quarta-feira, 24 de novembro de 2021

"Fui freira, boia-fria e hoje LUTO pelos direitos das mulheres do campo", Marina Santos ! ! !

“Meu nome é Marina dos Santos, tenho 48 anos, sou filha de camponeses do Paraná. Meus pais são de Barbacena, Minas Gerais. A família do meu pai é muito grande, são 14 irmãos. Meu avô tinha uma terrinha, mas, como eram muitos filhos, meu pai e minha mãe saíram de Barbacena e foram morar no oeste do Paraná. Nasci em Cascavel e fui criada em Guarani-Açu. Somos em sete irmãos”


EM depoimento a Anahi Martinho

Colaboração para Universa



 

Trabalhando na colheita do café, meu pai conseguiu comprar uma terrinha em Guarani-Açu. Mas não durou muito tempo. No início dos anos 1980, quando eu tinha entre 7 e 8 anos, meu pai perdeu a terra por conta de um empréstimo no banco e fomos morar num bairro de periferia.

Lá eu estudava e trabalhava aos finais de semana. Aos 10 anos, precisei parar de estudar e fui trabalhar de boia-fria com meu pai. Mas eu queria continuar estudando. A gente participava das atividades da igreja na comunidade e eu ficava encantada com a sabedoria das freiras. Aí decidi entrar no convento para poder estudar. Era um convento de freiras franciscanas ligado às Comunidades Eclesiais de Base. Com 12 anos eu já lecionava catequese no bairro e auxiliava nas missas.

Um dia, em 1989, o frei me chamou para auxiliá-lo numa missa no acampamento sem-terra. Eu nunca tinha ouvido falar de sem-terra, de ocupação, de invasão. O acampamento era recente e enorme, tinha 300 famílias, quase 2 mil pessoas. Antes da missa, participei de uma reunião da juventude. Eram muitos jovens e um clima de alegria. Eles tocavam violão, cantavam. Eu senti a mística daquilo. Na reunião, eles discutiram como iriam pressionar a prefeitura para conseguir um ônibus escolar e queriam construir uma escola para eles, usando a sede abandonada da fazenda ocupada.

 

Depois daquela reunião, fizemos a missa. Foi uma missa campal, aquela multidão de gente. Toda a simbologia da missa era a simbologia da luta do campo. Na hora do ofertório, eles ofertaram a terra, os instrumentos de trabalho, a lona preta, que é a casa deles. A eucaristia foi feita com pães enormes assados no forno. O frei benzia os pães, depois pegava um pedaço de pão e oferecia a cada um. Aquilo foi muito bonito, me emociono até hoje de lembrar.

 

Na hora de ir embora, falei para o frei: "Frei, o que eu quero lá no convento tá aqui. Eu vou ficar". E fiquei até hoje. Assim foi a minha entrada no movimento, há 32 anos, por causa de uma missa. Hoje sou dirigente nacional do MST no setor de frente de massas.

 

Passei dois anos mentindo lá em casa e só depois criei coragem para contar que estava morando no acampamento sem-terra. Depois que contei, minha família me apoiou muito.

 

Tenho uma irmã que ficou no convento e está lá até hoje. E eles ainda fazem as celebrações no campo. A igreja sempre teve um papel fundamental nos acampamentos e assentamentos, principalmente através das pastorais sociais, a CNBB e a Comissão Pastoral da Terra. São essas entidades que trazem para a sociedade os debates a respeito do latifúndio, da concentração de terra, das desgraças que o latifúndio traz para a vida das pessoas e para a questão social e econômica do país. 

Eu sempre usava nos trabalhos de base das ocupações aquele texto bíblico do Paraíso, da "terra onde vai jorrar leite e mel". Esse é o projeto da luta camponesa, distribuir a terra, desenvolver o campo, produzir fartura, produzir comida.

