domingo, 11 de janeiro de 2015

Meus ouvidos pedem SOCORRO ! ! !

                                                                Charge cedida gentilmente por Geneceuda Monteiro


BOSSA NOVA

Para Marcos Napolitano, “por volta de 1965”, houve uma redefinição do que se entendia como Música Popular Brasileira, aglutinando uma série de tendências e estilos musicais que tinham em comum a vontade de ‘atualizar’ a expressão musical do país, fundindo elementos tradicionais a técnicas e estilos inspirados na Bossa Nova, surgida em 1959. Naquele contexto foram exercitadas formas diversas de atuação de artistas e intelectuais que acreditaram na possibilidade de engajar-se politicamente, ao mesmo tempo que atuavam no mercado musical. (...) Este processo que redimensionou e consagrou a sigla MPB pode ser visto como parcialmente determinado pelas intervenções culturais que tentaram equacionar os impasses surgidos em torno do nacional-popular, tomado aqui como uma cultura política.
NAPOLITANO, Marcos. “O conceito de ‘MPB’ nos ano 60”. In História: Questões & Debates, Curitiba, n. 31, Editora da UFPR, 1999, p. 12.

A TROPICÁLIA

O universo musical brasileiro estava saindo dos embalos da bossa nova, quando mergulhou num movimento cultural contestador e vanguardista, nos anos de 1960, surgiu a Tropicália. O país estava recém-dominado pela ditadura militar, em plena efervescência social e política, lutando contra a presença dos militares no poder, contra as sementes iniciais da censura. Embora prestes a enfrentar um regime endurecido, após um golpe dentro do golpe, realizado em 1968 pela ala mais conservadora do Exército, através da promulgação do Ato Institucional número 5, a geração dos Centros Populares de Cultura, da Arena, dos movimentos estudantis, continuava a pleno vapor no exercício de uma energia criativa que parecia inesgotável.
Neste contexto nasce o movimento tropicalista, sob a inspiração da esfera pop local e da estrangeira, principalmente do pop-rock e do concretismo. A Tropicália era o espelho do sincretismo brasileiro, pois mesclava em um único caldeirão as mais diversas tendências, como a cultura popular brasileira e inovações extremas na estética. Ela pretendia subverter as convenções, transgredir as regras vigentes, tanto nos aspectos sócio-políticos, quanto nas dimensões da cultura e do comportamento da juventude.
Artistas e intelectuais de vários matizes como os cantores e compositores baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, a banda paulista Os Mutantes, o maestro e arranjador carioca Rogério Duprat, as cantoras Gal Costa, baiana, e Nara Leão, capixaba, no campo musical; os letristas José Carlos Capinan baiano e o piauiense Torquato Neto. Na arte, o desenhista gráfico, compositor, músico, escritor, poeta e intelectual baiano Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais. O carioca escultor e artista plástico Hélio Oiticica e outros criadores nas Artes Plásticas; o baiano Glauber Rocha e seu Cinema Novo na esfera audiovisual; e o paulista José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, encenador, dramaturgo, ator e diretor de teatro.
Os festivais da TV Record simbolizaram naquele momento a arena na qual estes antagonismos mais se traduziram, gerando controvérsias e empolgando platéias, divididas entre seus ídolos e sonhos distintos. Nestes palcos vieram à luz canções como Alegria, Alegria, de Caetano, e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, na terceira versão deste famoso festival, em 1967. As posições do público eram acirradas, já que muitos dos presentes eram estudantes de esquerda, que viam no uso de guitarras e no rock símbolos do domínio dos EUA. Mas o júri e uma boa parte dos que testemunhavam este momento histórico, de seus lugares no auditório, receberam muito bem esta novidade. Assim, a composição de Gil tornou-se vice-campeã, ao lado da vencedora Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, enquanto Alegria, Alegria, embora tenha ocupado o quarto lugar, virou campeã de execução nas rádios brasileiras.
Os críticos do Tropicalismo o consideravam uma corrente cultural sem nenhum engajamento político, o qual era quase um requisito obrigatório, nesta época, para se passar pelo crivo da crítica. Porém, os próprios tropicalistas não pretendiam se enquadrar nesta categoria, pois não eram revolucionários no conteúdo tradicional, mas sim na estética. Esta era realmente sua forma de subverter os padrões vigentes na época.

NOSSO CAOS AUDITIVO

"Me chama de cachorra, que eu faço au-au/Me chama de gatinha, que eu faço miau”.

