Fui agredido pelo
repórter do Estado de S. Paulo
por Ravi Novaes
Ontem (dia
19), após trabalhar o dia inteiro (sou professor), fui para o cruzamento da
Rebouças com a Faria Lima participar da manifestação contra o aumento da tarifa
de ônibus e metrô. Cheguei atrasado pois o ônibus demorou, mas consegui
somar-me ao Ato. A manifestação seguiu para o centro e extendeu-se até
aproximadamente 21h30, quando se iniciou a dispersão em frente à prefeitura.
Ao sair da
manifestação marquei de tomar cerveja com um casal de amigos que mora no
Centro, escolhemos parar na lanchonete Esquina da 7, no encontro da rua 7 de
abril com a Dom José de Barros. Por volta das 22h ocupamos uma mesa e pedimos
um balde com quatro cervejas.
Abrimos a
primeira e pedi um lanche, quando destampamos a segunda, e meu sanduíche estava
chegando, vi que algumas pessoas que tentaram pegar metrô na República
voltavam: a estação estava fechada e havia muitos policiais no local. Minutos
depois ouvimos o que pareceu ser o estouro de uma bomba (não ocorreu em nosso
campo de visão), em seguida algumas pessoas chegaram e atearam fogo em sacos de
lixo localizados próximos ao nosso local, o que nos fez levantar da mesa na
calçada e sentar no degrau de entrada do estabelecimento; alguns clientes
entraram na lanchonete apreensivos, mas nós estávamos tranquilos assistindo ao
que se passava no cruzamento.
Quando
abrimos a terceira garrafa as pessoas que atearam o fogo já haviam saído, mas o
lixo continuava a queimar. Alguns clientes foram, aos poucos, voltando para
suas mesas, outros permaneceram no interior do prédio. Nós optamos por
continuar sentados no degrau, de frente para a fogueira.
Nesse
momento, aproximadamente 23hs, chegaram, com diferença de instantes, muitos
fotógrafos, para registrar o lixo queimando, e vários policiais. Um sujeito
branco, de porte médio, barba clara e aparada veio falar conosco. Tinha nas
mãos um bloco de notas e uma caneta. Perguntou se toparíamos dar-lhe uma
entrevista para dizer como aquilo começou, ficamos em dúvida até que minha
amiga resolveu o dilema perguntando para qual veículo de comunicação era a
entrevista. Ao dizer: o Estado de São Paulo decidimos: não daríamos entrevista.
O repórter
indignado, perguntou: "só pelo jornal no qual eu trabalho?! "Dissemos
que sim, era por isso mesmo. Não satisfeito ele insistiu, então nós e outras
pessoas do bar demos qualquer resposta para que ele parasse de nos importunar:
“quando vimos já estava pegando fogo”, “foi combustão espontânea, igual no
cerrado” alguém disse.
O
repórter, furioso, demonstrou (quase) toda sua falta de profissionalismo e nos
gritou: “VÃO TOMAR NO CU!” virando então as costas enquanto guardava seu bloco
e caneta. Eu, que era o que de nós três estava mais próximo dele (fiquei
durante todo o incidente sentado na escada) considerando a entonação, não o
conteúdo do grito, uma ofensa, rindo retribui os votos: “vá você também que
pode ser bom!”. Então, nessa hora, o repórter do Estado, que depois
identificamos ser Bruno Ribeiro, fez meia volta e avançou para me dar um soco
no rosto, de cima para baixo (ele estava em pé e eu sentado). Por um resquício
de bom senso, que o jornalista até então não havia demonstrado, Bruno Ribeiro,
repórter do Estado, parou sua mão a poucos centímetros do meu nariz. Fiquei tão
surpreso quanto os demais clientes e funcionários da lanchonete.
Nessa
pausa ele se virou rápido e foi embora pisando duro. Ainda tive tempo de
parabenizá-lo pela falta de profissionalismo, digna da pior imprensa marrom que
há. Quando finalmente me levantei da escada e perguntei pelo repórter, clientes
e funcionários do local disseram que ele havia “fugido”.
Abrimos a
quarta cerveja e a terminamos enquanto tentávamos entender o quê havia
acontecido. Então partimos. Hoje pela manhã (dia 20) eu e alguns amigos fomos
atrás de identificar o agressor. Conversamos sobre quais as medidas cabíveis
que poderíamos tomar; uma de minhas decisões foi escrever este depoimento para
expor o ocorrido.
Considerações
Tenho o
direito, assim como qualquer cidadão, a recusar entrevista para um veículo de
comunicação. Nesse caso eu não queria meu depoimento legitimando a linha
editorial, historicamente enviesada, do Estadão na cobertura das manifestações
contra os aumentos da tarifa.
Identificamos
o repórter agressor, trata-se de Bruno Ribeiro, jornalista do Estado de São
Paulo que cobriu o 4º ato contra o aumento “ao vivo”. Sua atitude traz uma
postura comum aos detentores de privilégio, que acreditam poder impor suas
vontades a base de força física e intimidação. Em meus 12 anos de militância
junto a movimentos sociais não me lembro de presenciar ao vivo uma atitude tão
arrogante por parte de um jornalista (embora acredite que como Bruno Ribeiro
existam vários). O desfecho dos acontecimentos (a intimidação e o soco) apenas
reafirmaram o acerto de nossa primeira decisão, de recusar entrevista.
Por fim,
dedico este depoimento aos bons jornalistas, tive o prazer de conhecer muitos
nesses últimos anos, e aguardo do repórter Bruno Ribeiro e do Estado de São Paulo
retratação pública sobre o ocorrido.
Peço a
todos que divulguem este depoimento para que fique conhecido o jornalista que
protagonizou essa cena patética e assim mais pessoas possam precaver-se quanto
à conduta infantil, autoritária e anti-profissional que Bruno Ribeiro
demonstrou praticar.
São Paulo,
capital, quarta-feira, 20 de janeiro de 2016.
Ravi Novaes é Professor formado em
Artes Visuais pela USP.
Postado no Blog
do Miguel do Rosário formado em Comunicação Social pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro – UERJ.
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