Ainda sou católica, mas nas últimas décadas a igreja havia dado uma guinada para a direita. Agora, nos últimos anos, com o Papa Francisco, a gente sente algumas transformações. Ele elogiou e agradeceu o MST pelo combate à fome. Fizemos um encontro em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, com o Papa. Eu participei de todo o processo organizativo. Aquilo é a minha igreja, a minha fé.

Em 1996, deixei o Paraná e fui para Campos dos Goytacazes (RJ). Quando cheguei às fazendas de cana, vi pela primeira vez o que era um trabalhador em situação análoga à escravidão. Eu tinha 21 anos. Fiquei muito chocada com aquilo. Eu me perguntava: "Meu Deus, isso é o Brasil mesmo?".

Entre 2006 e 2011, fiquei em Brasília coordenando o escritório nacional do MST. Foi um período de muito aprendizado. De 2014 a 2017, fui para a coordenação internacional na Via Campesina. Aí minha vida tomou outra dimensão, outra escala. Viajei o mundo inteiro, fui para a América Latina, para a África. O contato direto com outra realidade é muito enriquecedor.

Em 2003, o MST decidiu que todos os núcleos de base teriam que ser coordenados por um homem e uma mulher. Isso gerou muitas transformações, trouxe uma qualidade muito grande para o movimento e gerou uma transformação da cultura machista. As mulheres são muito inteligentes, temos mais dinamismo na vida. As mulheres trouxeram ordem, disciplina, planejamento, seriedade no cumprimento das tarefas e também a leveza, a mística, a poesia, a cantoria, ter as crianças fazendo parte.

Eu tinha 14 anos quando fiquei no acampamento. Imagina uma menina que não podia fazer o ginásio para ter que trabalhar de boia-fria para sobreviver e hoje conheceu o mundo, estudou e concluiu seu mestrado esse ano.

Fiquei tão feliz de ter concluído meu mestrado. Estudei a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Camponeses, que foi uma conquista dos movimentos populares, aprovada pela ONU em 2018.

O Brasil é um dos países que mais concentra terras no mundo. Segundo o censo agropecuário do IBGE de 2017, 1% dos proprietários têm 46% das terras para agricultura. Muitas dessas terras são improdutivas ou não cumprem as legislações ambientais e trabalhistas.

Essas terras automaticamente deveriam ser destinadas à reforma agrária. Se o estado brasileiro pegasse os grandes latifúndios que não cumprem sua função social e transformasse em assentamentos, teríamos uma outra realidade no campo.

O agronegócio tinha que ser um pouco mais responsável, pelo menos, com as questões do alto uso de agrotóxicos, o desmatamento, o fogo na Amazônia e a exploração da força de trabalho. Não dá para querer transformar tudo em lucro à base de tanta destruição. Não dá para defender isso. Claro que existem interesses econômicos, mas essa coisa que eles falam do "agro é pop" tem que ter o mínimo de responsabilidade.

Não dá para mentir assim descaradamente. Temos 19 milhões de brasileiros passando fome. Cadê esse agro pop? O povo precisa comer.

Apesar do momento político atual, vejo os movimentos populares em sua melhor fase. Estou esperançosa. Mas não vai cair do céu. A esquerda tem que se olhar para se fortalecer. Temos que ter clareza de tudo o que foi feito, de todos os direitos que foram tirados da classe trabalhadora.

Há um ano, perdi um irmão para a covid. Tivemos 600 mil vidas perdidas pela forma irresponsável como o governo tratou, mas na política estamos vivos. Vamos ter que dedicar esforços para derrotar o bolsonarismo e somar forças para voltar a debater um projeto popular para o Brasil."

Marina dos Santos, 48 anos, é dirigente nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no setor de frente de massas.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Estrela de Alagoas PRIORIZA saúde de sua população !

Cidade Estrela de Alagoas

Prefeito e sua PREOCUPAÇÃO com seus habitantes

Prefeito Aldo Lira

Nesta segunda-feira, a simpática cidade de Estrela de Alagoas, distante 117 quilômetros da capital alagoana, Maceió; vinte e quatro Km de Palmeira dos Índios; e 55 Km de Arapiraca, GANHOU mais uma médica em seus quadros funcionais para um melhor atendimento de saúde aos seus munícipes.


