- Publicado em Domingo, 09 Dezembro 2012 22:27
- Escrito por Jussara Seixas
Niemeyer, Boff, o escaravelho e o idiota
Segundo o pensador Leonardo Boff, Veja
e seu blogueiro albergado não gostam do Brasil e dos brasileiros; ele
diz ainda que Reinaldo Azevedo, que chamou o arquiteto Oscar Niemeyer
de "metade gênio e metade idiota", é um "consumado idiota"; leia seu
artigo 247.
– O pensador Leonardo Boff respondeu,
num artigo, às críticas do blogueiro de Veja Reinaldo Azevedo contra
Oscar Niemeyer. Para Reinaldo, que publicou três textos sobre o assunto
em seu blog, o brilhante arquiteto brasileiro era "metade gênio e
metade idiota". Em seu último post, o colunista menciona que Niemeyer
foi a capa da última edição da revista, "com todas as honras". De
acordo com o filósofo, Reinaldo se assemelha a um escaravelho,
popularmente chamado de besouro rola-bosta, "que vive dos excrementos
de animais herbívoros, fazendo rolinhos deles com os quais, em sua
toca, se alimenta". Boff diz que "algo semelhante fez o blog de Azevedo
na VEJA online: foi buscar excrementos de 60 e 70 anos atrás" para
atacar o artista brasileiro. Como muitos leitores do blogueiro diante
dos posts sobre Niemeyer, o filósofo assegura: "Quem diz ser Oscar
Niemeyer um idiota apenas revela que ele mesmo é um idiota consumado".
Leia abaixo a íntegra de seu artigo: Oscar Niemeyer, a Veja online e o
Escaravelho Com a morte de Oscar Niemeyer aos 104 anos de idade
ouviram-se vozes do mundo inteiro cheias de admiração, respeito e
reverência face a sua obra genial, absolutamente inovadora e
inspiradora de novas formas de leveza, simplicidade e elegância na
arquitetura. Oscar Niemeyer foi e é uma pessoa que o Brasil e a
humanidade podem se orgulhar. E o fazemos por duas razões principais: a
primeira, porque Oscar humildemente nunca considerou a arquitetura a
coisa principal da vida; ela pertence ao campo da fantasia, da invenção
e do lúdico. Para ele era um jogo das formas, jogado com a seriedade
com que as crianças jogam. A segunda, para Oscar, o principal era a
vida. Ela é apenas um sopro, passageira e contraditória. Feliz para
alguns mas para as grandes maiorias cruel e sem piedade. Por isso, a
vida impõe uma tarefa que ele assumiu com coragem e com sérios riscos
pessoais: a da transformação. E para transformar a vida e torná-la
menos perversa, dizia, devemos nos dar as mãos, sermos solidários uns
para com os outros, criarmos laços de afeto e de amorosidade entre
todos. Numa palavra, nós humanos devemos aprender a nos tratar
humanamente, sem considerar as classes, a cor da pele e o nível de sua
instrução. Isso foi que alimentou de sentido e de esperança a vida
desse gênio brasileiro. Por aí se entende que escolheu o comunismo como
a forma e o caminho para dar corpo a este sonho, pois, o comunismo, em
seu ideário generoso, sempre se propôs a transformação social a partir
das vítimas e dos mais invisíveis. Oscar Niemeyer foi um fiel militante
comunista. Mas seu comunismo era singular: no meu modo de ver, próximo
dos cristãos originários pois era um comunismo ético, humanitário,
solidário, doce, jocoso, alegre e leve. Foi fiel a esse sonho a vida
inteira, para além de todos os avatares passados pelas várias formas de
socialismo e de marxismo. Na medida em que pudemos observar, a grande
maioria da opinião pública mundial, foi unânime na celebração de sua
arte e do significado humanista de sua vida. Curiosamente a revista
VEJA de domingo, dedica-lhe 10 belas páginas. Outra coisa, porém, é a
revista VEJA online de 7 de dezembro com um artigo do blog do
jornalista Reinado Azevedo que a revista abriga. Ele foi a voz
destoante e de reles mau gosto. Até agora a VEJA não se distanciou
daquele conteúdo, totalmente, contraditório àquele da edição impressa
de domingo. Entende-se porque a ideologia de um é a ideologia do outro.
Pouco importa que o jornalista Azevedo, de forma confusa, face às
críticas vindas de todos os lados, procure se explicar. Ora se
identifica com a revista, ora se distancia, mas finalmente seu blog é
por ela publicado. Notoriamente, VEJA se compraz em desfazer as figuras
que melhor mostram nossa cultura e que mais penetraram na alma do povo
brasileiro. Essa revista parece se envergonhar do Brasil, porque
gostaria que ele fosse aquilo que não é e não quer ser: um xerox
distorcido da cultura norte-americana. Ela dá a impressão de não amar
os brasileiros, ao contrário expõe ao ridículo o que eles são e o que
criam. Já o titulo da matéria referente a Oscar Niemeyer da autoria de
Azevedo, revela seu caráter viciado e malevolente: "Para instruir a
canalha ignorante. O gênio e o idiota em imagens". Seu texto piora mais
ainda quando, se esforça, titubeante, em responder às críticas em seu
blog do dia 8/12 também na VEJA online com um título que revela seu
caráter despectivo e anti-democrático:"Metade gênio e metade idiota-
Niemeyer na capa da VEJA com todas as honras! O que o bloco dos Sujos
diz agora?" Sujo é ele que quer contaminar os outros com a própria
sujeira de uma matéria tendenciosa e injusta. O que se quer insinuar
com os tipos de formulação usados? Que brasileiro não pode ser gênio;
os gênios estão lá fora; se for gênio, porque lá fora assim o
reconhecem, é apenas em sua terceira parte e, se melhor analisarmos,
apenas numa quarta parte. Vamos e venhamos: Quem diz ser Oscar Niemeyer
um idiota apenas revela que ele mesmo é um idiota consumado.
