domingo, 14 de dezembro de 2014

VOCÊ ACREDITA EM PESQUISA ELEITORAL ? ? ?


O ex-professor da Universidade de Uppsala, cientista político sueco, autor de diversos estudos sobre o tema, Olof Petersson comentou recentemente que as pesquisas eleitorais são problemáticas por natureza, porque elas são o que são: estimativas, meras aproximações e amostras do que calcula-se que seja a verdade”.
Regular ou não regular as pesquisas eleitorais, eis a questão. A dúvida atormenta estudiosos e alvoroça palpiteiros desde os primeiros dramas pós-1824, quando foi publicada nos Estados Unidos a primeira pesquisa de intenção de votos da história.
Um dos fiascos ancestrais mais notórios ocorreu nas eleições americanas de 1948, quando os três maiores institutos de pesquisas daquele País previram a vitória de Thomas Dewey nas eleições presidenciais e, como sabemos, o vencedor foi Harry Truman.
A solução não está nas leis, dizem os suecos – e sim na auto-regulação responsável de uma mídia consequente. Uma teoria elegante, que na prática seria imprestável se confrontada com a ausência de uma imprensa livre e independente.
”Há dois fatores a se considerar: a margem de erro das pesquisas, e possíveis tentativas de manipulação das sondagens por parte de grupos de interesse. Em qualquer cenário, a auto-regulamentação funciona. Mas para isso, é imprescindível que você tenha uma mídia verdadeiramente independente e responsável”, diz o cientista político mencionado no primeiro parágrafo deste texto.
São várias as teorias acadêmicas formuladas: segundo o chamado efeito bandwagon, o popular maria-vai-com-as-outras, muitos eleitores votam no candidato que – segundo as pesquisas – parece que vai ganhar. Já a teoria do underdog aponta para a predisposição de alguns eleitores de se identificar com o candidato que parece que vai perder. E no caso de eleições polarizadas – segundo as pesquisas – entre dois candidatos, a fórmula do voto útil entra em cena: o eleitor deixa de votar num terceiro candidato, para não ”perder” o voto.
É um poder significativo o das sondagens, diante do espectro que ronda qualquer pesquisa: o erro.
”Há óbvios problemas metodológicos em todas as pesquisas, apesar de as sondagens serem um elemento importante do debate político”, aponta Olof Petersson.
Nenhum instituto de pesquisa sueco previu, nas eleições gerais de setembro deste ano, o avanço avassalador da extrema-direita: inacreditáveis 13% dos votos foram para o partido Democratas da Suécia (Sverigedemokraterna), que com sua agenda antiimigração tornou-se assim a terceira maior força política do país.
”Mas o perigo maior vem do uso que se faz do resultado das pesquisas na mídia”, aponta o Ombudsman da Imprensa. ”Não se pode afirmar com base em uma pesquisa, por exemplo, que o resultado reflete a forma como o eleitorado vai votar. Porque as sondagens estão sujeitas a falhas, e ainda assim podem alterar o resultado de uma eleição”.
Vale salientar que o Conselho Europeu, que define as orientações gerais da União Européia, chegou a discutir a necessidade de harmonizar as leis nacionais referentes a pesquisas eleitorais, mas a idéia nunca foi adiante. O Conselho optou por emitir, em 1999, uma recomendação genérica a respeito da divulgação de pesquisas eleitorais pela mídia.s
Em linhas gerais, a recomendação estabelece que a mídia deve, ao publicar uma pesquisa eleitoral, fornecer informação suficiente para que o público possa julgar o valor da sondagem. A saber, conforme a prática corrente: indicar a metodologia empregada, a organização que encomendou e pagou pela pesquisa, o período exato em que foi conduzida a sondagem, e a margem de erro.
Para deleite dos institutos de pesquisa, o texto do Conselho Europeu acrescenta: qualquer restrição dos estados-membros da União Européia à publicação de sondagens eleitorais antes de uma eleição deve levar em consideração o artigo 10 da Convenção Européia de Direitos Humanos: ”Todos têm direito à liberdade de expressão”.
Já a mídia sueca abriu mão da prática de silenciar, nos dias anteriores à fala das urnas, a discussão sobre as teorias matemáticas da probabilidade em torno dos candidatos.
”Até cerca de dois anos atrás, existia uma espécie de acordo silencioso entre os veículos da mídia para não publicar nenhuma pesquisa na semana anterior às eleições. Mas atualmente, essa restrição só vale para o dia da eleição, ou em geral para o dia anterior ao pleito”, diz Göran Eriksson, comentarista político do jornal Svenska Dagbladet.
Para o Ombudsman da Imprensa, a sociedade teria mais a perder restringindo a liberdade de divulgação das pesquisas, do que proibindo.
”Não conheço em detalhe a realidade do Brasil. Mas na Suécia, o ponto é esse: temos uma imprensa muito, muito livre”, sublinha Ola Sigvardsson.
Para prevenir tapeações e armadilhas, o cientista político Olof Petersson destaca dois fatores: a importância da diversidade de sondagens veiculadas pela mídia, e o compromisso dos institutos de pesquisa em relação aos padrões que regem o setor.

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