O tamanho do ódio
por Marcos Coimbra — publicado 14/06/2015
08h33, última modificação 14/06/2015 08h33
Pesquisa recente do Vox Populi aponta: o eleitorado que diz detestar o
PT representa 12% do total. Não é pouco, mas menos do que muitos imaginam
Nestes tempos em que a intolerância, o preconceito e o ódio se tornaram parte de nosso cotidiano político, é fácil se assustar. É tão grande quanto parece a onda autoritária em formação?
Quem se expõe aos meios de comunicação corre o
risco de nada entender, pois só toma contato com o que pensa um lado. Será
majoritária a parcela da opinião pública que se regozija ao ouvir os líderes
conservadores e assistir aos comentaristas da televisão despejar seu ódio?
Recente pesquisa do Instituto Vox Populi permite
responder a algumas dessas perguntas. E seus resultados ensejam otimismo: o ódio na política atinge
um segmento menor do que se poderia imaginar. O Diabo talvez não seja tão feio
como se pinta.
Em vez de perguntar a
respeito de simpatias ou antipatias partidárias, na pesquisa foi pedido aos
entrevistados que dissessem se “detestavam o PT”, “não gostavam do PT, mas sem detestá-lo”, “eram
indiferentes ao partido”, “gostavam do PT, sem se sentir petistas” ou
“sentiam-se petistas”.
Os resultados indicam: permanecem
fundamentalmente inalteradas as proporções de “petistas” (em graus diversos),
“antipetistas” (mais ou menos hostis ao partido) e “indiferentes” (os que não
são uma coisa ou outra), cada qual com cerca de um terço do eleitorado. Vinte e
cinco anos depois de o PT firmar-se nacionalmente e apesar de tudo o que
aconteceu de lá para cá, pouca coisa mudou nesse aspecto.
Nessa análise, interessam-nos aqueles que
“detestam o PT”. São 12% do total dos entrevistados. Esse contingente tem,
claro, tamanho significativo. A existência de cerca de 10% do eleitorado que
diz “detestar” um partido político não é pouco, mas é um número bem menor do
que seria esperado se levarmos em conta a intensidade e a duração da campanha
contra a legenda.
A contraparte dos 12% a detestar o PT são os
quase 90% que não o detestam. Passada quase uma década de “denúncias” (o
“mensalão” como pontapé inicial) e após três anos de bombardeio antipetista
ininterrupto (do “julgamento do mensalão” a este momento), a vasta maioria da
população não parece haver sido contagiada pelo ódio ao partido.
A pesquisa não perguntou há
quanto tempo quem detesta o PT se sente assim. Mas é razoável supor que muitos
são antipetistas de carteirinha. A proporção de entrevistados com aversão ao
partido é maior entre indivíduos mais velhos, outro sinal de que é modesto o
impacto na sociedade da militância antipetista da mídia.
Como seria de esperar, o
ódio ao PT não se distribui de maneira homogênea. Em termos regionais, atinge o
ápice no Sul (onde alcança 17%) e o mínimo no Nordeste (onde é de 8%). É maior
nas capitais (no patamar de 17%) que no interior (4% em áreas rurais). É
ligeiramente mais comum entre homens (14%) que mulheres (10%). Detestam a
legenda 20% dos entrevistados com renda familiar maior que cinco salários
mínimos, quase três vezes mais que entre quem ganha até dois salários. É a
diferença mais dilatada apontada pela pesquisa, o que sugere que esse ódio tem
um real componente de classe.
Na pesquisa, o recorte mais antipetista é
formado pelo eleitorado de renda elevada das capitais do Sudeste. E o que menos
odeia o PT é o dos eleitores de renda baixa de municípios menores do Nordeste.
No primeiro, 21% dos entrevistados, em média, detestam o PT. No segundo, a
proporção cai para 6%.
Não vamos de 0 a 100% em nenhuma parte. A sociologia, portanto, não explica
tudo: não há lugares onde todos detestam o PT ou lugares onde todos são
petistas, por mais determinantes que possam ser as condições socioeconômicas.
Há um significativo componente propriamente político na explicação desses
fenômenos.
O principal: mesmo no ambiente mais propício,
o ódio ao PT é minoritário e contamina apenas um quinto da população. Daí se
extraem duas consequências. Erra a oposição ao fincar sua bandeira na minoria
visceralmente antipetista. Querer representá-la pode até ser legítimo, mas é
burro, se o projeto for vencer eleições majoritárias.
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