Médica Amanda Santos

Amanda Aparecida da Silva Santos nasceu na cidade de Arapiraca e formou-se pela primeira turma de medicina da UFAL Campus I em sua terra natal.

Secretário de Saúde Adriano Vilela


Os/as estrelenses agradecem ao Prefeito Aldo Lira e ao secretário de saúde, o sempre gentil e competente Adriano Vilela Canuto.

Estrela teve sua emancipação política em cinco de outubro de 1992, tendo como seu primeiro prefeito o Senhor Adalberon Alves Duarte, tomado posse no dia 01 de janeiro de 1993.

Situado na Mesorregião do Agreste Alagoano e na Microrregião de Palmeira dos Índios, o município é limitado ao norte pelo município de Bom Conselho (PE); ao sul pelo município de Igaci; a leste pelo município de Palmeira dos Índios; a oeste pelos municípios de Minador do Negrão e Cacimbinhas.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

"O Brasil é muito MAIOR do que qualquer um que TENTE destruí-lo", LUIZ INÁCIO ! ! !

  ovacionado e aplaudido de pé  

Emoção e autenticidade no discurso do Presidente Lula no Parlamento Europeu no dia de ontem 

"Eu quero começar falando não da América Latina, nem da União Europeia, nem de algum país, continente ou bloco econômico em particular, e sim do vasto mundo em que vivemos todos nós – latino-americanos, europeus, africanos, asiáticos, seres humanos das mais diferentes origens.

 

Vivemos em um planeta que tenta a todo momento nos alertar de que precisamos de novas atitudes e de uns dos outros para sobreviver. Que sozinhos estamos vulneráveis às tragédias ambientais, sanitárias e econômicas. Mas que juntos somos capazes de construir um mundo melhor para todos nós.

 

No entanto, ignoramos esses alertas. Insistimos em não aprender com os erros do passado.

 

O resultado da nossa falta de compreensão está à vista de todos: pandemia, desigualdade, fome, emergências climáticas que no futuro próximo poderão comprometer a sobrevivência da espécie humana na Terra.

 

Apesar de tudo isso, quero reiterar aqui minha crença inabalável na humanidade.

 

Não nasci otimista – aprendi a ser. Porque vi em vários momentos da minha vida o quanto um ser humano é capaz de realizar, e o quanto um povo é capaz de construir, quando existe força de vontade e geração de oportunidades.

 

Quem vive hoje no Brasil, ou acompanha o noticiário sobre o país, tem todos os motivos para estar pessimista. Mas aonde quer que eu vá, faço questão de dizer: o Brasil tem jeito – apesar do projeto de destruição colocado em prática por um bando de extremistas de direita sem a menor noção do que seja cuidar de um país e de seu povo.

 

O Brasil tem jeito, apesar dos 19 milhões de brasileiros que passam fome. Apesar dos 19 milhões de desempregados e desalentados, que já desistiram de procurar um novo emprego. Apesar dos ataques constantes contra a população negra e indígena. Apesar do avanço da destruição do meio ambiente, inclusive na Amazônia.

 

E apesar, sobretudo, das mortes de mais de 610 mil brasileiros, muitas delas evitáveis – caso houvesse por parte do atual governo o interesse em combater com seriedade o coronavírus.

 

Apesar de tudo, digo com total convicção: o Brasil tem jeito. Sei disso porque num passado muito recente nós fomos capazes de reconstruir e transformar o país, e temos plena capacidade de reconstrui-lo outra vez.

 

Da mesma forma que acredito que o Brasil tem jeito, acredito também que o mundo tem jeito. Apesar dos 750 milhões de pessoas que passam fome, apesar dos 5 milhões de mortos pela Covid-19, apesar da desigualdade que não para de crescer, apesar dos conflitos étnicos, religiosos e geopolíticos que não raro alimentam as guerras.

