toleram a nossa presença, incomodamos.

Nada para o povo preto foi de graça, ou por acaso. A libertação nunca bateu na nossa porta. Tudo foi, tudo será: LUTA.

Dandara Tonantzin é pedagoga, mestranda em educação


domingo, 9 de maio de 2021

"O SILÊNCIO DOS CULPADOS" ! ! !

por Antônio Carlos de Almeida Castro, KakayO silêncio dos culpados
Foto: arquivo pessoal do KAKAI


Sempre tive muita dificuldade de conviver com pessoas ridículas. Em regra, o ridículo não consegue se imaginar como tal e causa enorme constrangimento a todos. É o que chamamos de vergonha alheia quando nos deparamos com situações trágicas de tão embaraçosas.

Existem pessoas que não conseguem aguentar a convivência com os ignorantes; outras abominam a burrice e desprezam a prepotência. Para mim, ser ridículo é ser um pouco da fusão de todas essas “qualidades”.

Imagine que, no atual momento, o mundo inteiro está discutindo a melhor maneira de enfrentar a crise sanitária. Em todos os cantos e recantos do mundo, há uma corrente de solidariedade e compaixão com os infectados. Uma real força que emana da quase totalidade das pessoas no sentido de acompanhar o implemento das vacinas, de torcer pela queda do número de infectados, de manter um pensamento contra a dor, contra a solidão, contra o desespero da doença.

Enquanto me recolho para levar um pensamento positivo contra a angústia dos que sofrem, contra o medo natural que toma conta dos que percebem a gravidade da doença, consigo acompanhar a emoção natural de quem conseguiu se vacinar. Principalmente num país onde o Presidente da República optou por não comprar a vacina e investir na morte, por desprezar a ciência.

Pensamentos contraditórios ficam cada vez mais evidenciados: temos os que prezam e lutam pela vida, respeitam as normas que são ditadas pela medicina e os negacionistas, que pregam o culto à morte, ao sadismo. Contra os fascistas, que desconhecem a empatia e a solidariedade, vamos aos poucos nos posicionando e cortando as relações, mostrando nosso desprezo. A postura de enfrentamento das atitudes canalhas faz de nós pessoas com maior comprometimento à dor, seja nossa ou do próximo.

Mas eis que surge aquele que não tem noção do ridículo, num país onde o luxo maior é conseguir ser imunizado, pois o descaso criminoso do Presidente da República faz com que faltem vacina, oxigênio e insumos. Onde a política assassina optou, numa decisão medíocre e criminosa, por não permitir a compra das imunizantes. Onde, pelo que se sabe até agora, por ordem direta do irresponsável que ocupa a cadeira de Presidente, o governo deixou de comprar, várias vezes, lotes de milhões de doses que foram oferecidas pelas empresas.

O caos é tamanho que foi necessário o STF, prestigiando o direito constitucional das minorias, determinar a abertura de uma CPI no Senado Federal para acompanhar a tragédia causada pela Covid. O enredo, se levado a sério, terminará com a destituição e prisão dos responsáveis.