o cantante Maviael Melo nos dá o
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“A liberdade nunca bateu na
nossa porta: 133 anos de falsa
abolição”
“Três séculos de tortura, assassinato, privação de liberdades e estupros não se apagaram em 133 anos de abolição da escravatura. O genocídio continua”, adverte a vereadora Dandara Tonantzin, do PT de Uberlândia (MG)
A história oficial nos conta que no dia 13 de maio de 1888 a
“benevolente” princesa Isabel assinou a Lei Áurea, salvando o povo negro dos
horrores da escravidão. O que não consta nos livros tradicionais é que a
abolição foi fruto de muita luta de nossos antepassados, que resistiram com
fugas organizadas dos cativeiros, rebeliões, quilombos e lutas abolicionistas.
De salvadora a princesa branca não teve nada; a lei foi assinada por pressão
econômica internacional inglesa que desde 1845 proibia o tráfico negreiro.
Cerca de 4,8 milhões de
africanos foram sequestrados de suas famílias e encarcerados em navios
tumbeiros para o Brasil. O trajeto era desumano e a vida dos sobreviventes era
rodeada de perversidade. Latifúndios eram campos de concentração onde pessoas
escravizadas eram tratadas pior que animais de carga. Apesar de tanta dor,
sobrevivemos e construímos esse país à sangue e suor. A contribuição que demos para a construção da pátria ainda
é negada. Ainda aparecemos nos livros de história somente nas
páginas que remetem ao crime da escravidão.
Somos bisnetos (as) de guerreiros e guerreiras, que saíram da escravidão
sem reparação alguma, sem direitos à terra, à educação ou moradia.
Sem perspectivas, o povo negro começou a habitar as periferias ao redor dos
centros urbanos que se formavam. No dia 14, após a lei de abolição, o que
restou para nós?
Por isso hoje não comemoramos a falsa abolição, chancelada pelo
viés branco.
Hoje exigimos respeito e igualdade, mesmo que tardia. A
escravidão deixou marcas na nossa história. No momento em que nascia o Brasil,
a escravidão era mais do que somente um modelo econômico, era um sistema
político, cultural, social, que constituiu valores, que organizou
geopoliticamente as cidades, determinou lugares e não lugares. O preconceito racial
se enraizou de tal maneira em nossa sociedade que o racismo se tornou
estrutural, presente nos discursos de ódio da internet, nas piadinhas sobre o
cabelo ou traços afros, na ausência de pessoas negras em cargos de liderança e
espaços de poder.
Hoje, negros são
79,1% das vítimas de intervenções policiais que resultam em morte, de acordo
com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2020. Somos também 66,7% dos
encarcerados nas prisões brasileiras. Durante a pandemia de Covid-19 morreram
40% mais pretos e pardos do que brancos.
A chacina de
Jacarezinho, no dia 06 de maio, nos lembra que os fantasmas da escravidão
seguem os passos de cada pessoa negra nesse país: Na desvalorização, no medo,
na perseguição, na fome, nos estigmas, na bala perdida que sempre encontra o
corpo negro. Nossa cor de pele é alvo. Nossa cultura, nossos ritmos, nossa fé.
No dia 13 de
maio de 2021 são milhares de mães pretas que velam seus filhos assassinados,
desaparecidos, crimes que nunca tiveram justiça. Miguel Santana, Clayton da
Silva Freitas Lima, Cláudia Silva Ferreira, Ray Pinto Faria, Jenifer Gomes e
tantos mais. Se tornaram vítimas de sistema cruel, onde o preto é suspeito e
nossas lágrimas não importam.
Temos pressa para que as coisas mudem. Já são
133 anos de um grito preso na garganta. Diferente do que canta o hino nacional,
o sol da liberdade não raiou para todos (as) nós. É cansativo ainda lutarmos
pela quebra das correntes do racismo.
Ocupamos espaços importantes, por exemplo, sou uma mulher negra na Câmara de Vereadores de Uberlândia. Olho para o lado e vejo os herdeiros da casa grande até hoje no poder. Não toleram a nossa presença, incomodamos.
Nada para o povo preto foi de graça, ou por acaso. A libertação
nunca bateu na nossa porta. Tudo foi, tudo será: LUTA.
Dandara Tonantzin é pedagoga, mestranda em educação
Sempre tive muita dificuldade de
conviver com pessoas ridículas. Em regra, o ridículo não consegue se imaginar
como tal e causa enorme constrangimento a todos. É o que chamamos de vergonha alheia quando nos deparamos com
situações trágicas de tão embaraçosas.
Existem pessoas que não conseguem
aguentar a convivência com os ignorantes; outras abominam a burrice e desprezam a prepotência. Para mim,
ser ridículo é ser um pouco da fusão de todas
essas “qualidades”.
Imagine que, no atual momento, o
mundo inteiro está discutindo a melhor maneira de enfrentar a crise sanitária.
Em todos os cantos e recantos do mundo, há uma corrente de solidariedade e compaixão com os infectados.
Uma real força que emana da quase totalidade das pessoas no sentido de
acompanhar o implemento das vacinas, de torcer pela queda do número de
infectados, de manter um pensamento contra a dor, contra a solidão, contra o desespero da doença.
Enquanto me recolho para levar um
pensamento positivo contra a angústia dos
que sofrem, contra o medo natural que toma conta dos que percebem a gravidade
da doença, consigo acompanhar a emoção natural de quem conseguiu se vacinar.
Principalmente num país onde o Presidente da
República optou por não comprar a vacina e investir na morte, por desprezar a
ciência.
Pensamentos contraditórios ficam cada
vez mais evidenciados: temos os que prezam e lutam pela vida, respeitam as
normas que são ditadas pela medicina e os negacionistas, que pregam o culto à
morte, ao sadismo. Contra os fascistas, que desconhecem a empatia e a solidariedade, vamos aos poucos
nos posicionando e cortando as relações, mostrando nosso desprezo. A postura de
enfrentamento das atitudes canalhas faz
de nós pessoas com maior comprometimento à dor, seja nossa ou do próximo.
Mas eis que surge aquele que não tem
noção do ridículo, num país onde o luxo maior é conseguir ser imunizado, pois o
descaso criminoso do
Presidente da República faz com que faltem vacina, oxigênio e insumos. Onde a
política assassina optou, numa decisão medíocre e criminosa, por não permitir a
compra das imunizantes. Onde, pelo que se sabe até agora, por ordem direta do irresponsável que ocupa a cadeira de
Presidente, o governo deixou de comprar, várias vezes, lotes de milhões de
doses que foram oferecidas pelas empresas.
O caos é tamanho que foi necessário o STF, prestigiando o direito constitucional das minorias, determinar a abertura de uma CPI no Senado Federal para acompanhar a tragédia causada pela Covid. O enredo, se levado a sério, terminará com a destituição e prisão dos responsáveis.