 

Como disse no início desta fala, meu otimismo não nasce do acaso, mas da experiência. Acredito que a humanidade tem jeito porque estou aqui hoje, neste Parlamento Europeu, reunido com representantes de países que em meados do século 20 eram inimigos ferozes no campo de batalha, numa das maiores  carnificinas da história.

 

60 milhões de pessoas morreram na Segunda Guerra Mundial. É bem provável que os antepassados de vocês tenham lutado em lados opostos. Que tenham matado, morrido e sofrido na pele as atrocidades da guerra.

 

Vocês e seus países teriam, portanto, razões para se odiarem uns aos outros. No entanto, são protagonistas de uma das mais extraordinárias experiências da história moderna, que foi a construção da União Europeia.

 

Vocês estão hoje aqui, neste Parlamento Europeu, em clima de paz, buscando juntos soluções para a construção de uma Europa melhor.

 

Conhecemos o imenso poder de destruir que o ser humano tem em suas mãos, e que ele tantas vezes não hesitou em usar. Mas não podemos jamais esquecer que a humanidade tem também uma extraordinária capacidade de construir e reconstruir.

 

A União Europeia, o Parlamento Europeu e vocês, senhoras e senhores eurodeputados, são portanto exemplos dessa virtude humana. A União Europeia não é perfeita, como nada é, mas é um patrimônio da humanidade, como exemplo de cooperação e construção da paz entre os povos.

 

Senhores deputados e senhoras deputadas

 

Somos 7 bilhões e seiscentos milhões de seres humanos habitando este planeta. Homens, mulheres, crianças e velhos, ricos e pobres, pretos, brancos, gente de todas as cores.

 

Cada um de nós carrega dentro de si o seu universo particular. Somos diferentes uns dos outros, cada qual com sua individualidade, mas unidos todos por uma certeza ancestral: o ser humano não nasceu para ser sozinho.

 

O que me faz lembrar do pequeno trecho de uma das grandes obras primas da Bossa Nova, esse gênero musical brasileiro que conquistou o mundo. Um verso que diz o seguinte: “É impossível ser feliz sozinho.”

 

A verdade é que não é possível sermos felizes enquanto milhões de crianças ao redor do mundo vão dormir esta noite com fome, e acordarão amanhã sem saber se terão o que comer. 

 

Não é possível sermos felizes em meio a tamanha desigualdade, que cresceu de forma inaceitável em plena pandemia. Os ricos ficaram muito mais ricos e os pobres, ainda mais pobres.

 

A desigualdade entre ricos e pobres manifesta-se até mesmo nos esforços para a redução das mudanças climáticas.  O 1 por cento mais rico da população do planeta vai ultrapassar em 30 vezes o limite necessário para evitar que um aumento da temperatura global ultrapasse a meta de 1,5 grau centígrado até 2030.

 

O 1 por cento mais rico, que corresponde a uma população menor que a da Alemanha, está a caminho de emitir 70 toneladas de gás carbônico per capita por ano.

 

Enquanto isso, os 50 por cento mais pobres do mundo emitirão, em média, apenas uma tonelada per capta por ano, segundo estudo produzido pela ONG Oxfam e apresentado recentemente na COP 26.

 

A luta pela preservação do meio ambiente para mim é indissociável da luta contra a pobreza e por um mundo menos desigual e mais justo.

 

É preciso deixar bem claro que o otimismo, a esperança e a fé não podem ser jamais sinônimos de resignação. Por conta disso, eu me considero um otimista indignado.

 

Em 2009, os países ricos se comprometeram em aumentar para 100 bilhões de dólares ao ano, a partir de 2020, a contrapartida para os países em desenvolvimento preservarem a natureza e enfrentarem as mudanças climáticas. Esse compromisso não foi cumprido, e agora está sendo postergado para mais dois anos, ou seja, a partir de 2023, a transferência de 100 bilhões ao ano para enfrentar a emergência climática.

