Basta! Milícias antipetistas violam artigo 5º da Constituição. Cumpra-se a lei
A história demonstra
que o fascismo se alimenta da inação dos democratas. A segunda década do século
XX, por exemplo, viu nascer um movimento de ódio contra uma etnia e um ideário
político-ideológico. O nazismo foi erguido sobre ódio aos judeus e aos
comunistas. Com efeito, apontar “inimigos comuns da sociedade” à execração pública
é o ovo da serpente.
Nas últimas semanas,
essa ideologia do ódio deu lugar a novas agressões a pessoas públicas em
restaurantes de São Paulo. Os ex-ministros do governo Dilma Rousseff Guido
Mantega e Alexandre Padilha foram insultados em público. No caso de Mantega,
pela segunda vez neste ano ele foi expulso de um local público sob saraivada de
injúrias.
Porém, não são apenas
membros do Partido dos Trabalhadores, ou o próprio partido, que vêm sendo alvos
de ataques verbais e até físicos. Cidadãos sem filiação partidária estão sendo
injuriados e até agredidos fisicamente por milícias antipetistas que promovem
blitz nas ruas de São Paulo com vistas a oprimir qualquer um que lhes desafie a
decisão de constranger quem ostente sua opinião política.
Há grupos organizados
que vêm anunciando publicamente suas intenções fascistas de constrangerem quem
tem opinião política diferente e de impedirem que pessoas públicas possam
sequer frequentar lugares públicos. Comentários de leitores postados no perfil
do Facebook da revista Época, em link para matéria sobre a agressão recente a
Guido Mantega, deixam isso bem claro.
Como se pode ver, há
pregação escancarada de intimidação de “petistas” que ousarem aparecer em
locais públicos. Note, leitor, que os comentários que se vê na imagem acima não
especificam se os “petistas” que devem ser coagidos a deixar locais públicos são
“apenas” os filiados ao PT. A prática vem mostrando que basta mostrar simpatia
pelo partido para ser agredido.
Claro que os políticos diretamente
ligados ao PT, além do próprio partido, vêm sendo alvejados com maior
contundência – nos últimos meses, por exemplo, dois diretórios do PT foram
alvos de ataques a bombas incendiárias, um em Jundiaí e
outro na capital paulista. E os relatos de agressões físicas e verbais contra
qualquer um que possa ser identificado como simpatizante petista sucedem-se em
escala geométrica.
Durante o processo eleitoral do ano
passado, um caso tornado público por este Blog escandalizou o país. Um cadeirante foi agredido na rua por quatro
brutamontes, em São Paulo, por usar camiseta e estrela do PT.
Outro caso que surpreendeu o país
recentemente, também em São Paulo, foi agressão de milícia antipetista ao filho
do blogueiro simpatizante do PSDB Ricardo Noblat. Guga Noblat é conhecido por
supostamente ser “petista” e foi hostilizado e empurrado por essa milícia
apesar de levar sua filha, de poucos meses de vida, no colo.
Esse processo de
erupção de fascismo teve início em junho de 2013. Em 20 de junho daquele ano,
em um ato público do Movimento Passe Livre na avenida Paulista que pretendia
comemorar o recuo do prefeito Fernando Haddad do aumento das passagens de
ônibus, petistas foram agredidos por portarem símbolos do partido.
A confusão começou quando militantes do PT
chegaram portando bandeiras da sigla. Eles foram recebidos por xingamentos e
gritos de “oportunistas” e “mensaleiros”. Hostilizados por todo o trajeto,
petistas tiveram que ser protegidos por um cordão humano.
Cerca de três semanas após convocarem o
que chamaram de “jornadas de junho”, o MPL, militantes de partidos de esquerda
que fazem oposição ao governo Dilma e grupos ligados à ex-candidata a
presidente Marina Silva anunciaram que iriam desistir de novas
manifestações, assustados com o que haviam criado.
Desde então, as ruas
foram tomadas por grupos de ultradireita que pregam a volta da ditadura militar
e que decidiram impedir que qualquer pessoa que meramente simpatize com o PT
exerça sua liberdade política e de expressão em público.
Essas agressões
físicas e verbais contra petistas e simpatizantes do PT violam a Constituição
de 1988. Basta uma rápida olhada nos primeiros incisos do artigo 5º do texto
constitucional, que versa sobre Direitos e Garantias fundamentais.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
Capítulo I
Dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos
Art. 5º Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IV – é livre a manifestação do
pensamento, sendo vedado o anonimato;
VIII – ninguém será
privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos
imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Se é “livre a
manifestação do pensamento”, quem manifesta pensamento favorável a um
determinado grupo político está sendo tolhido em sua liberdade. Se ninguém pode
ser “privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política”, os ataques a petistas e simpatizantes do PT violam
também esse dispositivo constitucional.
Segundo o artigo 127 da Constituição, “O
Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional
do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. Em casos de violação
de direitos como esses ataques a petistas e simpatizantes do PT, o MP deveria
agir independentemente de provocação para garantir a liberdade de pensamento.
