Amputado e sem dinheiro, cantor diz ter sido abandonado pelos amigos
Se
uma pessoa chegar em Arapiraca e perguntar quem é José Moraes dos
Santos, certamente pouquíssimas pessoas saberão de quem se trata. Mas,
se essa mesma pessoa perguntar quem é Pastel do Brega, é praticamente
impossível alguém dizer que não o conhece.
Com 9 CD’s gravados na carreira, a vida
do músico popular Pastel do Brega tomou um rumo trágico no último dia 5
de março, após ele ter sido atropelado por uma motocicleta na cidade de
São Sebastião. Socorrido para a Unidade de Emergência do Agreste, o
cantor teve parte de uma de suas pernas amputada, devido à gravidade
dos ferimentos.
Hoje, em cima de uma cama e
recuperando-se dos ferimentos da outra perna, Pastel diz ter sido
abandonado pelos amigos. “Nesses meus quase 20 anos de carreira achei
que tinha feito muitas amizades por onde andei. Mas a gente só sabe
quem são os verdadeiros amigos nos momentos em que mais precisamos
deles. Lamento chegar à conclusão de que não tenho amigos”, disse o
cantor.
Pastel do Brega mora na casa deixada
pela mãe e na companhia de outros três irmãos. Um deles sofre sérios
problemas neurológicos e vive em estado praticamente vegetativo,
acamado e usando fraldas geriátricas. Os outros dois estão
desempregados, sendo que um é de idade avançada. Para piorar ainda mais
a situação, a mãe do cantor faleceu no período em que ele estava
internado na UE do Agreste. Ela lutava contra um câncer e não teve
condições de visitar o filho no hospital.
A renda da família resumia-se a
aposentadoria da mãe e dos CD’s vendidos pelo cantor estrada afora.
Agora, sem dinheiro e sem amigos, Pastel do Brega e sua família
sobrevivem da ajuda de vizinhos e pessoas desconhecidas. Durante a
entrevista, concedida no período da tarde, o cantor revelou à equipe de
reportagem do Minuto Arapiraca que ainda não tinha se alimentado e
estava com muita fome. “Já são três horas da tarde e ainda não comi
nada, pois o meu botijão de gás secou há três dias. Pela manhã tomei um
copo de leite para ir me segurando. Não gosto de incomodar os
vizinhos”, disse o cantor, com os olhos cheios de lágrimas.
VISITA DE CANDIDATOS
O cantor disse ainda que nos últimos dias recebeu a vista de alguns candidatos, que disputarão as eleições deste ano em Arapiraca. “Essas pessoas chegaram aqui sorridentes e cheias de promessas. Uma delas chegou a me prometer uma prótese, mas sei que isso não passa de conversa bonita de campanha. Abraços e beijos não matam minha fome”, disparou Pastel.
Otimista, o cantor disse ainda que
voltará a fazer suas apresentações e cair na estrada para vender seus
CD’s. “Esse é apenas um momento difícil, uma provação que estou
passando em minha vida. Mas sei que algo especial me aguarda num futuro
muito próximo. Com fé em Deus sairei desta cama e voltarei a ter uma
vida quase normal”, disse.
Após o acidente, uma irmã do cantor
assumiu a responsabilidade de dar entrada nos processos junto ao
Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), que deverão garantir o
recebimento de proventos da aposentadoria por invalidez.
A TRAJETÓRIA
Aos 48 anos de idade, Pastel do Brega embalou sua carreira nas canções de Amado Batista e Adelino Nascimento. Sua história começou em 1962, ano em que nasceu na zona rural de Limoeiro de Anadia. O garoto pobre, filho de um servente de pedreiro e de uma dona-de-casa, sempre encontrou na música o refúgio para espantar todos os problemas da sofrida infância.
Aos 10 anos, para ajudar nas despesas
de casa, o menino José Moraes começou a vender, na rua, os pastéis que
sua mãe fazia. Ele saía todas as manhãs com uma caixa de isopor cheia
de pastéis e só retornava no início da tarde, geralmente com uma boa
quantia em dinheiro e a caixa vazia.
