Em delírio, a mídia nativa consagra a
ex-senadora como voz da oposição. E Eduardo Campos gosta disso? E Aécio Neves?
por Mino Carta — publicado 18/10/2013 03:55, na
revista
desta semana
A julgar pelas
pesquisas, o segundo turno das próximas eleições presidenciais seria possível
se Marina Silva fosse cabeça de chapa. É a observação que cabe nas
circunstâncias. Falta, porém, um ano para o pleito e é tempo longo, tanto mais
porque a agenda não inclui apenas a campanha, decerto muito acirrada, mas
também a disputa de um Mundial de futebol, aqui mesmo, nos nossos estádios
bilionários.
Nunca me sai da
cabeça o argumento de Marcos Coimbra desenvolvido em uma coluna de tempos
atrás: a Copa pode influenciar o resultado eleitoral, independentemente do
desempenho da Seleção Canarinho. Não excluo que Coimbra tenha dons
proféticos.
Escrevia ele bem
antes da Copa das Confederações, e, quando este torneio aconteceu, sabemos das
suas consequências políticas. Começaram ali as manifestações de rua,
aparentemente despidas de razões nítidas e precisas e, ainda assim, habilitadas
a levar para o asfalto uma insatisfação difusa.
Os motivos que, entre outros, precipitaram as manifestações
valeriam mais ainda em relação à Copa do Mundo, sem contar o efeito daninho para o Brasil de uma organização desastrada do evento, trombeteada planeta
afora. Nada disso favoreceria a candidatura de Dilma Rousseff. Donde, vale
anotar, 2014 pode durar mais que um ano comum. Além de tudo, um comando
mafioso, capaz de representar uma exceção global, anuncia, diretamente do
presídio (eis a novidade) propósitos sombrios a curto e longo prazo, sem
exclusão de várias federais durante a Copa.
Conclusão: há muito chão pela frente. De todo modo, fôssemos às
urnas hoje, a presidenta Dilma se reelegeria, e o único risco de
segundo turno se daria se Marina Silva também surgisse como candidata à
Presidência. Possibilidade válida? Pois é, eis aí uma das questões a serem
resolvidas daqui em diante. A mídia nativa por ora enxerga na adesão da
ex-senadora ao PSB a cartada sedutora por
semear obstáculos no caminho da candidata petista. E vive o momento com
grande intensidade. Não dá palpites quanto à composição da chapa socialista,
mas confere a Marina Silva uma espécie de primazia, destaque especial.
São os meus inquietos botões que agora me puxam pela manga.
Perguntam: será que Eduardo Campos aprecia esta clangorosa valorização da aliada? Se às vezes não parece que está sendo escanteado, nestes dias claramente
passou para o segundo plano. Sintomático o editorial do Estadão de quarta 16,
intitulado “A voz da oposição”. Pinta-se ali o retrato empolgante de Marina
Silva, a acentuar nela, inclusive, um profundo conhecimento da economia que os
meus botões desconheciam. Leram, boquiabertos.
A voz da oposição. Reconheça-se ao Estadão a capacidade de dar
nome ao generalizado sentimento midiático. E quem se atribuía até ontem talento
e determinação para desempenhar o papel? Sem esquecer José Serra, está claro, determinado até a obsessão, não duvidem. Em um relâmpago, Marina ganha a ribalta.
Shakespeare já declamava: estar preparado é tudo. Estava preparado Eduardo
Campos no exato instante em que se concretizou o acordo com Marina Silva? E
estava preparado Aécio Neves com a súbita aparição da ex-senadora, arrepiante
talvez, como nos filmes de terror?
O governador de Pernambuco quem sabe não imaginasse o espaço que a
aliada ganharia em um piscar de olhos, e, no jogo das cadeiras, lhe tomasse a sua própria, ao menos por longos dias. Quanto a Aécio, já prejudicado pelo
aval de Fernando Henrique, fica rebaixado a murmúrio remoto, em surdina, de uma
oposição derrotada de saída. A seu modo, o efeito Marina é devastador. E outra
conclusão é inevitável: a ex-senadora pouco sabe de economia, mas é,
politicamente, de competência inesperada. No confronto com Eduardo, Aécio, e
quem mais quiser entrar no páreo.
SE LIGUE: as palavras em destaques
e na cor vermelha são deste BLOGUEIRO.
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