 

Iniciativa louvável, que merece ser celebrada. Mas não podemos esquecer que na crise de  2008, os Estados Unidos destinaram 700 bilhões de dólares para salvar da falência bancos que de forma irresponsável investiram em títulos imobiliários podres.

 

Na mesma época, o G-20 destinou mais 1,1 trilhão de dólares aos países emergentes e ao comércio mundial, para combater os efeitos da crise.

 

É preciso lembrar também que os Estados Unidosgastaram8 trilhões de dólares nas guerras pós-11 de setembro. Quantia suficiente para eliminar a fome no mundo e preparar o planeta para lidar melhor com as mudanças climáticas. E que no entanto foi usada para causar a morte direta de mais de 900 mil pessoas em países como Iraque, Afeganistão, Síria, Iêmen e Paquistão. Sem contar as mortes provocadas pela perda de água, esgoto e infraestrutura relacionadas com a guerra.

 

Ou seja, não faltam recursos para salvar bancos e para causar a morte ou o deslocamento forçado de milhões de seres humanos. Mas na hora de salvar vidas humanas ou o próprio planeta em que vivemos, a solidariedade dos países ricos é dezenas de vezes menor. 

 

Uma das maiores alegrias que tive quando presidente do Brasil, e mesmo depois de deixar a Presidência, foi percorrer o mundo, a convite dos mais diferentes países, para falar dos nossos extraordinários avanços econômicos e sociais.

 

Tive a honra de conduzir o Brasil ao posto de 6ª maior economia mundial. E de fazer do país um exemplo para o mundo de como é possível superar a extrema pobreza e a fome, com total respeito à democracia, em um curto espaço de tempo.

 

Vocês podem, portanto, imaginar o quanto dói participar de grandes eventos internacionais como este e ter que declarar o quanto o Brasil andou para trás desde o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff e a chegada da extrema direita ao poder.

 

O Brasil vive hoje uma tragédia social, econômica, ambiental e sanitária sem precedentes. Temos 2,7 por cento da população mundial. No entanto respondemos por 12 por cento das mortes por Covid registradas no mundo.

 

Choramos a morte de mais de 610 mil brasileiros. Não chegamos a essa trágica estatística por alguma fatalidade, e sim pela atitude criminosa do atual governo.

 

O atual presidente ironizou a gravidade da doença. Zombou dos mortos. Atrasou o quanto pôde a compra das vacinas. Fez propaganda enganosa e distribuiu medicamentos comprovadamente ineficazes contra o vírus.

 

Deixou faltar oxigênio em hospitais. Incentivou e promoveu aglomerações. Induziu a população à desconfiança quanto à eficácia das máscaras. Ajudou a espalhar fake news contra as vacinas, chegando a dizer que elas podem levar as pessoas com HIV a desenvolverem AIDS.

 

Experiências com medicamentos ineficazes, usando seres humanos como cobaias involuntárias, chegaram a ser realizados no Brasil, reeditando os horrores do nazismo.

 

Além disso, cerca de 116 milhões de brasileiros, metade da nossa população, vive hoje em situação de insegurança alimentar, de moderada a muito grave. Desses, cerca de 19 milhões, quase duas vezes a população da Bélgica, chegam a passar um dia& inteiro sem ter o que comer.

 

Isso está acontecendo no Brasil, que é o terceiro maior produtor mundial de alimentos.

 

E está acontecendo porque o Brasil, que em 2014 saiu do Mapa da Fome da ONU pela primeira vez na história, hoje copia o que o neoliberalismo trouxe de pior ao mundo: alta concentração de renda, baixa geração de empregos, destruição de direitos trabalhistas, desmonte das políticas sociais, ausência do Estado, abandono dos mais pobres à própria sorte.

 

O resultado dessa trágica equação não poderia ser outro: miséria, fome, desesperança.

 

Mas eu estou aqui para dizer outra vez a vocês e ao mundo: o Brasil tem jeito. Porque ele é muito maior do que qualquer um que tente destruí-lo.

