Piketty: “Tenho simpatia pelos governos do PT”
30 de novembro de 2014 14 |21 Autor: Miguel do Rosário
A entrevista de Thomas Piketty, economista francês que lançou, há pouco, o livro
O capitalismo no Século XXI, considerado um dos livros sobre economia política
mais importantes das últimas décadas, para o blog Diário do Centro do Mundo, constitui um marco para a
comunicação no Brasil.
Mais
um dentre tantos. Falemos disso, porém, em outra ocasião. Agora falemos da
entrevista em si, feita pelo jornalista Pedro Zambarda de Araújo.
Piketty
é uma figura incômoda para a nossa mídia corporativa, dominada por uma direita
hidrófoba, plutocrata e malandramente udenista.
É
um sujeito assumidamente de esquerda, progressista, profundamente democrático.
Não
é, porém, maniqueísta, do tipo que associa a esquerda ao bem puro e a direita
ao mal supremo.
Uma
esquerda, sobretudo, e acima de tudo, sensata.
Sabe
que há vários tipos de esquerda e direita, e que o melhor lado de ambos se
encontram em alguns lugares da doutrina democrática, sobretudo quando há
afinidade em questões de liberdade individual e direitos humanos.
Em
sua entrevista, respondeu diretamente às perguntas sobre o nosso governo e
deixou bem claro:
“Tenho
uma simpatia pelo PT, mas ele pode trabalhar de uma maneira melhor.”
Reproduzo
abaixo os trechos que interessam mais ao nosso debate político imediato. A
íntegra pode ser lida aqui.
*
DCM:
Você disse que a última reforma tributária no Brasil foi em 1960. Nós,
brasileiros, estamos muito lentos para cuidar de nossos impostos contra a
desigualdade social?
Piketty:
Disse que a última grande alteração no Imposto de Renda brasileiro foi em 1960,
mas ocorreram algumas mudanças tributárias desde então. Mas é verdade que vocês
precisam de uma reforma ampla nos impostos pelo menos há 15 anos. Adaptações
tributárias com taxas progressivas e proporcionais podem ser boas para a
realidade de hoje, de um novo século.
Nos
anos de Lula e Dilma, não foram realizadas mudanças neste sentido. Eu acho que isso
prossegue como uma mudança importante e necessária ao Brasil. O sistema
tributário brasileiro não é nada progressista, possui muita taxação indireta
que poderia se converter em impostos diretos adequados às rendas. Vocês também
têm uma taxação muito pequena na tributação sobre heranças e propriedades. Para
fazer isso, uma reforma nos impostos é uma necessidade.
Qual
é a sua opinião da economia sob os governos do PT?
Eu
acho que o Partido dos Trabalhadores fez um ótimo governo do ponto de vista
social, mas poderia fazer mais. E sinceramente não entendo o pessimismo
econômico de algumas pessoas com mais um governo de Dilma. Criticam os
eleitores mais pobres por terem votado após receber benefícios estatais. Eu
acho justo votar em Dilma Rousseff por receber o Bolsa Família e não vejo,
sinceramente, nenhum problema nisso, assim como outras pessoas preferem outros
candidatos. Mas parece algo das pessoas aqui de São Paulo, enquanto outras
regiões, como o norte e o nordeste, pensam de maneira diferente.
O
que um segundo mandato de Dilma Rousseff pode fazer de diferente?
Pode
fazer uma reforma tributária com impostos progressivos, taxando os mais ricos.
O governo também pode buscar uma transparência maior do ponto de vista da renda
e da distribuição de riqueza. É uma boa maneira de responder à onda de críticas
sobre corrupção e falta de informações. Tenho uma simpatia pelo PT, mas ele
pode trabalhar de uma maneira melhor.
Existe
um preconceito sobre os impostos para os mais ricos? Os integrantes do chamado
1% do extrato social utilizam a grande mídia para impor sua opinião
internacionalmente?
Sim,
isso existe e é um problema. Quando você tem uma porção de desigualdades, eles
[os ricos] utilizam sua influência através da mídia, principalmente através dos
veículos financiados de forma privada, que são guiados pelo dinheiro, e isso se
tornou grande sobretudo nos Estados Unidos. No entanto, mesmo com isso,
acredito que as forças democráticas se tornaram mais fortes e é um fato que,
dentro da história da desigualdade, a taxação descrita pelo meu livro provocará
um embate de movimentos de massa pacíficos para o futuro.
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