“A éguinha pocotó não dá mole pra ninguém.”

“Meu pai é foda, eu sou fodinha.”

“Eu sou o rei do cabaré, não posso ver mulher.”

“Eu sou da bagaceira, gosto da putaria/comigo é vucu-vucu na bichinha/tome, tome safadinha.”

“Muriçoca pica, muriçoca pica!/ninguém consegue dormir/porque muriçoca pica!”  

A que ponto chegou nosso aparelho auditivo ter que suportar músicas caóticas desta dimensão. Os imbecis, idiotas e insensatos “curtem” este tipo de sujeira auditiva com vangloreios em seus possantes automóveis. É a nata do subdesenvolvimento musical de um povo tão cheio de ginga e malemolência. As emissoras de Rádio e TV’s(?) afloram um consumo exacerbado deste lixo. É uma pena.

Não que seja por falta de “cantantes” e compositores competentes e sensíveis em nosso meio que não ouçamos BELAS canções, como Adriana Maciel, Diogo Nogueira, Mariana Aydar, Ceumar, Anna Luisa, Celso Machado, Arlindo Cruz, OS NONATOS, Rogério e os Cabra, Maciel Melo, Roberto Diamanso, Maria Preá, Kléber Albuquerque, Xangai, Vital Farias, Elomar, Marina de La Riva, Jussara Silveira, Roberta Sá, Fabiana Cozza, Banda Dona Zefinha Walter Franco, VANDER LEE, Virgínia Rosa, Marina Machado, Silvério Pessoa, Cátia de França, JESSIER QUIRINO, Márcio Faraco, Édson Cordeiro, Jura Figueiredo, Eliezer Setton entre tantos outros/as no mesmo naipe. É o maldito e cruel mundo fonográfico-radiofônico-televisivo e seus exploradores capitalistas. Claro que só “fa(e)zem” essas bagaceiras porque há ouvintes. Infelizmente há.

COMO É TERRÍVEL OUVIR MÚSICAS COM CONTEÚDOS ALARMADOS E DESCONEXOS COM O BOM SENSO MUSICAL, pois música é ARTE – ou deveria ser.

Acesse http://maspt.blogspot.com.br/2011/06/degradacao-da-mulher-na-musica.html e LEIA “O vocabodário e as vocabodagens linguísticas...” da jornalista e escritora paraibana Geneceuda Monteiro.

“Como pai vejo meu clone/na feição do meu menino/é meu sangue que circula/é minha voz quando ecoa/se a dor é de doer nele/em mim prefiro que doa/meu filho é meu coração/batendo noutra pessoa." - OS NONATOS, na música “Pequeno Príncipe”.

“Romântico é uma espécie em extinção/românticos são poucos/românticos são loucos desvairados/que querem ser o outro/que pensam que o outro é o paraíso/românticos são lindos/românticos são limpos e pirados/que choram com baladas/que amam sem vergonha e sem juízo/são tipos populares/que vivem pelos bares/e mesmo certos vão pedir perdão/que passam a noite em claro/conhecem o gosto raro/de amar sem medo de outra desilusão/românticos são loucos como eu/românticos são loucos/românticos são poucos como eu, como eu.” - VANDER LEE, na música “Românticos”.

“Se eu tivesse o folego de uma cigarra/e avuasse que nem um carcará/e tivesse o poder de desvendar o segredo de um pezin d maliça/que so fecha a porta pra ir pra missa/ao toque dum muleque mal ouvido e pudesse entender todo mugido/dos meus boi no currá cheirando a mel/sem poder declamar o meu cordel/preferia dez vez nem ter nascido.” - ROGÉRIO E O CABRA, na música “Meu Cordel”.

“Conheci um cantadô ossudo e valente/que mandava aos homens o mal vezes crente/mas um dia ele tocou nos batente d'u'a janela/e o bicho do amor mucambado e'u'a donzela/e o cantadô aos pouco foi se paixonan'o pu' ela/té que um dia ficô louco de tanto cantar pa cela/e hoje velho pela estrada, resmungando que é culpada/ferrucama da janela, da-epela'-dá, dá-'e- na." - XANGAI, na música “Desafio do Auto da Catingeira”.

“Não mude de corte, nem pinte os cabelos/você faz moda, sem seguir modelos/aneís, pulseiras e brincos pra quê?/você usa jóia, se a jóia é você." - OS NONATOS, na música “Amar seus Defeitos”.

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