Tudo ia bem até que o garoto simples,
mas de boa pinta, passou a atrair a atenção de algumas estudantes das
escolas onde ele vendia seus pastéis. Envergonhado por ser visto pelas
garotas como um simples vendedor de pastéis, as vendas começassem a
entrar em declínio. A partir daí o garoto passou a não andar mais nas
escolas e, consequentemente, perdeu toda a freguesia.
“Passei a me sentir muito envergonhado
ao chegar com uma caixa de pastéis nas escolas onde tinha as
paquerinhas. Por imaturidade, eu me sentia um ser inferior, visto que
os demais garotos de minha idade estavam todos fardados e estudando”,
frisou Pastel.
A partir daí, o menino passou a
trabalhar como servente de pedreiro e pintor, ao lado do pai. Nos dias
de folga e finais de semana, reunia os amigos para conversar e cantar
na porta de casa e numa praça próxima. Dono de um tom afinado e letras
puxando o romantismo, rapidamente passou a ser alvo de elogios por
parte dos amigos, o que o estimulou a fazer pequenas apresentações na
rua.
O número de apresentações foi crescendo
e chegou a hora de adotar um nome artístico. Nesse momento veio a idéia
do Pastel do Brega, em alusão ao seu trabalho de infância e o estilo
musical que amava. No ano de 1995, realizou, em Palmeira dos Índios, o
seu primeiro grande show musical. Era o início de uma carreira que
tinha tudo para dar certo.
No mesmo ano, Pastel do Brega gravou
uma fita cassete em estúdio profissional. Como seu nome estava em
evidência, foram vendidas mais de 3 mil cópias. Empolgado com o sucesso
que nem ele esperava, partiu para a gravação de um CD, que também foi
bastante vendido. “Entrar num estúdio foi um momento mágico pra mim”.
Foram várias apresentações pelo
interior de Alagoas e Sergipe, inclusive abrindo shows de bandas
consagradas como Mastruz com Leite, Magníficos e Baby Som. Um dos
momentos mais marcantes de sua carreira foi o show que comandou ao lado
de Adelino Nascimento e Cheiroso. O som brega-romântico de Pastel do
Brega também já atraiu 12 mil pessoas no Parque Ceci Cunha, durante a
abertura do show da banda Baby Som no ano de 2004. Na televisão, Pastel
se apresentou em programas da TV Diário, em Fortaleza, e da TV Gazeta
de Alagoas, no programa do Pell Marques, no início da década de 90. No
rádio, já participou do programa Show do Mução, pela Rede Som Zoom Sat
de Fortaleza.
O cantor emplacou sucessos marcantes,
que até hoje permanecem na memória dos amantes do estilo brega. Um dos
grandes sucessos foi a música Chevette 76, uma composição de Nivaldo
Santos que, em meados de 1996 e 1997 virou uma febre nas rádios
nordestinas. O cantor ainda emplacou sucessos como Clone do Lobisomem e
Brega Gostoso.
No auge da carreira, Pastel do Brega
chegou a ganhar muito dinheiro e fama, mas o vício do álcool o fez
perder as boas oportunidades da vida. Ultimamente, o cantor sobrevivia
vendendo CD’s nas ruas de Arapiraca e cidades vizinhas, além de
Sergipe. As viagens eram feitas através de caronas nas boléias de
caminhões. Um dos seus maiores sonhos é gravar um DVD, mas para isso,
nunca recebeu o apoio de políticos e empresários arapiraquenses.
Seus CD’s eram gravados de forma
pirata, o que já lhe rendeu uma punição. Certa vez, durante uma
operação policial de combate à pirataria no município de São Sebastião,
Pastel do Brega teve todos os CD’s apreendidos.
Quem tiver interesse em ajudar o
artista basta ir até a sua residência, localizada na Rua André Leão,
327, no bairro Brasília ou através do telefone (82) 9647-9164.
por Adalberto Custódio
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