 

O Brasil é o país que num passado muito recente encantou o mundo com as suas políticas inovadoras, que retiraram da extrema pobreza 36 milhões de pessoas – o equivalente à soma das populações inteiras de Portugal, Suécia, Dinamarca e Irlanda.

 

O Brasil é o país que assumiu voluntariamente diante do mundo o compromisso de reduzir em 75 por cento o desmatamento na Amazônia, como forma de conter a emissão de gases poluentes.

 

E cumprimos antecipadamente nossa promessa – entre 2004 e 2012, nós, de fato, reduzimos em 80 por cento o desmatamento da Amazônia, contribuindo para minimizar o avanço das mudanças climáticas.

 

Infelizmente, os países ricos, justamente os principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, não cumpriram a sua parte. Talvez porque os ricos acreditem que tenham como se proteger, e as mudanças climáticas afetarão com maior intensidade os mais pobres, o que é a triste realidade.

 

Mas o que eles esqueceram é que todos nós – ricos e pobres – precisamos do mesmo oxigênio para respirar, precisamos de água limpa para sobreviver, precisamos de um planeta saudável, onde nossos filhos possam viver com saúde e paz.

 

Felizmente, essa era de trevas que se abateu sobre o planeta, por conta da ascensão de governos de extrema direita pelo mundo afora, emite claros sinais de que está chegando ao fim.

 

Partidos e candidatos progressistas vêm conquistando importantes vitórias. Isso está acontecendo em vários países, e estou certo de que vai acontecer também no Brasil, a partir da eleição presidencial do ano que vem.

 

O Brasil voltará a ser uma força positiva no mundo. Voltaremos a ser criadores de políticas públicas capazes de mudar para melhor o nosso planeta.

 

Acreditamos num mundo multipolar. Voltaremos a ter uma política externa altiva e ativa. Vamos fortalecer o Mercosul, reconstruir a União de Nações Sul-Americanas, a Unasul, e ampliar nossas parcerias com a União Europeia. 

 

Vamos aperfeiçoar os termos do acordo Mercosul-União Europeia.Não queremos uma América Latina voltada exclusivamente para o agronegócio e a mineração. Temos total capacidade de sermos também países industrializados, tecnologicamente avançados.

 

O acordo hoje se encontra paralisado, por conta da desconfiança de países europeus quanto ao cumprimento dos compromissos ambientais assumidos pelo governo brasileiro.

 

Temos imensas extensões de terras agricultáveis, temos tecnologia, pesquisas agropecuárias avançadas. Nossa produção de alimentos não precisa desmatar a Amazônia para exportar soja ou criar gado. As atividades criminosas dos que destroem o meio ambiente devem ser punidas, e não podem prejudicar toda a economia brasileira.

 

Temos uma biodiversidade extraordinária, e os nossos biomas haverão de se regenerar após a extinção do atual governo, que estimula o desmatamento e as queimadas, o avanço do garimpo em áreas de proteção ambiental, os ataques aos povos indígenas.

 

O povo brasileiro não quer que essa destruição continue. Os brasileiros querem a Amazônia viva e de pé. E para isso, é necessário construir alternativas sociais e de desenvolvimento, com ciência, tecnologia e o protagonismo e respeito aos povos que vivem na floresta, seus saberes e sua cultura.

 

Meus amigos e minhas amigas,

 

Acreditamos num mundo cada vez mais plural, unido em torno de valores como solidariedade, cooperação, humanismo e justiça social. Acreditamos numa nova governança mundial, começando pela ampliação do Conselho de Segurança da  ONU, e vamos continuar lutando por ela.

 

Acreditamos que somos capazes de construir no mundo uma economia justa, movida a energia limpa, sem a destruição do meio ambiente e livre da exploração desumana da força de trabalho. 

 

Acreditamos que outro Brasil é possível, outra Europa é possível e outro mundo é possível – porque, num passado muito recente, fomos capazes de construí-lo.

 

Podemos ser felizes juntos. E seremos.

 

Muito obrigado a todos."