“BALA DE PRATA”, artigo
do livro O BUROCRATA E O PRESIDENTE – CRÔNICAS DO GOVERNO LULA, de autoria de
AFONSO OLIVEIRA DE ALMEIDA, pg.69.
Artigo EXPLÊNDIDO e BRILHANTE como a
humanidade mundial
que o Presidente LULA carrega consigo.
O MUNDO É UM CÍRCULO E É POR ISSO que o cara que lascou a
pedra e fez a roda, o Pelé e o Michael Jordan gozam de tanto prestígio em todos
os raios que os partam. Não foi nada
fácil aos esportistas fazer mais de 1000 gols ou milhares de cestas, mas a
lenda esculpida na história é a de que nosso primeiro herói achou tudo muito
simples, apenas retirando o que não era roda da pedra.
Os
hemisférios Norte e Sul são divididos imaginariamente por uma linha chamada
Equador, socialmente por uma linha chamada pobreza, economicamente por uma
linha branca ou marrom, institucionalmente por uma linha de crédito
internacional e ambientalmente por divisores de água, o Rio Grande e o Mar
Mediterrâneo.
La prensa libre martela – martelo dói –
em nossa cabeça, com um ar pesado de indiferença, as diferenças a reconhecer:
eles são ricos e nós, pobres; desenvolvidos, e nós, subdesenvolvidos;
tecnológicos, e nós, atrasados; superiores, e nós, primários.
Na linha do Equador passaram cerol, e o pescoço de qualquer
país do lado de baixo do planeta que se aventurar por lá tombará. O assovio
monótono da cantilena diária das rádios, televisões, jornais e revistas
assegura o corte cerebral profundo nas ambições sul-hemisferianas.
Ao sul da
linha do Equador, a oeste da África, curtido pelo sal abundante do Atlântico, a
leste da América do Sul espanhola, eis o Brasil, paraíso selvagem infantil,
gigante faminto adolescente, eterno passado, velho presente, cada vez mais
presente, com a cara lambida e a afoiteza dos penetras, aos grandes eventos do
mundo. Foi onde lhe é proibido, disputou o que lhe é negado, perdeu e ganhou o
que lhe é desautorizado perder e ganhar, subiu o tom da crítica ao subir o tom
de voz para equilibrar a soberba dos senhores de si.
O clube dos
chiques do mundo está fechado e não se interessa por novos sócios, é a mensagem
subliminar das manchetes tupiniquins. Nossa mídia pede desculpas aos atores
globais: é apenas ignorância de nossos representantes nas mesas de negociação,
são uns irresponsáveis, já entramos com um passa-fora nessa turma. Onde já se
viu? Aceitam imposição do Paraguai e da Bolívia e rejeitam negociação com os
norte-americanos e os europeus? Chafurdam nas lamas dos charcos nossa
autoridade e desfilam arrogância em salões poderosos?
É derrota
para nossas tropas da elite suportar o Lula, pensa o Lula, que gosta de mexer
as peças do seu xadrez geopolítico sem a coerência de costume. Mas o Evo
Morales precisava invadir as instalações da Petrobras, na Bolívia, e expor ao
conflito interno todos os seus pensamentos sobre o mundo, toda a sua ação?
Gente defendendo que o Exército seguisse à fronteira, gente apontando a
covardia do chefe supremo de um país muito maior, gente de toda ordem querendo
colocar ordem na diplomacia e os bolivianos em seu devido lugar, gente querendo
uma bala de prata para resolver tudo.
- Gente,
este Evo me aprontou uma, agora aprontou.
- Nossa
reação será forte, presidente?
Lula pede dados sobre a Bolívia e
ninguém entende:
- Como, presidente?
- Eu quero saber sobre as
características da invasão espanhola na Bolívia, o tamanho do PIB, O PIB per capta, o lucro que a Petrobras já
teve por lá, o retorno financeiro das operações da Petrobras, quero saber tudo.
- A questão é outra, presidente. É um atentado à nossa soberania.
- Quero os dados.
Lula ouvia tudo: um país danado de
pobre, com riquezas minerais subaproveitadas ou desaproveitadas pelos
nacionais, com destaque para a saga colonial, um PIB do tamanho do PIB de são
José dos Campos...
- Como?
- Do tamanho do PIB de São José dos
Campos.
- Toda a economia boliviana?
- Toda a economia boliviana.
- Nossa, preciso telefonar para o
presidente boliviano.
- Isso, pelo menos isso,
presidente...
- Só isso, não. Pelo menos uma carta
de protesto.
- Vamos chamar nosso Embaixador. É um
recado diplomático, mas eficaz.
- Nada disso. Vou ter uma conversa
séria com o Evo, mas vou falar também como amigo.
- Só, presidente?
- Não, não somente isso: vou oferecer
ajuda.
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