Charge cedida gentilmente por Geneceuda Monteiro
BOSSA NOVA
Para
Marcos Napolitano, “por volta de 1965”, houve uma redefinição do que se
entendia como Música Popular Brasileira, aglutinando uma série de tendências e estilos musicais
que tinham em comum a vontade de ‘atualizar’ a expressão musical do país, fundindo
elementos tradicionais a técnicas e estilos inspirados na Bossa Nova, surgida em 1959. Naquele contexto foram exercitadas
formas diversas de atuação de artistas e intelectuais que acreditaram na
possibilidade de engajar-se politicamente, ao mesmo tempo que atuavam no
mercado musical. (...) Este processo que redimensionou e consagrou a sigla MPB
pode ser visto como parcialmente determinado pelas intervenções culturais que
tentaram equacionar os impasses surgidos em torno do nacional-popular, tomado
aqui como uma cultura política.
NAPOLITANO,
Marcos. “O conceito de ‘MPB’ nos ano 60”. In História: Questões & Debates,
Curitiba, n. 31, Editora da UFPR, 1999, p. 12.
A TROPICÁLIA
O
universo musical brasileiro estava saindo dos embalos da bossa nova, quando
mergulhou num movimento cultural contestador e
vanguardista, nos anos de 1960, surgiu a Tropicália. O país estava recém-dominado pela ditadura militar,
em plena efervescência social e política, lutando contra a presença dos
militares no poder, contra as sementes iniciais da censura. Embora prestes a
enfrentar um regime endurecido, após um golpe dentro do golpe, realizado em
1968 pela ala mais conservadora do Exército, através da promulgação do Ato
Institucional número 5, a geração dos Centros Populares de Cultura, da Arena, dos
movimentos estudantis, continuava a pleno vapor no exercício de uma energia
criativa que parecia inesgotável.
Neste
contexto nasce o movimento tropicalista, sob a inspiração da esfera pop local e
da estrangeira, principalmente do pop-rock e do concretismo. A Tropicália era o espelho do sincretismo
brasileiro, pois mesclava em um único caldeirão as mais diversas tendências,
como a cultura popular brasileira e inovações
extremas na estética. Ela pretendia subverter as convenções, transgredir as
regras vigentes, tanto nos aspectos sócio-políticos, quanto nas dimensões da
cultura e do comportamento da juventude.
Artistas
e intelectuais de vários matizes como os cantores e compositores baianos
Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, a banda paulista Os Mutantes, o maestro
e arranjador carioca Rogério Duprat, as cantoras Gal Costa, baiana, e Nara
Leão, capixaba, no campo musical; os letristas José Carlos Capinan baiano e o
piauiense Torquato Neto. Na arte, o desenhista gráfico, compositor, músico,
escritor, poeta e intelectual baiano Rogério Duarte como um de seus principais
mentores intelectuais. O carioca escultor e artista plástico Hélio Oiticica e
outros criadores nas Artes Plásticas;
o baiano Glauber Rocha e seu Cinema Novo na esfera audiovisual; e o paulista José
Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, encenador, dramaturgo, ator e diretor de teatro.
Os
festivais da TV Record simbolizaram naquele momento a arena na qual estes
antagonismos mais se traduziram, gerando controvérsias e empolgando platéias,
divididas entre seus ídolos e sonhos distintos. Nestes palcos vieram à luz
canções como Alegria, Alegria, de
Caetano, e Domingo no Parque, de
Gilberto Gil, na terceira versão deste famoso festival, em 1967. As posições do
público eram acirradas, já que muitos dos presentes eram estudantes de
esquerda, que viam no uso de guitarras e no rock símbolos do domínio dos EUA.
Mas o júri e uma boa parte dos que testemunhavam este momento histórico, de
seus lugares no auditório, receberam muito bem esta novidade. Assim, a
composição de Gil tornou-se vice-campeã, ao lado da vencedora Ponteio, de Edu Lobo e Capinam,
enquanto Alegria, Alegria, embora
tenha ocupado o quarto lugar, virou campeã de execução nas rádios brasileiras.
Os
críticos do Tropicalismo o consideravam uma corrente cultural sem nenhum
engajamento político, o qual era quase um requisito obrigatório, nesta época,
para se passar pelo crivo da crítica. Porém, os próprios tropicalistas não
pretendiam se enquadrar nesta categoria, pois não eram revolucionários no
conteúdo tradicional, mas sim na estética. Esta era realmente sua forma de subverter
os padrões vigentes na época.
NOSSO CAOS AUDITIVO
"Me chama de cachorra, que eu faço au-au/Me chama de
gatinha, que eu faço miau”.
