O ex-professor da
Universidade de Uppsala, cientista político sueco, autor de diversos estudos sobre o tema, Olof Petersson comentou
recentemente que as pesquisas eleitorais são problemáticas por natureza, porque
elas são o que são: estimativas, meras aproximações e amostras do que
calcula-se que seja a verdade”.
Regular ou não regular as pesquisas eleitorais, eis a questão. A
dúvida atormenta estudiosos e alvoroça palpiteiros desde os primeiros dramas
pós-1824, quando foi publicada nos Estados Unidos a primeira pesquisa de
intenção de votos da história.
Um dos fiascos ancestrais mais notórios ocorreu nas eleições
americanas de 1948, quando os três maiores institutos de pesquisas daquele País
previram a vitória de Thomas Dewey nas eleições presidenciais e, como sabemos,
o vencedor foi Harry Truman.
A solução
não está nas leis, dizem os suecos – e sim na auto-regulação responsável de uma
mídia consequente. Uma teoria elegante, que na prática seria imprestável se
confrontada com a ausência de uma imprensa livre e independente.
”Há dois fatores a se considerar: a margem de erro das pesquisas,
e possíveis tentativas de manipulação das sondagens por parte de grupos de
interesse. Em qualquer cenário, a auto-regulamentação funciona. Mas para isso,
é imprescindível que você tenha uma mídia verdadeiramente independente e
responsável”, diz o cientista político mencionado no primeiro parágrafo deste
texto.
São várias as teorias acadêmicas formuladas: segundo o chamado
efeito bandwagon, o popular maria-vai-com-as-outras, muitos eleitores votam no
candidato que – segundo as pesquisas – parece que vai ganhar. Já a teoria do
underdog aponta para a predisposição de alguns eleitores de se identificar com
o candidato que parece que vai perder. E no caso de eleições polarizadas –
segundo as pesquisas – entre dois candidatos, a fórmula do voto útil entra em
cena: o eleitor deixa de votar num terceiro candidato, para não ”perder” o
voto.
É um poder significativo o das sondagens, diante do espectro que
ronda qualquer pesquisa: o erro.
”Há óbvios problemas metodológicos em todas as pesquisas, apesar
de as sondagens serem um elemento importante do debate político”, aponta Olof
Petersson.
Nenhum instituto de pesquisa sueco previu, nas eleições gerais de
setembro deste ano, o avanço avassalador da extrema-direita: inacreditáveis 13%
dos votos foram para o partido Democratas da Suécia (Sverigedemokraterna), que
com sua agenda antiimigração tornou-se assim a terceira maior força política do
país.
”Mas o perigo maior vem do uso que se faz do resultado das
pesquisas na mídia”, aponta o Ombudsman da Imprensa. ”Não se pode afirmar com
base em uma pesquisa, por exemplo, que o resultado reflete a forma como o
eleitorado vai votar. Porque as sondagens estão sujeitas a falhas, e ainda
assim podem alterar o resultado de uma eleição”.
Vale salientar que o Conselho Europeu, que define as orientações
gerais da União Européia, chegou a discutir a necessidade de harmonizar as leis
nacionais referentes a pesquisas eleitorais, mas a idéia nunca foi adiante. O
Conselho optou por emitir, em 1999, uma recomendação genérica a respeito da
divulgação de pesquisas eleitorais pela mídia.s
Em linhas
gerais, a recomendação estabelece que a mídia deve, ao publicar uma pesquisa
eleitoral, fornecer informação suficiente para que o público possa julgar o
valor da sondagem. A saber, conforme a prática corrente: indicar a metodologia
empregada, a organização que encomendou e pagou pela pesquisa, o período exato
em que foi conduzida a sondagem, e a margem de erro.
Para deleite dos institutos de pesquisa, o texto do Conselho
Europeu acrescenta: qualquer restrição dos estados-membros da União Européia à
publicação de sondagens eleitorais antes de uma eleição deve levar em
consideração o artigo 10 da Convenção Européia de Direitos Humanos: ”Todos têm
direito à liberdade de expressão”.
Já a mídia sueca abriu mão da prática de silenciar, nos dias
anteriores à fala das urnas, a discussão sobre as teorias matemáticas da
probabilidade em torno dos candidatos.
”Até cerca de dois anos atrás, existia uma espécie de acordo silencioso
entre os veículos da mídia para não publicar nenhuma pesquisa na semana
anterior às eleições. Mas atualmente, essa restrição só vale para o dia da
eleição, ou em geral para o dia anterior ao pleito”, diz Göran Eriksson,
comentarista político do jornal Svenska Dagbladet.
Para o Ombudsman da Imprensa, a sociedade teria mais a perder
restringindo a liberdade de divulgação das pesquisas, do que proibindo.
”Não conheço em detalhe a realidade do Brasil. Mas na Suécia, o
ponto é esse: temos uma imprensa muito, muito livre”, sublinha Ola Sigvardsson.
Para prevenir tapeações e armadilhas, o cientista político Olof
Petersson destaca dois fatores: a importância da diversidade de sondagens
veiculadas pela mídia, e o compromisso dos institutos de pesquisa em relação
aos padrões que regem o setor.
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