Cena do Fla-Flu político
"Você não é o
Kotscho, aquele da televisão? Te vi ontem..."
A abordagem começa
mais ou menos assim, depois vem a inevitável pergunta: "O que você acha
que vai acontecer?" A maioria nem espera a resposta, que, aliás, não
tenho, e já vai logo dizendo o que pensa da situação, já que agora somos um
país em que todo mundo entende de política, economia e até de quem deve ou não
ir para o Supremo Tribunal Federal.
Pois é, depois de
velho, agora estou ficando famoso, sendo reconhecido em lugares públicos, por
culpa do Jornal da Record News, do Heródoto Barbeiro. Como tudo na
vida, isso tem o seu lado bom, o reconhecimento profissional, e o lado
ruim, a perda da privacidade. Alguns até pedem para tirar selfies...
Nunca
tinha acontecido isso comigo antes, nos longos anos em que trabalhei na
imprensa escrita. Como sou comentarista político na TV, as pessoas querem falar
de política, claro.
E como o clima de
Fla-Flu da última campanha eleitoral não acaba nunca, principalmente aqui em
São Paulo, onde todo mundo já tem suas opiniões definitivas, quase todas
condenando o governo petista, geralmente só querem saber quando e como a
presidente vai cair, pois já não têm dúvidas disso.
Para quem me
acompanha há mais tempo, e lê este Balaio desde que foi criado, faz quase oito
anos, não é novidade o que escrevi no título deste artigo. Nunca mudei de lado
nem escondi o que penso, e sempre fui franco com os leitores, internautas
e, agora, telespectadores, procurando preservar a minha liberdade e
independência profissional.
Só que tem gente
que, simplesmente, não aceita o fato de eu sempre ter votado no PT e trabalhado
como assessor do ex-presidente Lula, chegando a ocupar o cargo de Secretário de
Imprensa e Divulgação nos primeiros dois anos do seu governo.
Deixei o Palácio do
Planalto há mais de dez anos, em novembro de 2004, por razões estritamente
pessoais, e me orgulho do trabalho que fiz lá, mas até hoje o pessoal me cobra
quando algo de errado acontece no governo federal, em qualquer área, como
se eu fosse responsável pela crise que estamos vivendo: "Ah, mas você
votou na Dilma, é amigo do Lula..." E daí? Qual é o crime?
Outro dia, um
motorista de táxi até estranhou quando, no meio de uma conversa _ sobre
política, claro _ eu disse em quem tinha votado nas últimas eleições.
"Nossa, você é o primeiro que entra nesse carro e confessa que votou na
Dilma. Não tem mais ninguém com coragem pra falar isso...".
Não só eu, mas
outros 54 milhões de brasileiros votaram em Dilma na eleição de outubro, e meu
voto vale tanto quanto o de qualquer um deles, ou seja, um voto. Sumiram todos?
Sei que hoje tem
muito mais gente contra do que a favor do governo, com largos e justos motivos
para se queixar, mas não me arrependo do meu voto, diante das opções que a urna
eletrônica me oferecia naquele momento, pois, ao contrário de outros
jornalistas, não tenho o dom de prever o futuro e me limito a ver e contar o
que está acontecendo, que é o ofício do repórter. Nada me garante que, se
a oposição tivesse vencido, o Brasil estaria hoje vivendo dias melhores.
Vida que segue.
Fonte: Ricardo Kotscho no
seu BLOG
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