Tucano
desce a lenha em fanáticos pelo impeachment: “ignorantes políticos”
Xico Graziano é
assessor especial do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e diretor do site
Observador Político, ligado ao IFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso). Uma
semana após a eleição presidencial do ano passado ele já começara a se
estranhar com os movimentos que pedem “impeachment” de Dilma Rousseff.
Coordenador digital
de Aécio Neves durante a campanha presidencial de 2014, o ex-deputado federal
pelo PSDB Xico Graziano foi atacado nas redes sociais em novembro do ano
passado por criticar um protesto a favor do impeachment de Dilma Rousseff.
À época, Graziano
declarou que falar em impeachment contra a petista uma semana após sua vitória
nas urnas era “absurdo” e “antidemocrático”. A opinião gerou polêmica e o
tucano foi acusado de ser “comunista” e “petralha”.
Após os protestos
antipetistas de 15 de março e 12 de abril, a pressão de movimentos como Vem Pra
Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line obrigou o PSDB, sem lá muita
convicção, a encomendar um parecer ao jurista Miguel Reale Júnior sobre a
viabilidade de encaminhar à Câmara dos Deputados um pedido de impeachment da
presidente recém-reeleita.
Tudo isso foi jogo de
cena do PSDB, pois é amplamente conhecido o fato de que não existem elementos
para abrir um processo de cassação de Dilma Rousseff por crime de
responsabilidade, o que permitiria interromper seu mandato recém-obtido nas
urnas.
O parecer do jurista
encomendado pelo PSDB apenas disse a realidade: “ainda” não haveria “elementos”
para abertura de processo de impeachment contra a presidente da República. A
frase é curiosa, pois induz à crença de que esses elementos como que estariam
germinando e passarem a existir seria mera questão de tempo.
Aécio Neves declarou
publicamente, pois, a suposta inviabilidade de atender aos movimentos que
querem porque querem exterminar um mandato eletivo concedido pela maioria do
eleitorado brasileiro. A reação desses movimentos foi destemperada e passaram a
insultar Aécio, Fernando Henrique Cardoso e o próprio PSDB.
Foram usados termos
como “traidor”, “arregão”, “covarde” e outras pérolas.
Eis que Graziano
volta ao palco e faz um duro ataque aos fanáticos de extrema direita que querem
o impeachment com ou sem motivo, como se fosse natural exigir que seja jogado
no lixo o desejo da maioria dos eleitores, expresso na eleição presidencial de
2014, bastando, para isso, qualquer desculpa.
Vale ler o “desabafo”
de Graziano ante os insultos disparados pelos fanáticos contra FHC e Aécio.
A irritação de
Graziano, porém, não se deve aos seus supostos pendores democráticos. Ao chamar
os extremistas de direita de “ignorantes políticos” ele pareceu ter buscado um
substituto para o adjetivo “burros”. Nesse “desabafo”, ele até tenta explicar
por que não faz sentido pedir “agora” o impeachment de Dilma Rousseff.
O trecho abaixo,
escrito por Graziano, deixa muito clara a razão de ele não querer mexer com
isso “neste momento”.
“(…) Quem venceu, que enfrente a crise. Afinal, foram eles, do PT, que enfiaram
o país nessa desgraceira. Que paguem por sua irresponsabilidade e safadeza.
Quem quer sentar naquela cadeira para pagar o mico do PT? Lula e Dilma que se
fritem (…)”
Entendeu, leitor? O
que Graziano pensa, de fato, não é que pedir o impeachment de Dilma sem amparo
de provas é antidemocrático. Ele calcula um fato: quem quer que seja que esteja
na Presidência da República agora vai ter que aplicar o ajuste fiscal e, assim,
arcar com uma imensa onda de impopularidade, que virá da direita, do centro e
até da própria esquerda.
Dilma está sofrendo
ataques de todos os lados, até do PT.
O fato é que se a
economia estivesse bem e a direita tivesse a mesma maioria no Congresso que tem
neste momento, não hesitaria em inventar qualquer desculpa para derrubar Dilma
Rousseff, sobretudo se ela estivesse sofrendo a mesma crise de impopularidade.
Assim como o
ex-presidente Fernando Collor foi derrubado sem amparo de provas, o mesmo
poderia ser feito contra Dilma. Porém, como já se disse várias vezes neste
espaço – e como Graziano, inclusive, disse, claramente, em seu texto no
Facebook, supra reproduzido:
“Quem quer sentar naquela cadeira para pagar o mico do PT?”
Dilma Vana Rousseff
tem o pior emprego do mundo, neste momento. Sem ajuste fiscal, o Brasil perde o
grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco e pode
sofrer um efeito sistêmico, ou crise cambial. Uma brusca e violenta desvalorização
do real faria a inflação explodir. Os efeitos seguintes seriam uma forte crise
no emprego, na renda etc. Com ajuste fiscal, o Brasil se safa do buraco, mas
quem o conduzir será odiado pelo conjunto do espectro político, da direita à
esquerda. E pela esmagadora maioria da opinião pública.
Quem quer Dilma fora
do poder acha que a saída dela poderia evitar o ajuste. Não iria rolar. A
situação ficaria ainda pior do que está, pois até que ela fosse impedida a
economia teria ido para o buraco. Quem herdasse o governo teria uma missão
muito mais dura pela frente e, devido à ignorância de grandes setores do
eleitorado, seria colocado na cruz em lugar do PT e de Dilma.
Seja como for, é
positivo para o país que esses fanáticos de ultradireita se isolem. Como são
estupidamente radicais, continuarão dinamitando pontes com a política formal e
assustando o espectro político com seu radicalismo.
Seja por oportunismo
ou por apreço real pela democracia, a reação de Graziano mostra que ainda há
cabeças pensantes na oposição. E mostra que até o PSDB está ciente de que não
adianta destruir o país para retomar o poder. Menos mal.
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