Ajudem Dilma a ajudar o Brasil

Há uma diferença fundamental entre os interesses
do povo e os dos operadores políticos, tais como os partidos ou os
controladores dos grandes meios de comunicação. Essa confusão que a sociedade
faz a leva, muitas vezes, a confundir seus interesses com os interesses dos que
não são tão afetados – ou que não são afetados tão facilmente – pelas condições
gerais do país.
De meados de 2013 para cá, a disputa política
alcançou um nível de radicalização que está literalmente afundando o país – e, o que é pior,
com a complacência e até com o estímulo da sociedade civil, ou de grande parte
dela.
Fosse o Brasil um país menos rico e pujante,
diante da quantidade de sabotagens que tem sofrido por parte de grupos
políticos, a esta hora certamente estaríamos amargando uma depressão econômica
de proporções cataclísmicas. Boa parte dessa resistência da economia à
sabotagem política, porém, deve-se à capacidade da presidente Dilma Rousseff de
manobrar em meio ao caos.
Comparo o Brasil de hoje com alguém que sofre de
uma grave moléstia. Talvez uma tuberculose, que tem cura mas pode matar se o
paciente não for preservado de condições adversas e não receber o tratamento
adequado.
Este texto irá mostrar que o paciente, em vez de
ser mantido em condições adequadas, está sendo submetido a um verdadeiro
corredor polonês.
A partir de setembro de 2008, o mundo ingressou
em uma gravíssima crise econômica internacional, considerada por quase todos os
mais eminentes analistas e estudiosos econômicos como a maior desde a Grande
Depressão de 1929. Essa foi a primeira etapa de uma crise que, seis anos
depois, ainda se faz sentir pelo mundo.
Em um primeiro momento daquele 2008, o país
sentiu os efeitos do verdadeiro pânico mundial que se instalou a partir da
quebra do banco dos irmãos Lehman, nos EUA. Poderia ter sentido menos, no
entanto, se, internamente, não tivesse sofrido uma sabotagem.
Estávamos à porta de um ano pré-eleitoral (2009).
Focando a sucessão de Lula em 2010, a mídia tratou de inflar a crise por aqui,
com vistas a fazer a economia piorar para que o país chegasse até lá em
recessão, facilitando a vitória de José Serra, então visto como o grande nome
da direita para reverter o processo de distribuição de renda em curso no país
desde 2003.
Assim como hoje, a tática adotada pela mídia
conservadora no primeiro momento da crise foi espalhar o pânico, de modo a
fazer com que os empresários não apenas paralisassem investimentos como,
também, passassem a demitir, o que, por certo, colocaria o povo contra Lula.
Assim, entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009, houve uma grande onda de
demissões no país. Mais de OITOCENTOS MIL empregos foram exterminados naquele período sob um
fenômeno que já entrou para os anais da história: as “demissões preventivas”.
Este blogueiro, que também atua no setor de
comércio exterior como trader (vendedor internacional) autônomo, presenciou in
loco esse fenômeno das “demissões preventivas”. Uma das indústrias que
representava demitiu 20% dos seus 200 empregados como meio de se “prevenir”
contra a crise que estava chegando.
Ao saber daquilo, conversei com o proprietário da
empresa – ainda que, como autônomo, a medida draconiana da empresa não me
afetasse diretamente. Perguntei a ele se havia razão concreta para uma medida
tão draconiana. Descobri, então, o que significava a expressão “demissão
preventiva”.
Estupefato, fiquei sabendo que a empresa continuava
faturando praticamente a mesma coisa e que quase um quarto dos funcionários
fora demitido a um mês do Natal por temor do que a mídia anunciava. Quarenta
pais de família foram demitidos porque o dono da empresa leu no jornal que
havia que “se adequar
aos novos tempos que viriam”.
Cerca de cinco meses depois, lá por abril de
2009, a empresa começou a tentar trazer de volta os demitidos, ainda que muitos
já tivessem conseguido novo emprego. Ao fim, o custo daquele empresário com as
demissões foi maior do que o custo com os salários que teria pago se não
tivesse demitido.
A partir daquele final de 2008, Lula fez o que
restava ao governo fazer para impedir um cataclismo social: usou os
investimentos públicos para reaquecer a economia. O BNDES e os demais bancos
públicos aumentaram exponencialmente os empréstimos, elevando a taxa de
concessão de crédito e impedindo a economia de afundar. E programas imensos de
obras públicas, como o PAC, foram implantados.