“A éguinha pocotó não dá mole pra ninguém.”
“Meu pai é
foda, eu sou fodinha.”
“Eu sou o rei do cabaré, não
posso ver mulher.”
“Eu sou da bagaceira, gosto
da putaria/comigo é vucu-vucu na bichinha/tome, tome safadinha.”
“Muriçoca
pica, muriçoca pica!/ninguém consegue dormir/porque muriçoca pica!”
A que
ponto chegou nosso aparelho auditivo ter que suportar músicas caóticas desta
dimensão. Os imbecis, idiotas e insensatos “curtem” este tipo de sujeira
auditiva com vangloreios em seus possantes automóveis. É a nata do
subdesenvolvimento musical de um povo tão cheio de ginga e malemolência. As
emissoras de Rádio e TV’s(?) afloram um consumo exacerbado deste lixo. É uma
pena.
Não
que seja por falta de “cantantes” e compositores competentes e sensíveis em
nosso meio que não ouçamos BELAS canções, como Adriana Maciel, Diogo Nogueira,
Mariana Aydar, Ceumar, Anna Luisa, Celso Machado, Arlindo Cruz, OS NONATOS, Rogério
e os Cabra, Maciel Melo, Roberto Diamanso, Maria Preá, Kléber Albuquerque,
Xangai, Vital Farias, Elomar, Marina de La Riva, Jussara Silveira, Roberta Sá,
Fabiana Cozza, Banda Dona Zefinha Walter Franco, VANDER LEE, Virgínia Rosa,
Marina Machado, Silvério Pessoa, Cátia de França, JESSIER QUIRINO, Márcio
Faraco, Édson Cordeiro, Jura Figueiredo, Eliezer Setton entre tantos outros/as
no mesmo naipe. É o maldito e cruel mundo fonográfico-radiofônico-televisivo e
seus exploradores capitalistas. Claro que só “fa(e)zem” essas bagaceiras porque
há ouvintes. Infelizmente há.
COMO
É TERRÍVEL OUVIR MÚSICAS COM CONTEÚDOS ALARMADOS E DESCONEXOS COM O BOM SENSO
MUSICAL, pois música é ARTE – ou deveria ser.
Acesse http://maspt.blogspot.com.br/2011/06/degradacao-da-mulher-na-musica.html e LEIA “O vocabodário e as vocabodagens linguísticas...” da
jornalista e escritora paraibana Geneceuda
Monteiro.
“Como pai
vejo meu clone/na feição do meu menino/é meu sangue que circula/é minha voz quando ecoa/se a dor é de doer nele/em mim prefiro que doa/meu filho é meu coração/batendo noutra pessoa." - OS NONATOS, na música “Pequeno Príncipe”.
“Romântico é uma espécie em extinção/românticos
são poucos/românticos são loucos desvairados/que querem ser o outro/que pensam
que o outro é o paraíso/românticos são lindos/românticos são limpos e pirados/que
choram com baladas/que amam sem vergonha e sem juízo/são tipos populares/que
vivem pelos bares/e mesmo certos vão pedir perdão/que passam a noite em claro/conhecem
o gosto raro/de amar sem medo de outra desilusão/românticos são loucos como eu/românticos
são loucos/românticos são poucos como eu, como eu.” - VANDER
LEE, na música “Românticos”.
“Se eu
tivesse o folego de uma cigarra/e avuasse que nem um carcará/e tivesse o poder
de desvendar o segredo de um pezin d maliça/que so fecha a porta pra ir pra
missa/ao toque dum muleque mal ouvido e pudesse entender todo mugido/dos meus
boi no currá cheirando a mel/sem poder
declamar o meu cordel/preferia dez vez nem ter nascido.” - ROGÉRIO
E O CABRA, na
música “Meu Cordel”.
“Conheci um
cantadô ossudo e valente/que mandava aos homens o mal vezes crente/mas um dia ele tocou nos batente d'u'a janela/e o bicho do amor mucambado e'u'a donzela/e o cantadô aos pouco foi se paixonan'o pu' ela/té que um dia ficô louco de tanto cantar pa cela/e hoje velho pela estrada, resmungando que é culpada/ferrucama da janela, da-epela'-dá, dá-'e- na." - XANGAI, na música “Desafio do Auto da Catingeira”.
“Não mude de
corte, nem pinte os cabelos/você faz moda, sem seguir modelos/aneís, pulseiras
e brincos pra quê?/você usa jóia, se a jóia é você." - OS NONATOS, na música “Amar seus Defeitos”.
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