“Estão alimentando a ultra-direita”
Baiano de nascimento, Jean Wyllys é deputado federal pelo PSol do
Rio de Janeiro. Ele ficou conhecido ao participar e vencer o Big
Brother Brasil 5, e ganhou respeito depois que foi eleito em 2010. Gay
assumido, Jean Wyllys foi salvo da pobreza pela educação e sua
inteligência acima da média. Aos catorze anos foi para um colégio interno
para crianças com altas habilidades de assimilar conhecimento, venceu
a pobreza do agreste baiano, se tornou jornalista, mestre e doutor pela
Universidade Federal da Bahia. Atualmente deputado no Congresso
Nacional, dedica-se a defender os Direitos Humanos das
minorias, entre elas a causa LGBT. Ao longo das eleições
desse ano, Wyllys consolidou sua postura política ao puxar, com
outros parlamentares, uma frente no PSol defendendo o voto em
Dilma para espantar a sombra do tucanato – o partido havia
liberado seus militantes, exceto para votar em Aécio Neves.
Quais as principais conquistas do seu mandato?
Que diferença você fez no Congresso?
Jean Wyllys - A primeira
diferença é o fato de ser homossexual assumido, isso por si só já tem um
valor político muito grande. Entre os 513 deputados federais há um que se
assume homossexual e de maneira orgulhosa. Minha conduta lá
dentro, minha relação com os deputados e a maneira com que conduzo as
pautas despertam um respeito muito grande. Isso é muito importante do
ponto de vista político, porque aquele garoto, que está em Araraquara
(SP), no interior do Piauí, aquele garoto gay, que cresceu em uma
sociedade homofóbica, ao ver uma pessoa homossexual no poder, no
parlamento, na tribuna, com voz e com respeito, ele vai dizer: “É
possível”. Por isso sou tão atacado e há tanta calúnia e difamação contra
mim, promovidas por fundamentalistas religiosos e por fascistas. Eles
sabem que minha conduta e meu exemplo contraria o discurso homofóbico.
O que levou a apoiar a Dilma?
Da maneira como se desenhou a eleição no
segundo turno, era necessário que o se posicionar fosse além do muro. Se
desenhou uma polarização, em que o lado de lá, do Aécio, se congregavam forças
conservadoras, não apenas do ponto de vista econômico, como também do
comportamental e moral. Figuras que chantagearam o governo Dilma durante esses
quatro anos, miram para o lado de Aécio como ratos que abandonam o navio.
Então, o Aécio tinha o apoio de Marco Feliciano (PSC), Pastor Everaldo (PSC),
Eduardo Cunha (PMDB), Levy Fidelix (PRTB). Ele também tinha o apoio de Marina
Silva, mas era um apoio tímido. Ela apresentou algo a Aécio e ele recusou, que
era a questão da maioridade penal. Eu jamais poderia aderir a um candidato que
tem como bandeira a redução da maioridade penal. Além disso, há uma coisa nova
que é o antipetismo em algum momento também gravitou em torno da Marina. Esse
antipetismo é contrário a todas as pautas que defendo.
Você não acha que esse antipetismo beira o irracional?
Você não acha que esse antipetismo beira o irracional?
É irracional. Ele tem um preconceito de
classe, portanto classicista, ele pratica um racismo geográfico, abjeto, como a
gente viu no ataque aos nordestinos. É homofóbico, os ataques que sofri por
apoiar Dilma eram todos de natureza homofóbica e sexista. Esse antipetismo, de
tinta fascista, é contrário às minhas pautas. As esquerdas precisavam se unir,
conversei com o Marcelo Freixo (Psol-RJ) e partimos para a campanha. Foi muito
significado, porque não somos petistas e temos uma ligação muito forte com a
juventude, então a gente tirou a culpa que impedia a esquerda de defender o
governo Dilma, por tudo o que o governo fez: as traições do governo
Dilma, os recuos e as covardias nesses quatro anos. Todo mundo estava
envergonhado, mas ficou claro que, apesar de tudo isso, ainda havia espaço para
debate e o que o governo fez para a maioria do País era muito significativo.
Não podia ser perdido para um programa de governo como o do Aécio, que era sim
uma ameaça às conquistas sociais, por mais que se diga não.
Por que você acha que era uma ameaça às
conquistas?
Havia uma contradição de fundo, entre o que
o eleitor do Aécio esperava e o que ele dizia. O eleitor do Aécio esperava
cortes nos gastos com políticas sociais, considerava que o Bolsa Família é uma
esmola e um instrumento de compra de votos. Não todos, mas uma parte
considerável dos eleitores de Aécio chamava o Bolsa Família de bolsa vagabundo,
de bolsa esmola. E o Aécio dizia que iria ampliar esse programa. De fato,
existia uma contradição. Por isso decidimos entrar na campanha e unirmos as
esquerdas. Os movimentos sociais também entraram na campanha, o MTST (Movimento
dos Trabalhadores Sem-Teto), por exemplo, emitiu uma nota de apoio à Dilma. Foi
isso que fez a vitória da Dilma. Nossa ideia agora é disputar o governo e
trazê-lo mais para esquerda. A gente sabe que o governo ainda compõe com forças
conservadoras, mas o governo vem sendo traído pelo PMDB.
A primeira à esquerda
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