Como será o dia seguinte à redução da maioridade penal ?
por Leonardo Sakamoto
O que vai
acontecer tão logo o Congresso Nacional aprove (nesta tarde, dia trinta) a
redução da maioridade penal para 16 anos?
Vamos nos enrolar
em nosso cobertor de ignorância e hipocrisia e sair quentinho pelas ruas achando que estamos seguros.
Problemas
estruturais precisam de soluções estruturais e não medidas pontuais. Não é
simplesmente punindo o jovem em desacordo com a lei, mas também criando
condições para que ele não caia nas
graças da criminalidade.
Caso
contrário, o problema se reorganiza após a mudança da lei. Por exemplo,
trazendo jovens de 15 anos para fazerem parte de roubos e serem culpados
pelos crimes. E, assim, sobrevive.
Quem ganha com isso? Políticos,
comunicadores e falsos profetas que oferecem gratuitamente o discurso do medo,
viciando a sociedade, que depois ficará ansiosa para comprar as soluções
simplistas que prometem paz e tranquilidade.
Soluções
vendidas, aliás, por esses mesmos atores sociais, ao custo de “votem em mim”, “assistam ao meu programa”, “venham à minha igreja”.
Desse
ponto de vista, qual a diferença entre alguns dos membros dessa Santíssima
Trindade do Medo e aqueles que usam jovens para cometer crimes, uma vez que
ambos os grupos lucram horrores com a exploração da violência?
Há jovens
que não têm nada a perder porque nada tiveram. E os que podem perder muito,
mas, sinceramente, não se importam, porque nós não nos importamos como eles
quando deveríamos.
E há, é
claro, os casos patológicos, cuja prevenção é difícil ou mesmo impossível. Ou
alguém acha que um maluco que abre fogo contra uma igreja em nome da supremacia
branca, como aconteceu nos Estados Unidos, ou alguém massacra crianças de uma
escola, como ocorreu em Realengo, no Rio de Janeiro, pensa na punição que vai sofrer?
Tenho medo
de indivíduos que assaltam, roubam e matam, mas também tenho medo de uma sociedade maníaca que não fala,
apenas rosna diante do desconhecido. Pois essa sociedade cisma em não
se diferenciar de seus ancestrais que tacavam pedras no escuro porque
temiam a noite.
Em
momentos de emoção extrema, buscamos soluções simples para diminuir a
perplexidade, saídas para preencher a falta de sentido e tapar o buraco deixado
pela perda
individual ou coletiva.
O problema
é que elas não são úteis para resolver problemas estruturais, nem mesmo para
contribuir com os processos simbólicos de luto e cura. Ajudam, contudo, naquela
sede de vingança que carregamos desde sempre.
Por que não elevar a pena para quem se
associa a jovens com menos de 18 anos para cometer crimes? Porque
precisamos de sangue desses jovens.
São nos
momentos de emoção extrema que nossa racionalidade é colocada à prova. Ou seja,
que somos chamados a provar que deixamos de ser uma horda tresloucada que segue
um único instinto, o medo.
A sensação de insegurança pode levar à raiva, à
vingança e à mais violência.
Ou a uma
reflexão que gere mudanças estruturais possíveis, mas difíceis, como garantir
uma vida melhor para a juventude no Brasil, evitando assim o problema antes
dele acontecer.
O que
escolheremos? O que veremos no espelho no dia
seguinte?
ATENÇÃO: as palavras na cor vermelha constam originariamente no texto, mas os destaques são deste BLOGUEIRO.
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