sábado, 4 de agosto de 2012

O Globo: cara nova, velha carcaça

 

Luciano Rezende *

O jornal O Globo inaugurou seu novo desenho neste último domingo (29/07).


Na véspera do lançamento, reuniu 500 convidados em uma solenidade no Copacabana Palace, onde foi apresentado seu novo projeto gráfico. Com direito a um show de luzes e sons, foi exposta uma série de capas históricas, todas muito bem selecionadas para
o distinto público presente. Mas para ser fiel à sua história, ficou faltando aquelas relacionadas ao apoio escancarado à ditadura militar, principalmente a que festejou o golpe militar de 1964.

Seu vice-presidente, João Roberto Marinho, iniciou o discurso lembrando os princípios editoriais das Organizações Globo. Marinho destacou aquilo que define como sendo a visão de jornalismo de O Globo: “Dizemos que jornalismo é o conjunto de atividades que, segundo certas regras e princípios, produz o primeiro conhecimento sobre fatos e pessoas. O que a gente procura fazer no nosso cotidiano é isso: produzir um primeiro conhecimento do que ocorreu e buscar ajudar as pessoas
com o entendimento dos fatos e das suas conseqüências”, disse. Mas quais são mesmo estas “certas regras e princípios” de O Globo?

O “primeiro conhecimento” que menciona é aquele exposto sob a visão de classe dos Marinhos, de acordo com a conveniência do grupo que historicamente foi financiado por governos de direita e patrocinado por poderosas corporações privadas.

O que é conveniente se conhece, o que não é se esquece. E se pra muitos a primeira impressão é a que fica, melhor caprichar na notícia. E que ajuda é essa que oferecem?
Não seria melhor apenas divulgar os fatos e deixar para o eleitor a tarefa de interpretar?

O fato é que na primeira edição em que aparece de cara nova, o velho espírito golpista e manipulador permanece intocável. Na edição histórica, as manchetes evocam o que consideram “Um julgamento para a história”. “Mensalão desviou R$ 101
milhões”, prosseguem. E se lança ao ataque, com toda a metralha que lhe é peculiar, visando mais uma vez influir na campanha eleitoral, como fez escandalosamente com Collor na corrida presencial de 1989 e em tantos outros episódios sombrios de nossa
história mais recente.

De roupa nova, mas com a carcaça carcomida, O Globo reivindica ser a voz da “opinião pública” (melhor seria da oposição pública) que Fernando Henrique agora tanto exalta e pleiteia ser considerada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento
do “Mensalão”. Mas essa mesma “opinião pública” forjada por O Globo, silencia-se em relação a documentos que mostram o chamado caixa 2 da campanha da reeleição do tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais em 1998. É o primeiro (e último) conhecimento de O Globo mais uma vez em ação.

“Um Julgamento Para a História” narrado a partir do ponto de vista de um lado desta “história”. O lado das elites golpistas de nosso país. A mesma que celebrou a queda de Allende no Chile e festejou a ascensão dos militares no Brasil. De cara nova, mas com o mesmo espírito de sempre, segue gastando tinta em seus propósitos mais torpes e serviçais em prol da burguesia decadente que representa.


* Engenheiro Agrônomo, mestre em Entomologia e doutor em Fitotecnia (Melhoramento Genético de Plantas). Professor do Instituto Federal Fluminense (IFF)

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