Polícia fecha o cerco ao ninho tucano, mas imprensa finge que não vê
A mídia tradicional 'martela' com o assunto Petrobras e esquece a corrupção em São Paulo. Debater financiamento empresarial de campanha também deveria receber a mesma ênfase
por Helena Sthephanowitz, para a RBA
DIVULGAÇÃO
Desvios em obras de transportes sobre trilhos em SP não têm a mesma atenção da mídia: tática desgastada contra governo
O jornal Folha de S. Paulo denuncia que planilhas
apreendidas pela Polícia Federal na sede da empreiteira Queiroz Galvão, na
capital paulista, mostram que a empresa vincula valores recebidos por obras
públicas a doações eleitorais para partidos e candidatos de oposição ao governo federal. O
material foi obtido no âmbito da sétima fase da Operação Lava Jato, chamada de
Juízo Final, que investiga denúncias de desvio de recursos de obras e pagamento
de propinas por empresas a funcionários da Petrobras.
De acordo com a planilha, datada de 2014,
para chegar ao valor da doação ao político a empreiteira fazia um cálculo sobre
o valor recebido por determinada obra.
Segundo a reportagem, um dos registros dos
papeis encontrados, nomeado como "VLT" – uma provável referência ao
Veículo Leve sobre Trilhos da Baixada Santista, obra realizada pelo governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), por meio da EMTU (Empresa Metropolitana
de Transportes Urbanos), é possível perceber a aplicação de uma fórmula sobre o
"recebimento acumulado" até medição de junho de 2014, para que a
empreiteira chegasse ao valor que seria destinado a "doações".
Após descontos, o valor aparece na
planilha como sendo de "117.500", possivelmente R$ 117,5 milhões,
sobre o qual incidia o cálculo: 1,5% vezes 66% (percentual já recebido pela
obra), resultando numa doação de R$ 1,16 milhão. Esse valor constituía uma
"ProfPart" (sigla usada na planilha), que a Queiroz Galvão reconheceu
ser uma "Provisão Financeira para o PSDB".
Em outra planilha apreendida junto com a
primeira, esse exato valor é atribuído ao "PSDB nacional". Outros
políticos destinatários de possíveis doações aparecem na planilha, com
iniciais.
Segundo dados do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), a empreiteira doou R$ 3,7 milhões ao diretório nacional do
PSDB nas eleições de 2014.
A Queiroz Galvão explicou outras iniciais
na planilha: "J.S." é o senador eleito José Serra (PSDB-SP), "P.S." é
o candidato do PMDB ao governo Paulo Skaf e "E.A." é o presidente da
Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Há outros valores
associados a outras obras realizadas em São Paulo, como o CSS (Contorno de São
Sebastião) e CEML (Consórcio Monotrilho Leste), realizados pelo governo de São
Paulo, mas com dinheiro do governo federal.
No entanto a imprensa não
"martela" esse tipo de notícia na cabeça do leitor, o excessivo
bombardeio ao governo federal no noticiário, funcionando como artilharia para a oposição partidária, começa a dar
sinais de fadiga de material. Ou seja, provoca cansaço no próprio leitor e
telespectador, com consequente ceticismo em vez de chegar ao objetivo dos
editores: levar a população ao sentimento antigoverno.
É absolutamente desejável em democracias
sólidas que notícias de corrupção façam parte do cotidiano e sejam divulgadas
com total transparência, da mesma forma que existe o noticiário policial, onde
todo dia há notícias de crimes e criminosos. Funcionários públicos, maus
policiais, políticos, juízes, procuradores, seja quem for que de fato cometa
crimes, e corrupção é um deles, não há por que ser blindado no noticiário.
Mas no noticiário político denuncista, não
há delimitação clara da individualização de condutas, buscando criar no
imaginário popular a ideia de que todo um governo, uma estatal, um partido, serem todos uma grande
"organização criminosa". No entanto, o governo da coligação petista
iniciado em 2003 foi o que mais criou instrumentos para combater a corrupção.
Editores de notícias comprometidos com
projetos de poder oposicionistas constroem há anos narrativas de forma
seletiva, no final das contas buscando direcionar o leitor ou ouvinte a votar
em candidatos de oposição. Deu certo com alguns eleitores, mas a maioria sente
o cheiro de
picaretagem quando o noticiário é seletivo demais, e o resultado das três
últimas eleições presidenciais mostram isso.
O cidadão desconfia do ambiente político
como um todo e dos próprios jornais e TVs. Não crê que a oposição seja melhor
do que o governo neste quesito de combate à corrupção. Não por acaso, Aécio
Neves (PSDB) não só perdeu a última eleição, como despontou nas pesquisas com
rejeição mais
alta do que a presidenta Dilma Rousseff, pela fadiga do discurso falso de
combate à corrupção.
Além disso, ninguém aguenta ficar tantos
anos seguidos ouvindo notícias de denúncias repetitivas, sem que a imprensa
tradicional conte algo de novo para modificar o quadro, como falar nas causas e
soluções.
O debate sobre o financiamento empresarial
de campanha e da reforma política não ocupa o noticiário de grande audiência, e
até para justificar o excesso de denuncismo precisaria receber a mesma ênfase.
Seus repórteres nunca perguntam ao ministro Gilmar Mendes quando ele vai devolver o processo da ação da OAB para terminar o
julgamento que declarará inconstitucional o financiamento de campanhas por
empresas (TERIA ALGUM INTERESSE?)*
No jargão político a expressão
"fadiga de material" geralmente é usada contra os governos que se
desgastam após um tempo no poder. Mas ela também acontece com um discurso de
oposição repetitivo que não convence mais. Nas urnas, faltam votos. Ao golpe,
faltam adeptos. No jornalismo, a perda é, primeiro de credibilidade, seguida da perda de audiência.
Mas o governo também não pode se iludir
apenas com o cansaço deste discurso oposicionista, pois não existe vácuo nem no
poder, nem na pauta de notícias. Alguém sempre a ocupa. Se o governo não
disputar essa pauta, democratizando as comunicações para haver mais circulação
de informações e debate de ideias, a oposição, ainda que seja uma nova
oposição, vai continuar ocupando sozinha.
ATENÇÃO: as palavras na cor vermelha constam originariamente no texto original, mas os destaques e * são deste BLOGUEIRO.
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