Seguramente Azevedo está inscrito no número bem definido por Albert
Einstein: "conheço dois infinitos: o infinito do universo e o infinito
dos idiotas; do primeiro tenho dúvidas, do segundo certeza". O
articulista nos deu a certeza que ele e a revista que o abriga possuem
um lugar de honra no altar da idiotice. O que não tolera em Oscar
Niemeyer que, sendo comunista, se mostra solidário, compassivo com os
que sofrem, que celebra a vida, exalta a amizade e glorifica o amor.
Tais valores não cabem na ideologia capitalista de mercado, defendida
por VEJA e seu albergado, que só sabe de concorrência, de "greed is
good" (cobiça é coisa boa), de acumulação à custa da exploração ou da
especulação, da falta de solidariedade e de justiça em nível
internacional. Mas não nos causa surpresa; a revista assim fez com
Paulo Freire, Cândido Portinari, Lula, Dom Helder Câmara, Chico
Buarque, Tom Jobim, João Gilberto, frei Betto, João Pedro Stédile,
comigo mesmo e com tantos outros. Ela é um monumento à razão cínica.
Segue desavergonhadamente a lógica hegeliana do senhor e do servo;
internalizou o senhor que está lá no Norte opulento e o serve como
servo submisso, condenado a viver na periferia. Por isso tanto a
revista quanto o articulista revelam um completo descompromisso com a
verdade daqui, da cultura brasileira. A figura que me ocorre deste
articulista e da revista semanal, em versão online, é a do escaravelho,
popularmente chamado de rola-bosta. O escaravelho é um besouro que vive
dos excrementos de animais herbívoros, fazendo rolinhos deles com os
quais, em sua toca, se alimenta. Pois algo semelhante fez o blog de
Azevedo na VEJA online: foi buscar excrementos de 60 e 70 anos atrás,
deslocou-os de seu contexto (ela é hábil neste método) e lançou-os
contra Oscar Niemeyer. Ela o faz com naturalidade e prazer, pois, é o
meio no qual vive e se realimenta continuamente. Nada de surpreendente,
portanto. Paro por aqui. Mas quero apenas registrar minha indignação
contra esta revista, em versão online, travestida de escaravelho por
ter cometido um crime lesa-fama. Reproduzo igualmente dois testemunhos
indignados de duas pessoas respeitáveis: Antonio Veronese, artista
plástico vivendo em Paris e João Cândido Portinari, filho do genial
pintor Cândido Portinari, cujas telas grandiosas estão na entrada do
edifício da ONU em Nova York e cuja imagem foi desfigurada e deturpada,
repetidas vezes, pela revista-escaravelho. Oscar Niemeyer e a imprensa
tupiniquim - Antonio Veronese Crítica mesquinha, que pune o Talento,
essa ousadia imperdoável de alçar os cornos acima da manada. No Brasil,
Talento, como em nenhum outro país do mundo, é indigerível por parte da
imprensa, que se acocora, devorada por inveja intestina. Capitania
hereditária de raivosos bufões que já classificou a voz de Pavarotti de
ruído de pia entupida; a música de Tom Jobim de americanizada; João
Gilberto de desafinado e Cândido Portinari de copista... Quando morre
um homem de Talento, como agora o grande Niemeyer, os raivosos bufões
babam diante do espelho matinal sedentos de escárnio. Não discuto a
liberdade da imprensa. Mas a pergunta que se impõe é como um cidadão,
com a dimensão internacional de Oscar Niemeyer, (sua morte foi
reverenciada na primeira página de todos os grandes jornais do mundo)
pode ser chamado, por um jornalista mequetrefe, num órgão de imprensa
de cobertura nacional, de metade-gênio-metade idiota? Isso após sua
morte, quando não é mais capaz de defender-se, e ainda que sob a
desculpa covarde, de reproduzir citação de terceiros...
O consolo que
me resta é que a História desinteressa-se desses espasmos da estupidez.
Quem se lembra hoje dos críticos da bossa nova ou de Villa-Lobos? Ao
talent, no entanto, está reservada a reverência da eternidade.
Antonio Veronese
Um comentário:
Há cretinos em todas as camadas da sociedade. Até nas religiões onde não deveriam. Na imprensa brasileira é uma EXCEÇÃO não haver essa raça maligna. FAZ PARTE. Os agourentos, exemplo típico é o do artigo, numa revistinha de pura excrência sebosa tentam, tentam, mas não conseguirão, apesar dos apoios implícitos e explícitos dos poderos do poder PODRE e POLÍTICO de nosso PAÍS. Imundos SÃO todos.
Lara de Santana
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