Eis que o Brasil chega a 2010 com um nível de
crescimento chinês (quase 8%). Lula faz a sucessora até com certa facilidade e
José Serra sai da campanha eleitoral desmoralizado, pois estivera entre os
arautos do desastre
anunciado, prevendo que o Brasil iria ao inferno por conta de uma crise que
ainda demoraria alguns anos para se fazer sentir de verdade no país.
A crise mundial de 2008 teve como motor,
basicamente, a retração dos investimentos e do comércio internacional dos
países ricos, ou seja, dos Estados Unidos e da Europa. Porém, como o comércio
exterior representa cerca de um décimo do Produto Interno Bruto brasileiro, a
forte redução do comércio internacional pouco nos afetou, pois a redução da
atividade econômica internacional foi compensada pelo nosso gigantesco mercado
interno.
Ironicamente, este blogueiro, apesar de apoiar os
governos do PT desde a primeira hora (2003), foi muito mais afetado pela crise
internacional do que a quase totalidade dos brasileiros, pois se dedicava –
como continua se dedicando – ao comércio exterior.
Eis que chega o primeiro ano do primeiro governo
Dilma. A presidente chega ao poder com um país economicamente arrumado, com a
economia em ritmo forte. Porém, Dilma sofria de um erro de avaliação. Estava
convencida de que a guerra com a mídia que permeou a maior parte dos dois
governos Lula, poderia acabar com alguns gestos de boa vontade.
Triste engano do qual ela só se daria conta plenamente a
partir do junho negro de 2013.
Voltando à história, em 2011 o ministério
recém-montado por Dilma foi sendo desmontado pela mídia. A partir da queda do
então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, por conta de ter comprado um imóvel
caro – ainda que não houvesse qualquer irregularidade –, assim como este Blog
vaticinou à época que ocorreria se a presidente cedesse aos pedidos da cabeça
dele, os demais ministros foram caindo um a um.
A progressiva destruição do ministério só foi
interrompida quando chegou ao então ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio, Fernando Pimentel, amigo íntimo de Dilma.
Uma dessas demissões de ministros em 2011,
porém, entrou para a história como uma das maiores injustiças que se viu na
política brasileira. O comunista Orlando Silva, ministro do Esporte, foi
demitido pelas acusações de um bandido. Porém, nada nunca se comprovou contra
ele. Mas ficou por isso mesmo.
O pior é que, assim como hoje, o estopim da
primeira crise do governo Dilma (2011) foi aceso pelos mesmos setores da
esquerda – inclusive do PT – que agora tratam de torpedear o ministério
recém-anunciado por Dilma.
Esses setores não gostavam do perfil do petista
Palocci. Atribuíam a ele políticas “neoliberais” do governo Lula que nunca
foram de Palocci, mas do próprio Lula, conforme ele me relatou em encontro que
tivemos em junho deste ano, quando também revelou que o imóvel que derrubou
Palocci não passava de um apartamento de classe média alta num bairro nobre,
apesar de ter sido pintado como “uma mansão”.
Enfim, apesar de Dilma ter interrompido o boliche
midiático de ministros de 2011, a mídia se conformou temporariamente e 2012 foi
um ano tranquilo, politicamente, ao menos até agosto, quando teria início o
julgamento do mensalão.
O interlúdio do bombardeio político-midiático
ocorreu apenas porque os que bombardeavam contavam com os efeitos políticos do
julgamento do mensalão. No entanto, esses efeitos só começariam a se fazer
sentir alguns meses depois do fim daquele processo no STF.
Em junho de 2013, eclodem as famigeradas
“jornadas de junho”, um processo que congregou a ultraesquerda e a
ultradireita, que marcharam lado a lado brandindo as condenações do julgamento
do mensalão, tachando o PT de “partido da corrupção”, chegando ao cúmulo de expulsarem petistas
de manifestações aos socos e pontapés.
Em míseros 30 dias, a popularidade de Dilma caiu quase
pela metade. Na primeira semana de junho de 2013, a gestão dela era considerada
boa ou ótima por 57% dos brasileiros. Três semanas depois, apenas 30% aprovavam
seu governo. Nunca se viu fenômeno igual na história recente.
