Publicado nesta quarta, 17 Julho 2013 23:10, escrito
por Daniel Pearl
Por Emir Sader
- Carta Maior:
A sociedade brasileira teve sempre a discriminação
como um dos seus pilares. A escravidão, que desqualificava, ao mesmo tempo, os
negros e o trabalho – atividade de uma raça considerada inferior – foi
constitutiva do Brasil, como economia, como estratificação social e como
ideologia.
Uma sociedade que nunca foi majoritariamente
branca, teve sempre como ideologia dominante (a da elite branca), sempre
presidiram o país, ocuparam os cargos mais importantes nas FFAA, nos bancos,
nos ministérios, na direção das grandes empresas, na mídia, na direção dos
clubes – em todos os lugares em que se concentra o poder na sociedade,
estiveram sempre os brancos.
A elite paulista representa melhor do que qualquer
outro setor, esse ranço racista. Nunca assimilaram a Revolução de 1930, menos
ainda o governo do Getúlio. Foram derrotados sistematicamente pelo Getúlio e
pelos candidatos que ele apoiou. Atribuíam essa derrota aos “marmiteiros”-
expressão depreciativa que a direita tinha para os trabalhadores, uma forma
explícita de preconceito de classe.
A ideologia separatista de 1932 – que considerava São Paulo “a locomotiva da
nação”, o setor dinâmico e trabalhador, que arrastava os vagões preguiçosos e
atrasados dos outros estados – nunca deixou de ser o sentimento dominante da
elite paulista em relação ao resto do Brasil.
Os trabalhadores imigrantes, que construíram a
riqueza de São Paulo, eram todos “baianos” ou “cabeças chatas”, trabalhadores
que sobreviviam morando nas construções – como o personagem que comia gilete,
da música do Vinicius e do Carlos Lira, cantada pelo Ari Toledo, com o
sugestivo nome de pau-de-arara, outra denominação para os imigrantes
nordestinos em São Paulo.
A elite paulista foi protagonista essencial nas
marchas das senhoras com a igreja e a mídia, que prepararam o clima para o
golpe militar e o apoiaram, incluindo o mesmo tipo de campanha de 1932, com
doações de joias e outros bens para a “salvação do Brasil”- de que os militares
da ditadura eram os agentes salvadores.
Terminada a ditadura, tiveram que conviver com o
Lula como líder popular e o Partido dos Trabalhadores, para o qual canalizaram
seu ódio de classe e seu racismo. Lula é o personagem preferencial desses
sentimentos, porque sintetiza os aspectos que a elite paulista mais detesta:
nordestino, não branco, operário, esquerdista, líder popular.
Não bastasse sua imagem de nordestino, de
trabalhador, sua linguagem, seu caráter, está na sua mão: Lula perdeu um dedo
não em um jet-sky, mas na máquina, como operário metalúrgico, em um dos tantos
acidentes de trabalho cotidianos, produto da super exploração dos
trabalhadores. O dedo de uma mão de operário, acostumado a produzir, a
trabalhar na máquina, a viver do seu próprio trabalho, a lutar, a resistir, a
organizar os trabalhadores, a batalhar por seus interesses. Está inscrito no
corpo do Lula, nos seus gestos, nas suas mãos sua origem de classe. É
insuportável para o racismo da elite paulista.
Essa elite racista teve que conviver com o sucesso dos governos Lula, depois do
fracasso do seu queridinho – FHC, que saiu enxotado da presidência – e da sua
sucessora, a Dilma. Tem que conviver com a ascensão social dos trabalhadores,
dos nordestinos, dos não brancos, da vitória da esquerda, do PT, do Lula, do
povo.
O ódio a Lula é um ódio de classe, vem do profundo da
burguesia paulista e de setores da classe média que assumem os valores dessa
burguesia. O anti-petismo é expressão disso. Os tucanos são sua representação
política.
Da discriminação, do racismo, do pânico diante da
ascensão das classes populares, do seu desalojo da direção do Estado, que
sempre tinham exercido sem contrapontos. Os Cansei, a mídia paulista, os
moradores dos Jardins, os adeptos do FHC, do Serra, do Gilmar, dos otavinhos –
derrotados, desesperados, racistas, decadentes.
Fonte: Blog da Dilma
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