Como todo mundo que tem ao menos algum resquício de senso de
justiça, fiquei satisfeito com a entrevista que Jô Soares fez com Dilma
Rousseff na última sexta-feira (12/6), no Palácio da Alvorada, residência
oficial da presidente da República.
Ainda que alguns analistas
realmente independentes tenham avaliado que o humorista e apresentador “pegou
leve” com a entrevistada, entendo que a iniciativa dele pretendeu dar voz a
quem não tem tido por conta do massacre fascista de que tem sido alvo, de forma
que ele a deixou se expressar mais livremente.
Quem quiser assistir ou rever a
entrevista antes de continuar lendo o post, pode fazê-lo no vídeo abaixo – ou
pode voltar a este ponto ao fim da leitura.
Claro que, no atual momento político, já era esperado que Jô
entrevistasse Dilma civilizadamente – pois há algum tempo ele vem se
posicionando em defesa dela – e que, após a entrevista, os famigerados
fanáticos de extrema-direita tratassem de agredir a ambos.
O ponto de vista deste blogueiro
sobre uma entrevista ideal é aquela em que o entrevistador faz ao entrevistado
perguntas que ele possa responder, não perguntas que não passem de provocações,
pois, aí, não há entrevista e, sim, debate.
Só para ilustrar a questão,
confira, no vídeo abaixo, como foi que entrevistei a presidente, ano passado. O
áudio está um pouco ruim, mas quem tiver um bom equipamento conseguirá ouvir.
Como se pode notar, apesar de ter feito uma questão que alguns
dirão ser favorável à então candidata à reeleição, houve, sim, um
questionamento. Critiquei o mutismo do governo e inclusive da presidente no que
diz respeito ao contraponto que precisava ser feito aos ataques da mídia. A
pergunta, basicamente, foi a seguinte:
— O seu segundo governo
continuará apanhando calado?
Nesse aspecto, portanto, acho que
Jô fez as perguntas certas. Apresentou questões que os antagonistas da
presidente fazem e a deixou dar a sua versão dos fatos.
Claro que um certo jornalismo –
coincidentemente, praticado pela mesma emissora que emprega Jô Soares – não
costuma agir assim – todos se lembram da entrevista feita pelo âncora do Jornal
Nacional, William Bonner, durante a eleição presidencial do ano passado, em que
não deixava a entrevistada sequer responder às questões que fazia em tom que,
longe de questionador, foi, literalmente, insolente.
Isso que você assistiu acima – se é que teve estômago para rever –
não é entrevista e muito menos jornalismo; é debate político.
Não
me darei ao mau-gosto de reproduzir os piores ataques que Jô Soares recebeu,
pois a grande maioria foi agressiva não só à primeira mandatária da nação, mas,
também, ao gênero feminino. Mas alguns exemplos mais “suaves” podem ser
mostrados.
Como chegamos a isso? O que está acontecendo com Jô deveria servir
de exemplo a todos os comunicadores que hoje se unem a essa onda fascista; no
futuro, se contrariarem esses fanáticos, já sabem o que os espera.
Mas o fato é que não se pode
negar que Jô, apesar de ter sido corajoso em sair em defesa de Dilma, tem
responsabilidade pelo que aconteceu e eu nem preciso dizer por que.
Mas, assim mesmo, direi: por que,
diabos, ele inventou o quadro antipetista “As Meninas do Jô”? Ou melhor: por
que montou esse quadro com a configuração que vem se estendendo através dos
anos, com “petefóbicas” como Lilian Witte Fibbe, Ana Maria Tahan ou Lucia
Hippolito?
Todos se lembram muito bem do que
elas fizeram ao longo dos anos, nesse quadro. No julgamento do mensalão, por
exemplo, foi um massacre. Histriônicas, partidarizadas, transformaram o
programa do Jô em uma sessão de masturbação antipetista.
É óbvio que ajudaram a inocular
veneno nas mentes frágeis desses fanáticos que vilipendiaram como puderam o
apresentador por ter entrevistado a presidente da República com respeito e
seriedade.
Não acredito que Jô não pudesse
ter ao menos colocado jornalistas menos partidarizadas nesse quadro. Poderia
ter convidado, talvez, uma Cynara Menezes, à época colunista da Carta Capital,
por exemplo, para integrar aquela bancada feminina de analistas políticas.
Lamento
pelo Jô, pelos ataques que sofreu e pela mais do que provável demissão que o
aguarda ao fim do contrato com a Globo, ano que vem. Mas não consigo entender
por que ele serviu por tanto tempo a essa máfia midiática e só agora decidiu se
rebelar.
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