quarta-feira, 13 de março de 2013

A pequena e polêmica história da MPB !!

Fora de catálogo há 22 anos, o livro do crítico José Ramos Tinhorão percorre 300 anos de música popular no Brasil
Às gerações de músicos brasileiros que surgiram a partir da década de 1950, ele certamente não passou despercebido. O crítico musical José Ramos Tinhorão, desde 1951, colabora com a imprensa, tendo publica em veículos como o Jornal do Brasil, Veja e O Pasquim. E se, por suas inserções na imprensa, colecionou desafetos - não poupou críticas a Chico Buarque, discutiu com Paulinho da Viola e foi ferrenho com mitos da bossa nova como Tom Jobim e João Gilberto - por seus livros, não poderia deixar por menos.

O maestro Pixinguinha, um dos artistas admirados pelo rigoroso José Ramos Tinhorão

Criterioso e dedicado à pesquisa, seus livros (publicou mais de vinte) são verdadeiros tratados sobre a música popular brasileira, repleto de referências documentais sobre a história dos mais diversos gêneros e ritmos de nosso cancioneiro, e de outras tantas e questionáveis análises do autor. Muitos deles já fora de catálogo.

Era o caso de "Pequena história da música popular segundo seus gêneros", livro publicado originalmente em 1974 e que ganha suas sétima edição este ano, pela Editora 34. Em edições passadas o livro vendeu mais 50 mil exemplares e desde 1991 não era reeditado. Para a sétima edição, o autor incluiu notas de rodapé com fontes e documentos citados, além de um índice bibliográfico das obras consultadas.

O livro percorre em 352 páginas os 300 anos de música popular brasileira, nascida, segundo o autor com as modinhas do século XVIII, passando pelo lundu, maxixe, o choro. Tinhorão faz um recorte em que define a música popular como criação urbana - com autores identificados e registradas, seja por meios gráficos ou via gravação - em oposição à música folclórica. Da música que surge no século XX, entram ainda ritmos como o samba, em suas diversas vertentes - enredo, canção, de breque - o frevo, o baião a bossa nova e o tropicalismo.

Fica de fora a música considerada pelo autor como uma importação forçada de modelos estrangeiros. Inclua-se aí o iê-iê-iê, o rock dos anos 1980. As duras críticas à importação de valores musicais não perdoa seque a bossa nova e o tropicalismo, cujas críticas renderam várias polêmicas no meio musical.

Pesquisa
Polêmicas justificáveis. Ao intenso trabalho de pesquisa da música popular brasileira, Tinhorão alia, em sua escrita o peso de seus julgamentos. Não titubeia em criticar figuras como "Catulo da Paixão Cearense", autor das belas "Luar do Sertão" e "Súplica Cearense". Em seu artigo sobre a modinha, que abre o livro, Tinhorão expõe de maneira pejorativa o tino do maranhense em se auto divulgar, sobressaindo-se a artistas da época.

"A bossa nova e a canção de protesto" é sem dúvida, um dos capítulos mais polêmicos. O ritmo, analisa Tinhorão, representou o "afastamento definitivo do samba de suas fontes populares", retirando-lhe o que restava de originalidade, o ritmo, em favor jazz norte-americano. Segundo o próprio, um novo exemplo de alienação das elites brasileiras.

Tinhorão deixa ainda de fora do seu inventário manifestações como o "ie-iê-iê", uma "diluição comercial" dos Beatles no Brasil.

Das mais recentes criações da música popular incorporadas, estão a guarânia e a lambada. Ambos classificados como "gêneros nacionalizados", foram incorporados da influência estrangeira - recebida do Paraguai, no primeiro caso, e do merengue caribenho, no segundo. Estão no livro, justifica autor, por terem sido gestados de maneira natural e democrática. A lambada, apareceu no Pará na década de 1970. Vinte anos depois, em 1990, foi forjada como sucesso mundial pela indústria. No ano de seu lançamento na França, alerta o autor, foi tema de seis filmes lançados simultaneamente no segundo semestre de 1989 e início de 1990. "Serve para demonstrar, de maneira exemplar, o grau de manipulação que a indústria da música popular atingia", analisa.

Sem dúvida, imprescindível aos estudiosos de nossa música popular, o livro é ainda um exercício de amor e ódio às opiniões despejadas.

LIVRO
Pequena história da música popular - Segundo seus gêneros
José Ramos Tinhorão
Editora 34
2013, 352 páginas
R$ 49



Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1241061#ixzz2NPi2WKzJ

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