Prender Dirceu e Genoíno é fácil. Difícil, no Brasil, é prender Marin.
A prisão de Marin é um retrato do Brasil: ele foi obrigado a viajar para ser preso.
Marin é, ou
era, um daqueles intocáveis no país. Apesar da ficha carregada de delinquências, ele jamais foi
importunado pela justiça, pela polícia e, muito menos, pela imprensa.
Isso com 83 anos.
Fosse mais comedido, ou menos ávido por
propinas e atividades, Marin teria chegado ao túmulo bem longe de coisas
desagradáveis como cadeia.
Prender Dirceu e Genoíno é fácil no
Brasil destes tempos. Mas Marin pertence a outra casta: a do 1%. Isso significa
imunidade.
Por exemplo: ele só virou notícia
policial na Globo por causa dos investigadores americanos que descobriram, com
trabalho duro, a fábrica de propinas que ele montou na CBF.
A CBF sempre foi parceira da Globo na rapinagem do futebol brasileiro. Enquanto ao longo dos anos ambas
acumularam fortunas fabulosas com o futebol brasileiro, este, em si, virou uma
ruína.
Estádios
vazios e precários, times incapazes de segurar os melhores jogadores e por aí
vai: não pode funcionar uma parceria em que
alguém ganha muito e o outro só perde.
É o jeito Globo de operar.
Também no cinema é o mesmo quadro. A
Globofilmes se dá bem e os outros – produtores, diretores, atores – vivem de migalhas.
O caso Marin oferece também uma chance
de confrontar o trabalho policial entre os Estados Unidos e o Brasil.
Os investigadores americanos não
fizeram, ao contrário do que é tão comum na Polícia Federal, coisas como basear
ações em recortes de jornais e revistas.
É patético ver juízes e policiais
acusarem alguém e, impávidos, citarem uma reportagem da Veja, ou da Folha, como se a mídia
não tivesse fortíssimos interesses por trás de denúncias frequentemente sem
nenhum fundamento.
No
Mensalão, um juiz começou um magnífico pronunciamento
dizendo que não havia um dia que não abrisse os jornais e encontrasse um
escândalo.
A quem apelar?
Mais
arguto, ele teria questionado a obsessão da mídia em publicar escândalos contra o PT. Mas não: o juiz tratou a mídia como se ela também
pertencesse ao STF.
(Recentemente, Marta Suplicy fez o
mesmo ao explicar por que saiu do PT. Citou a mídia.)
No episódio Marin, os policiais dos
Estados Unidos suaram. Não entraram no Google para ver o que a imprensa tinha a falar de Marin.
Uma das
cenas mais marcantes da Operação Lava Jato foi uma em que um réu perguntou
respeitosamente a Moro se fazia sentido ele estar preso fazia cinco meses
quando a grande evidência que pesava contra ele era uma reportagem da Veja.
Como disse Mino Carta, a Veja mente todos os dias. Mas a Justiça brasileira enxerga nela uma fonte de
informações acima de qualquer suspeita.
O caso
Marin oferece muitas reflexões. A principal delas é o caráter hipócrita e
partidário do combate à corrupção promovido pelo 1%, ao qual interessa apenas a manutenção de
privilégios e mamatas.
*Paulo Nogueira jornalista, é fundador e diretor editorial do site de
notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
ATENÇÃO: as palavras na cor vermelha constam originariamente no texto, mas os destaques são deste BLOGUEIRO.
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