- Publicado em Quarta, 31 Outubro 2012
- Escrito por Jussara Seixas
Após a derrota, candidato tucano José
Serra disparou emails e telefonemas a aliados criticando a proposta de
rejuvenescimento do PSDB, feita pelo ex-presidente FHC; a ele, Serra
dirigiu impropérios impublicáveis; nesta quarta, Elio Gaspari, amigo de
Serra e FHC, sugere que o partido não renove apenas suas pessoas, mas
também suas ideias 31 de Outubro de 2012 às 08:43 247 – José Serra é,
para a política, o que Bruce Willis representa para o cinema. Em 2010,
ao ser derrotado por Dilma Rousseff, fez seu discurso dizendo um “até
breve”. Em 2012, após a derrota para Fernando Haddad, afirmou que saía
da disputa “revigorado e com ideias novas”, ou seja, pronto para
futuras batalhas. Antes mesmo da apuração das urnas, quando não se
conhecia o resultado oficial mas já se pressentia que Serra seria
derrotado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso propôs a renovação
do PSDB, ao dizer que “a renovação é necessária sempre e o Brasil está
mostrando isso mais uma vez”. Serra não gostou. E em telefonemas e
emails disparados a aliados nos últimos dias, ele passou a dizer que
“renovação é coisa do PT”, além de dirigir impropérios impublicáveis a
FHC. Ou seja: ele se mostrou disposto a continuar lutando por espaços
num partido que tenta se livrar dele. Muitos tucanos gostariam de já
sacramentar Aécio Neves como candidato à presidência em 2014 e Geraldo
Alckmin à reeleição no mesmo ano. A Serra, restaria tentar o Senado.
Ele, no entanto, não parece disposto a ceder. E assim como Bruce Willis
pode protagonizar diversas batalhas – a série “Duro de Matar” já
produziu cinco filmes e, em todas, o protagonista sobreviveu. No
entanto, nesta quarta-feira, um dos melhores amigos de José Serra (e
também de FHC), o jornalista Elio Gaspari, sugere que o PSDB renove não
apenas seus quadros, mas também suas ideiais, eliminando o que chama de
“demofobia”. Leia: Uma vinheta da eleição paulistana Elio Gaspari Em
agosto, quando o candidato Fernando Haddad prometeu a criação de um
Bilhete Único Mensal, pelo qual o cidadão poderia comprar um passe
livre para os ônibus municipais, a marquetagem tucana acusou-o de
propor uma taxa, um "bilhete mensaleiro". Dividia-se o eleitorado em
dois grupos. Um, que já foi a Londres, Nova York ou Paris e sabia que
esse tipo de bilhete com desconto não é uma taxa, pois ninguém é
obrigado a comprá-lo. Noutro grupo estava a população que usa os
ônibus. Para ela, bastava fazer a conta: se o novo bilhete custar R$
150 e o cidadão fizer duas viagens por dia, a tarifa de R$ 3 cai para
R$ 2,50. Com o início da propaganda eleitoral gratuita Haddad tinha 16%
nas pesquisas, bem atrás dos 35% de Celso Russomanno, que sobrevivia ao
raquitismo de seu tempo de exposição e de uma ofensiva de parte da
hierarquia católica. Uma semana antes da eleição, o "fenômeno
Russomanno" começou a evaporar. Na véspera, tinha 27% das preferências.
Abertas as urnas, ficou com 22%, fora do segundo turno. O que houve? No
final de setembro Russomanno prometera a cobrança de tarifas
diferenciadas nas viagens de ônibus. Simples assim: quem anda muito
pagaria mais, como quem viaja muito é o trabalhador, lá vinha tunga.
Até hoje a explicação mais convincente para a implosão de Russomanno
está na migração dos eleitores mais pobres. Perceberam o perigo e
saltaram. O tucanato, que condenara o Bilhete Único Mensal acordou e,
no segundo turno, correu atrás, propondo a extensão da sua validade.
Desde 2004, quando a prefeita Marta Suplicy foi a primeira a instituir
essa modalidade de tarifa numa grande cidade brasileira, governantes e
candidatos do PSDB olham para a iniciativa com cara feia. Primeiro
porque criticavam-na nos seus aspectos técnicos. Depois, porque ela
parecia coisa do adversário. Acordaram com oito anos de atraso. É uma
exagerada temeridade atribuir o resultado eleitoral de São Paulo ao
item do Bilhete Único, mas certamente ele foi um dos ingredientes do
naufrágio, pela percepção oferecida ao eleitorado. No primeiro turno
uma parte dele saltou de Russomanno porque o doutor queria cobrar mais
caro pelas tarifas de quem fica duas horas no ônibus para chegar ao
trabalho. Não se deve esquecer que os transportecas da prefeitura
defenderam a instituição do pedágio urbano para veículos sobre pneus
numa cidade em que a municipalidade nada cobra pelos pousos de
helicópteros. Com uma cabeça dessas, um candidato tucano poderá ganhar
a eleição em Fort Worth, no Texas, pois lá está a fábrica das aeronaves
Bell. A renovação de que o PSDB precisa e que o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso vocalizou é de nomes mas, sobretudo, de ideias. Não só
de propostas novas, mas sobretudo de uma faxina nas velhas,
demofóbicas. Os candidatos do PSDB deveriam ser obrigados a usar a rede
de ônibus todos os dias, durante pelo menos uma semana. A experiência
valeria mais que sete seminários com ex-ministros tucanos
reapresentando ideias de um governo que acabou em 2002. Algo como
barões do Império amaldiçoando a República em 1899, durante o governo
Campos Salles.
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