domingo, 14 de julho de 2013

SOBRE (o mestre Graciliano Ramos) !!!

A pequena cidade histórica de Paraty-RJ preparou seu cenário para homenagear, em sua 11ª edição da Flip, o mais ilustre escritor alagoano, Graciliano Ramos. Além da programação oficial que centralizava o evento e esgotava a procura dos ingressos – ocupando a tenda e o telão dos autores –, em cada canto da cidade havia, no circuito externo e literário, uma vasta programação off que anunciava temáticas a respeito do Mestre Graça.

Nós, os alagoanos em Paraty, ficamos encantados com as exposições que davam destaque ao cenário do romance Vidas Secas (talvez porque ele retratasse melhor as mazelas do Nordeste e o estilo – também seco – de seu autor), enquanto as praças do Centro Histórico misturavam elementos do folclore nordestino em seus personagens anônimos e inanimados. Sentimos falta – isso, sim! – de imagens que marcassem sua passagem em nossa Alagoas, de elementos – mesmo figurativos – que sugerissem a universalidade de seus escritos, a sua multiplicidade e modernidade diante de temas até hoje em voga, ressaltando, acima de tudo, a ética à frente de todas as suas realizações.

Para Graciliano, ler e escrever são oriundos da capacidade de ler também o mundo. A reflexão surge como leitura de emoção e contenção, em sua capacidade de apontar para nós a sua observação e vivência de mundo, mostrando-se humanamente humano, contrastando com seu estilo enxuto e conciso. Foram as vicissitudes enfáticas para a construção de sua prosa romanesca, cuja temática abordada é “marcada por forte inserção nos contextos sociopolíticos e econômicos, pela solidariedade com os oprimidos e pelo compromisso com o ideal da emancipação humana”, conforme ressaltou o escritor e palestrante Dênis de Moraes. Antes de se tornar político, foi professor e sentiu de perto as deficiências do magistério, sem a regalia de outras profissões, ao ponto de exercer também um “magistério matuto, voluntário e gratuito” no interior palmeirense e também pensar no professor como o principal responsável pelas mudanças de seu (e do nosso) tempo.

Num dos dias do evento, as ruas de Paraty foram percorridas por grupos de jovens em protesto contra tudo que está errado no Brasil. Graciliano, protagonista da festa e do momento, certamente assistia a tudo e fumava incontáveis cigarros, jogando baforadas que se misturavam à fumaça dos participantes, enquanto soltava um suspiro aliviado pela seriedade do ato, humano, livre e ético, conforme ele um dia ensinou...



Por ISVÂNIA MARQUES, professora e escritora.
 

Nenhum comentário: