quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A GENTE SÓ CURA AS NOSSAS FERIDAS QUANDO NÓS AS ENFRENTAMOS ! ! !

Quinta-feira, 11 de dezembro de 2014 às 09:00  

Ivo Herzog: A gente só cura as nossas feridas quando as enfrentamos

Após a cerimônia de entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o Blog do Planalto conversou com membros da Comissão, além quatro vítimas da ditadura que vieram aoPalácio do Planalto para testemunhar o momento histórico.
Um dos entrevistados foi Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog. Ele compartilhou com o Blog seu sentimento de acompanhar a divulgação do relatório“A gente só cura as nossas feridas quando nós as enfrentamos”, afirmou.
Ele disse que esse momento é importante para ele e sua família, mas que é fundamental também para aqueles que não sofreram as graves violações dos direitos humanos ocorridas durante a ditadura. “No dia de hoje acho que é o resultado – principalmente para mim que eu sou familiar de uma vítima –, o fim de um ciclo de décadas de luta para que o estado brasileiro passe a limpo a nossa história. Mas passe a limpo não somente para nós familiares, que passe a limpo e torne público essa história para aqueles que não viveram”, relatou.
Pedro Dallari, presidente da Comissão, explicou que as graves violações dos direitos humanos não começaram com a CNV e não vão acabar com ela. A Comissão sistematizou toda a informação disponível colhida ao longo de várias décadas e acrescentou informações a partir de pesquisa realizada durante dois anos e sete meses.
De acordo com ele, ao permitir que a sociedade brasileira conheça melhor seu passado, o relatório entregue contribui também para o futuro. “Este momento é um marco. [A verdade] permite o conhecimento, a verdade, ao se apurar os fatos todos, permite que a sociedade conheça a si própria, conheça ao Estado. E quem se conhece melhor é capaz de planejar e ter um futuro melhor”, analisou.
Dallari esclareceu que o documento também oferece uma base para continuidade das investigações, em curso pelas comissões da verdade estaduais, municipais e setoriais e pelas instituições universitárias. “A investigação segue, mas agora em condições muito mais vantajosas”, disse.
Rosa Cardoso, um dos membros da CNV, também falou sobre a relevância da entrega do relatório para a história do País.
“Certamente é importante porque mostra como a história evolui. Nós passamos de um processo de barbárie para um processo de civilização – porque democracia é civilização.” Ela completou reafirmando o papel que o registro da verdade exerce para que haja justiça. “A questão é verdade mais justiça, não é verdade ou justiça, é verdade mais justiça. Então eu acho que vai haver depois desse processo por verdade, com as informações que nós trazemos, uma ampliação dessa luta pela judicialização”, completou.
Leia agora a entrevista completa com Ivo Herzog.
Qual é a importância pessoal e para a sociedade brasileira deste dia, da divulgação do relatório da CNV?
No dia de hoje acho que é o resultado – principalmente para mim que eu sou familiar de uma vítima – o fim de um ciclo de décadas de luta para que o estado brasileiro passe a limpo a nossa história. Mas passe a limpo não somente para nós familiares, que passe a limpo e torne público essa história para aqueles que não viveram. Porque na realidade, nós, que vivemos, nós não vamos deixar que essas coisas… a gente não vai aceitar, à nossa volta, que essas coisas se repitam.
É importante também para pessoas que desconhecem as violações dos direitos humanos durante a ditadura?
Aquelas pessoas que não viveram, que não conheceram esses fatos tão trágicos, pelo desconhecimento estão sujeitas a que esses fatos voltem a acontecer e essas pessoas não tenham entendimento, consciência disso. Como alguns movimentos que nós temos visto pedindo volta da ditadura, essa coisa toda. Então, esse trabalho da Comissão Nacional da Verdade, sob a liderança da presidente Dilma, tem um valor… a palavra “inestimável” ainda é pouco para tentar traduzir qual é o valor. Porque é a maneira que a gente tem de formar uma sociedade consciente de qual é a nossa história. Uma história que teve tragédias, mas é uma história nossa, uma história que todos nós devemos ter orgulho. E todo nós, a partir desse orgulho, a partir desse orgulho de ser brasileiro, estamos sempre atentos para que os horrores não voltem a acontecer.
Quais são os benefícios de se revelar a verdade? 
Eu acho que ela traz respeito fundamentalmente. Eu vou citar um exemplo para ilustrar isso daí, que se tornou bastante emblemático, que também tem o papel da CNV. Até recentemente, até o ano passado, na nossa família tinha um atestado de óbito referente ao meu pai, mentiroso, que falava que ele havia se suicidado. É um documento que um familiar de um morto tem que ter até para resolver questões do dia a dia. Um documento que agride, um documento que tortura a família. Que diz que o seu ente era um covarde que tirou sua própria vida. Na hora que veio um atestado novo, retificado, a partir de um processo iniciado pela Comissão e que mostra que o meu pai foi morto vítima de maus tratos, tira um peso no nosso ombro, traz alívio.
Buscar a verdade é revanchismo?
Não é revanche. O que está se buscando é verdade no seu sentido puro. A verdade é simplesmente para nós entendermos o que aconteceu, para criarmos mecanismos para que essas coisas não voltem acontecer. E quando eu digo que busco justiça, justiça não é revanche.
Quando nós falamos que a gente busca a justiça através do Estado, é porque a gente quer essa justiça serena, a gente vive em um país de direito, com três poderes, funcionam, como a presidente disse, há três décadas já, e nós queremos, nós acreditamos nesse sistema.
Que efeito a divulgação da verdade tem para você e sua família?
Eu tenho um filho de 17 anos. Está prestando vestibular agora, fez o Enem. Eu tenho muito orgulho de poder contar tudo que eu fiz na minha vida e acho que ele tem muito orgulho do pai que ele tem, ele tem muito orgulho da avó que ele tem. Ele tem muito orgulho do avô que ele nunca conheceu. Isso é fundamental, porque somos nós que damos o exemplo para os nossos filhos, eu tenho certeza que eu vou ter orgulho dele. 
A gente só cura as nossas feridas quando nós as enfrentamos.
Fonte: acesse blog.planalto.gov.br

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