Devido à convulsão social que tomou conta do país
a partir de um movimento desencadeado pela ultraesquerda sob uma desculpa
esfarrapada – um aumento de míseros 20 centavos no preço das passagens de
ônibus em São Paulo –, alguns governantes de direita sentiram um pouco desse
efeito político negativo, mas logo se recuperaram porque aquele movimento
visava, basicamente, desmoralizar o governo Dilma e o PT.
Alckmin, que ajudou a inflar aquela crise pondo a
sua polícia para espancar manifestantes, reelegeu-se neste ano, em primeiro
turno, com votação recorde. Enquanto isso, Dilma quase perdeu a eleição, o que
mostra que foi a principal vítima das jornadas de junho, apoiadas pelos mesmos
que apoiaram a derrubada de Palocci em 2011, o que fez Dilma perder o seu
primeiro ano com o boliche ministerial.
Em 2014, ano de Copa do Mundo, os grupos de
esquerda e ultraesquerda que, aliados até a neonazistas em junho de 2013,
ajudaram a desestabilizar Dilma politicamente, voltaram à carga com o movimento
“Não Vai Ter Copa”. Eis que o Brasil chega à competição desanimado, prevendo
desastre na organização do evento, mas vitória em campo.
Ocorreu o contrário. A organização do evento foi
um êxito
total, mas, em campo, a Seleção jogou como se estivesse em campo adversário e
sofreu uma derrota acachapante. Muitos acreditam – eu entre eles – que o clima
político interferiu no psicológico dos jogadores.
A derrota em campo na Copa ofuscou a vitória fora
de campo, na organização. Eis que os brasileiros chegam à eleição presidencial
mal-humorados contra Dilma, que, por pouco, não foi derrotada, o que só não
ocorreu porque aquele que poderia vencê-la é tão ruim que assustou a maioria dos
brasileiros com propostas que deixaram claro que promoveria uma grande
recessão, com demissões em massa e arrocho salarial.
Esse flashback histórico que você acaba de ler
serviu como pano de fundo para a gestão da economia ao longo dos quatro anos
que se completarão no próximo dia 1º de janeiro.
A pergunta que se faz, portanto, é sobre como
Dilma conseguiu manter o desemprego em queda e os salários em alta diante de
uma hecatombe política dessa magnitude. Quantos países resistiriam a uma
sabotagem como essa?
Apesar de Dilma ter preservado a qualidade de
vida do povo, o crescimento despencou. Porém, não despencou a ponto de virar
recessão, como seria natural em uma situação de quase guerra civil que o país
vem vivendo desde meados de 2013.
O terrorismo econômico da mídia já dura mais de
seis anos inibindo investimentos. Nos primeiros dois anos, não teve sucesso.
Mas, a partir do fim de 2012, esse terrorismo conseguiu praticamente paralisar
a economia, que só não parou completamente porque Dilma vem tocando programas
gigantescos de obras de infraestrutura.
Contudo, cumpre-me vaticinar que os elementos que
vêm minando o governo Dilma desde 2011 já começam a produzir os efeitos
pretendidos por seus autores. Já são 6 anos de bombardeio econômico e 12 anos
de bombardeio político ininterruptos. E, o que é pior, um bombardeio que parte
da direita, mas que também parte da esquerda, ou de setores da esquerda.
Os mesmos grupos políticos de esquerda que
geraram o boliche ministerial em 2011, que convulsionaram o país em 2013, que
transformaram a Copa do Mundo em um desastre político em 2014, agora ensaiam
novas ações em 2015 que podem, no limite, custar o mandato de Dilma e a
ascensão de um governo que, ironicamente, irá penalizar muito mais os setores
da esquerda que tanto têm colaborado com a direita.
Concluo este arrazoado, pois, com um apelo aos
setores da esquerda que até podem achar que estão no caminho certo, mas que, em
verdade, estão causando um mal terrível ao país: deixem a presidente Dilma
respirar.
Parem de colaborar
com essa direita fascista, racista, que, na verdade, quer acabar com setor da
esquerda que tanto a tem ajudado.
Fonte: Eduardo Guimarães do BLOG DA CIDADANIA
ATENÇÃO: as palavras na cor vermelha
constam originariamente no texto, mas os destaques são deste BLOGUEIRO.