Quem não pode
ostentar um símbolo de um partido político devidamente registrado e legal, está
tendo seus direitos violados por motivo de convicção política, o que o inciso
VIII da Carta Magna veda.
A razão pela qual
nenhum membro do MP se dignou ainda a tomar providência pode parecer um
mistério, mas não é. Essa omissão se deve a um processo de sucateamento dos
Direitos e Garantias individuais que vem ganhando corpo desde junho de 2013 e
que, pelo que se vê, só tende a aumentar.
O fato é um só: ou o
Ministério Público do Brasil está intimidado politicamente ou está sendo
conivente com a violação de direitos em curso.
Não são poucas as
pessoas afetadas por essas ameaças aos Direitos e Garantias Individuais
preconizados pela Carta Magna. No mínimo, centenas de milhares de cidadãos
estão sentindo-se intimidados em exercer um direito constitucional de liberdade
de expressão quanto a opiniões políticas.
Esse enorme
contingente de cidadãos que está tendo seus direitos usurpados por milícias
organizadas que atuam à margem da lei precisa decidir se vai mesmo aceitar
passivamente o que está acontecendo.
Mas como fazer para
não aceitar? A reação cabível é uma só: a lei, fora da qual não há salvação. As
leis que garantes os Direitos e Garantias individuais devem ser acionadas.
O caminho ideal é que
todo e qualquer cidadão que for alvo de tentativa de repressão à sua opinião
política ingresse com medida judicial contra o agressor. Nesse aspecto, os alvos
mais visíveis dessas agressões poderiam tomar providências legais.
Os ex-ministros
Alexandre Padilha e Guido Mantega, por exemplo, prestariam um enorme serviço à
democracia se processassem os agressores que os injuriaram publicamente. Ao não
reagirem, estimulam novas agressões a eles mesmos e a outros, inclusive àqueles
que meramente nutrem simpatia pelo PT, porém sem serem filiados à sigla.
Porém, não podemos cobrar reação apenas
dos políticos. Cabe a cada cidadão defender seus direitos não apenas em defesa
própria, mas, também, em defesa da coletividade. Nesse aspecto, vale ler
comentário do leitor Sergio L., no post anterior:
Enviado em 26/05/2015 as 03:13
“A reação não pode e não deve vir de
um ato solitário. É imenso o risco de se tornar pretexto para novas agressões,
físicas inclusive. A força para a reação estará na união.
O que eu vejo é que o PT, com todos os
seus erros e acertos, é constituído, em sua imensa maioria, por pessoas
democráticas, republicanas e civilizadas, porém firmes em suas opiniões. Está
muito adiante do seu tempo!
Eu, com 52 anos e vivendo em bairros/escolas
nobres da capital de SP, não conheci, pelo próprio destino, um petista sequer.
TODAS as pessoas/familiares, namoradas e amigos que tive/tenho odeiam o PT,
votaram em Malufs da vida e idolatram PSDB/Alckmin e o Estado.
Vocês imaginam o apartheid político que
vivo a vida inteira… Me sinto um judeu vivendo num estado nazista, onde sequer
posso manifestar minhas convicções políticas. As pessoas que para cá vem ou se
sentem atraídas, são, em sua imensa maioria, egoístas, preconceituosas e
materialistas. E tudo isto aparece nestas atitudes deploráveis”
Essa é a história de
centenas de milhares de brasileiros que hoje ocultam suas ideias políticas por
medo de variados tipos de repressão, todos ilegais, inconstitucionais e,
frequentemente, criminosos.
Se você se sente como
o leitor Sergio L. e aceita conviver com isso, saiba que o que está acontecendo
é apenas o começo. Hoje, você não pode manifestar o que pensa sobre política em
locais públicos, mas ao contemporizar com o fascismo saiba que, cedo ou tarde,
você não terá liberdade nem dentro de sua casa.
A prosseguir essa
ação crescente das milícias antipetistas, não chega a ser um exagero supor que,
em algum momento, começarão a invadir as residências daqueles que forem
“suspeitos” de acalentar convicções políticas que esses grupos fascistas
decidiram tornar “ilegais”. Se a sociedade não reagir enquanto é tempo, quando
acordar poderá ser tarde demais.
Neste ponto, vale
lembrar ao leitor que, além das ações judiciais contra quem agredir alguém por
manifestar seu pensamento político, há uma medida coletiva que, no momento
certo, pode ser tomada. A coletividade pode provocar o Ministério Público.
Uma medida dessa
natureza só seria factível caso derivasse de um amplo sentimento de
inconformismo com a situação supra descrita. Quantos estariam dispostos, de
verdade, a defender seus direitos? Será que já existe disposição coletiva para
agir ou precisaremos esperar que a situação se agrave ainda mais?
A decisão não é de
todos, é sua. Apenas sua. Se você decidir não se omitir, não se render, um
grande passo já terá sido dado. Mas se você calar, se aceitar se autocensurar,
ainda que não saiba estará dando um passo igualmente grande para abrir mão de
sua cidadania. A escolha é sua.
Fonte:
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