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Vítimas de protestos de 2014 na Venezuela denunciam senadores
brasileiros
O grupo venezuelano autointitulado “Victimas de las guarimbas”
reúne familiares de vítimas dos protestos organizados pela oposição venezuelana
no ano passado, sob a batuta de Leopoldo Lopez, Antonio Ledezma e a deputada
Maria Corina Machado. Os três declararam, publicamente, que o objetivo dos
protestos era o de derrubar o governo.
No vídeo abaixo, Lopez afirma, claramente, que o objetivo daqueles
protestos era o de violar a decisão do povo venezuelano ao eleger Nicolás
Maduro para suceder Hugo Chávez. A certa altura, ele diz que seu grupo não quer
esperar mais para mudar o governo.
Em outro vídeo gravado em 2014, Lopez – que as mídias
conservadoras nacional e internacional chamam de “preso político”, conclamava a
população que apoiava a guerrilha a usar “meios não-pacíficos” para derrubar o
governo.
Os protestos de rua de 2014 na Venezuela, equivalentes das
“jornadas de junho” de 2013 no Brasil, tiveram início em 4 de fevereiro do ano
passado na cidade de San Cristobal, no Estado Táchira.
A diferença entre os protestos brasileiros e os venezuelanos,
porém, foi o nível de violência. Enquanto, aqui, houve apenas uma morte – um
cinegrafista da tevê Bandeirantes foi atingido na cabeça por um rojão disparado
por um manifestante contrário ao governo Dilma –, na Venezuela foram 43 mortos,
dos dois lados em conflito.
A trinca de líderes daqueles movimentos (Lopez, Ledezma e a
deputada Corina Machado) reuniu ao menos dois participantes da fracassada
tentativa de golpe de Estado em 2002: Lopez e Ledezma.
Assim como ocorrera 12 anos antes, a oposição venezuelana apelou à
violência para tentar retomar o poder. A diferença é que, em 2014, houve uma
tática de estender a tentativa de golpe por meses em vez de tentar uma cartada
só.
Ao longo dos protestos de 2014 na Venezuela, milícias
antigovernistas apelaram para bloqueios das ruas com barricadas, ataques com
coquetéis molotov contra prédios públicos e privados, assassinatos nas ruas com
uso de franco-atiradores, incêndios ônibus do transporte público etc.
O saldo das ações da guerrilha oposicionista foi de 43 mortos –
sendo, metade, composta, em maioria, por policiais – e 800 feridos. Os
policiais foram, quase todos, mortos por franco-atiradores do grupo liderado
por Lopez, Ledezma e Machado.
Ao fim do ano passado, as prisões de Lopes e Ledezma – então
prefeito de Caracas – conseguiram pôr fim à violência. Naquele momento, surgiu
o grupo de “Victimas de las Guarimbas”. O que seja, um grupo formado por
familiares e amigos dos mortos e feridos daquele processo.
O termo “guarimba” foi cunhado na Venezuela para referir-se a
ações de guerrilha, emboscadas. Surgiu durante a ditadura de Marcos Perez
Jimenez (1952-1953). À época, a resistência à ditadura, organizada por membros
do partido comunista venezuelano, utilizava táticas como a que se viu no ano
passado.
O Comitê de Victimas de las Guarimbas atua em protesto contra a
iniciativa da trinca Lopez, Ledezma e Corina Machado de incendiar o país e
gerar dezenas de mortos dos dois lados do conflito. É integrado, inclusive, por
familiares e amigos de vítimas dos protestos que se opunham ao governo.
Abaixo, vídeo no qual mostra audiência no Legislativo venezuelano
no qual aquele Comitê apresentou suas denúncias.
Pouco antes da visita à Venezuela de senadores brasileiros de
oposição ao governo Dilma Rousseff, o Comitê de Victimas de las Guarimbas
divulgou nota de repúdio à iniciativa devido ao fato de que os oposicionistas
brasileiros se recusaram a ouvir, também, suas razões.
Confira, abaixo, a íntegra da nota
Ante a visita que realizarão a nosso país alguns representantes da
Comissão de Senadores da República Federativa do Brasil, encabezada pelo
ex-candidato presidencial e senador Aécio Neves, as vítimas e familiares de
vítimas dos atos de violência política que ocorreram na Venezuela no ano de
2014, comunicamos o seguinte:
Rechaçamos que esses
senadores brasileiros advoguem pela libertação dos antores materiais e
intelectuais dos atos de violência política que ocorreram em nosso país durante
os meses de fevereiro a junho de 2014, especialmente de Leopoldo López e outros
dirigentes políticos que promoveram o plano insurrecional “A Saída”, que gerou
a morte de 43 pessoas e 878 feridos.
Condenamos a intromissão
dos representantes da Comissão de Senadores da República Federativa do Brasil,
encabeçada pelo ex-candidato presidencial e senador Aécio Neves, que busca
promover a impunidado para os responsáveis por tão graves acontecimentos.
Exigimos que não continuem
usando o tema “direitos humanos” como instrumento político para tentar
justificar e legitimar atos que constituem verdadeiros atos de violência e
delitos, e que não tentem “invisibilizar” as vítimas da violência instigada
politicamente por setores radicais da oposição venezuelana.
Solicitamos a essa
Comissão de Senadores do Brasil que aceite uma reunião com as vítimas e
familiares de vítimas que este Comitê reúne para conhecerem os testemunhos de
todas as famílias afetadas por atos delitivos.
Exortamos as autoridades
do Estado venezuelano a rechaçarem as pressões que por diversas vias intentam
gerar, e a manterem-se firmes em sua vontade de fazer justiça para as vítimas e
deo penalijzar a todas as pessoas envolvidas nos lamentáveis
acontecimentos, incluindo Leopoldo López e Daniel Ceballos.
Em Caracas, aos 17 dias do
mês junho de 2015.
/ORODRÍGUEZ
Após a visita dos senadores brasileiros, o grupo informou que eles
nem mesmo responderam ao pedido de reunião do Comitê de Vítimas dos protestos
de 2014, demonstrando clara intenção de tomar partido no processo político
venezuelano, contrariando dispositivos do Parlasul, o Parlamento do Mercosul.
O fato, opina este Blog, é que nenhum país democrático admite
ingerência de países estrangeiros em sua política interna. Nesse aspecto, o
grupo de senadores brasileiros que viajou à Venezuela não esteve revestido de
qualquer legitimidade e, mais, constituiu um movimento ilegal de ingerência
estrangeira na política interna daquele país.
Imagine você, caro leitor, se um grupo de senadores Venezuelanos
decidisse visitar os réus do julgamento do mensalão dando declarações públicas
de que seriam “presos políticos”.
Para o bem ou para o mal, José Dirceu, José Genoíno e outros
condenados pelo STF na Ação Penal 470 foram presos em um processo legal, assim
como ocorre com os autores intelectuais e materiais (inclusive) de um processo
na Venezuela que ceifou dezenas de vidas e causou graves prejuízos econômicos
ao país.
É óbvio que se isso acontecesse a direita brasileira faria um
escândalo. A oposição e a mídia exortariam o Estado brasileiro a não permitir
ingerência externa no país. Até por isso, nunca nenhuma nação, mesmo vendo o
julgamento do mensalão como um processo político, jamais ousou interferir em
nossas questões internas.
Se há processo que está gerando presos políticos, portanto, esse
processo não está ocorrendo na Venezuela, mas no Brasil, onde um partido e seus
membros estão sendo agredidos por grupos de extrema direita nas ruas e a
Justiça está sendo usada para perseguição política.
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