Uma
pesquisa Ibope, escondida pela mídia, revela que muitos brasileiros veem o
jornalismo empenhado em aderir ao “quanto pior melhor”
por Mauricio Dias — publicado 13/06/2015 08h12
Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, fora das quatro
linhas onde conquistou, por méritos, o título de rei do futebol, pisa na bola
com frequência. Ainda agora se meteu no escândalo da Fifa e manifestou apoio a Joseph Blatter, presidente renunciatário daquela
entidade internacional corroída pela corrupção.
Nem de
longe, no entanto, essa foi a pior interferência do jogador nas questões
políticas. Durante a ditadura no Brasil, o Rei Pelé lançou um édito: “O povo
brasileiro não está preparado para votar”.
Pelé fez um
golaço. Daquela vez, já fora de campo, um golaço contra.
O eleitor
brasileiro, ao contrário do que pensa Pelé, tem muito mais acertos do que
erros, levando em consideração, por exemplo, as 11 eleições presidenciais
diretas ocorridas ao longo dos últimos 70 anos da República. Sobre isso ele
nada sabe e, para opinar, deveria saber. A afirmação de Pelé reflete a posição
daqueles observadores movidos, em geral, pela ignorância ou pelo preconceito.
O povo não
é bobo. A mais recente comprovação da correta percepção popular está nos
números de uma pesquisa Ibope, feita em maio, sobre temas políticos e administrativos.
A mídia silenciou sobre o assunto quando bateu de frente com a resposta dada à
seguinte questão proposta ao entrevistado:
“A imprensa
brasileira mostra o País numa situação econômica mais negativa do que a que
percebo no meu dia a dia”.
O Ibope admite a influência da mídia “no
sentimento de pessimismo dos brasileiros”. O instituto apoia-se no
expressivo número de 41% dos entrevistados que acreditam nisso. Ou seja, “a
imprensa mostra uma situação econômica mais negativa” do que parece ser.
Existe uma
crise econômica inegável e o jornalismo não é por natureza mensageiro da
bem-aventurança. É de Rubem Braga, o grande cronista, uma afirmação radical
sobre isso: felicidade não dá manchete.
Apesar do
bombardeio diário contra o governo, muitas vezes sem comprometimento com os
fatos, desponta na resposta da maioria da população a restrição ao papel da
mídia. Ela parece torcer contra e jogar na posição do quanto pior melhor.
Os entrevistados reconhecem isso. Por
outro lado, andam, porém, mergulhados na descrença sobre o futuro do País
porque vê e sente o desemprego em crescimento e a inflação em alta.
Entretanto,
o problema neste caso não está contaminado pelo viés político-ideológico.
A mídia tem
o direito de ser conservadora, reacionária ou o que mais quiser. Só não pode
ser desonesta e esconder do leitor um fato, como o agora relatado, no fundo da
gaveta.
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