Senadores assumem manifesto, constrangem o governo e paralisam votação do ajuste
Por Carlos Bandeira
O manifesto de movimentos populares, intelectuais, economistas e
ex-ministros do governo Lula ganhou
a adesão de 11 senadores, que expressaram as críticas às medidas do ajuste
fiscal e as propostas alternativas para enfrentar os problemas do país.
O
manifesto, que constrangeu o PT e o governo, teve a adesão de senadores do PT,
PSOL, PSB, PDT, PMDB, PRB e PSD. Vocalizado no plenário pelos senadores
Lindbergh Farias (PT) e Randolfe Rodrigues (PSOL), virou o centro do debate no
Senado Federal sobre a MP 665, levando ao adiamento da votação. O
posicionamento de uma fração alinhada à esquerda colocou em risco a aprovação
do pacote Levy.
A
adesão ao manifesto de nomes de peso, que apoiaram a eleição da presidenta
Dilma Rousseff, como dos economistas Luiz Gonzaga Belluzzo, Marcio Pochmann,
Leda Paulani, dos ex-ministro no governo Lula José Gomes Temporão, Samuel
Pinheiro Guimarães e Tarso Genro, além da CUT, MST e MTST, colocou o governo em
uma saia justa.
Um
dos primeiros a falar, o senador Humberto Costa, líder do PT, optou pela
defensiva e assumiu que foi um “equívoco” do governo enviar a proposta sem
discussão com os trabalhadores e parlamentares. Com medo de perder, o governo
foi obrigado a recuar e adiou a votação da MP 665, atrasando a aprovação do
ajuste fiscal e comprometendo o anúncio no corte no orçamento.
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu com dirigentes da CUT e
do MST ontem à tarde, fez críticas à maneira como foi realizado o ajuste fiscal
do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admitindo que existem “defeitos” nas
medidas provisórias que restringem direitos trabalhistas e previdenciários
Lula
assimilou em sua exposição, em seminário promovido pela Contraf (Confederação
Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), uma parte do manifesto, que
afirma que o desequilíbrio fiscal foi causado pelas desonerações. “Se a gente
não tivesse desonerado tudo isso, não precisaríamos fazer corte. Mas por que
foi feito isso? Para garantir que chegasse em dezembro do ano passado com 4,8%
de desemprego no país”, disse.
Diante
desse quadro, o governo começa a negociar pontos das MPs, acenando com a
possibilidade de manter as regras do Abono Salarial. Na proposta original
enviado pelo governo ao Congresso, a mudança no abono prejudicaria 10 milhões
de pessoas.
O
governo corre também para atender mais uma demanda apresentada no manifesto,
que é a taxação dos ricos para enfrentar o desequilíbrio das contas públicas.
Uma
possibilidade é acabar com o benefício fiscal dado a empresas e bancos que
distribuem lucros na forma de capital sobre juros, que existe desde 1995. Essa
mudança pode render R$ 14 bilhões por ano, superando a expectativa do governo
com a retirada de direitos. O governo estuda também elevar a alíquota da
Contribuição Social sobre Lucro Líquido de 15% para 20%.
Com
a adesão de senadores às demandas das forças populares e da intelectualidade
progressista, mudou a correlação de forças na discussão sobre o ajuste fiscal,
que pode fazer frente à política econômica adotada pelo governo e obter medidas
para taxar os mais ricos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário