segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Caso Riquinho: Morte de jovem alagoano causa indignação nas Redes Sociais

por Redação com Blog do Bernardino

Desde o dia 18 de outubro quando o Blog do Bernardino, hospedado no Cadaminuto,publicou texto sobre a morte do garoto Henrique Canalis, 12 anos, o Riquinho, no Hospital dos Usineiros após uma suposta omissão de socorro por parte da SAMU Arapiraca, que o tema tomou conta das Redes Sociais alagoanas.
Vários outros textos na blogosfera culminaram na publicação de uma carta aberta do pai de Riquinho, Rayneri Canales, que movimentou ainda mais as redes sociais e causou comoção em todos os alagoanos.
Hoje foi a vez do SAMU  Arapiraca publicar a sua versão dos fatos, veja abaixo a carta aberta do pai de Riquinho e a versão do SAMU.
Carta do Pai de Riquinho
." Indignação ! Desabafo de um Pai"
Meu anjinho querido, quanta tristeza... Mas Deus é testemunha da minha luta por sua vida.

No dia 16 de outubro de 2011, por volta das 18h, justamente no dia em que completava 12 anos de idade, o coração do meu Riquinho parou devido à ruptura de um aneurisma cerebral.
Seus familiares o levaram de imediato para o Hospital Santa Rita, em Palmeira dos Índios. Riquinho foi recebido pela médica uteísta, Dra. Flávia de Paula Silva, que juntamente com sua equipe o reanimou e prestou atendimento exemplar ao seu pequeno paciente.

A Unidade de Terapia Intensiva do hospital estava sem vaga, mas a equipe médica rapidamente providenciou uma UTI exclusiva para salvá-lo, com assistência integral da Dra. Flávia, nos deixando a cada instante informado de cada procedimento. Veio uma segunda parada cardíaca e ele foi reanimado mais uma vez. A Dra Flávia, no entanto, nos comunicou que o nosso Riquinho deveria ser transferido com urgência para outro hospital em Maceió, onde seria avaliado e tratado por um especialista. Sua sobrevivência entrava numa corrida contra o tempo.
A ambulância que faria o transporte até Maceió deveria ser do tipo 3 – uma UTI móvel com médico e enfermeiro acompanhantes – e que só o SAMU de Arapiraca poderia disponibilizar naquele momento, já que segundo o Ministério da Saúde Palmeira dos Índios, por se só, não tem capacidade para ter um veículo desse tipo.
Conseguimos uma vaga na UTI Neonatal do Hospital do Açúcar e a Dra. Flávia entrou em contato com a SAMU de Arapiraca para providenciar o transporte. Foi aí que começou a minha

INDIGNAÇÃO pelo DESPREZO A PESSOA HUMANA. Inicialmente a diretoria do SAMU se recusou a enviar a ambulância, alegando que eles só saem à noite em casos urgentes de traumas, mas até então os médicos que cuidavam do Riquinho não tinham certeza sobre a causa das paradas cardíacas, embora suspeitasse de traumatismo crânio encefálico. Porém, não tinham dúvidas de que o caso era urgentíssimo, estava lutando contra o tempo e a vida.
Depois de muita recusa, finalmente, liberaram o transporte. Chegando em Palmeira, o médico da ambulância, deixando clara sua má vontade, foi questionar com todos se realmente teria existido trauma no Riquinho. Sim, houve trauma, mas, por desconhecimento, a mãe dele disse que não e nesse momento o Riquinho já estava pronto para o transporte.
O médico se negou a fazer o transporte e voltou com a ambulância para Arapiraca, mesmo diante do apelo da médica que o acompanhava, Dra. Flávia, informando que a criança estava em estado gravíssimo e que o tempo seria seu principal inimigo. Disse mais, ele tem plano de saúde, é uma pessoa especial, um dos menores homens do mundo, e um dos responsáveis por ele é uma médica renomada aqui em Palmeira dos Índios, Dra. Helenilda Pimentel. Indagou ainda, você sem dúvida será o responsável se essa criança vier a óbito. Nem assim, ele recuou.

Irresponsabilidade? Insensibilidade? O que passa pela cabeça de um profissional de saúde que se recusa a cumprir sua missão diante de uma urgência evidente? Dra. Flávia me comunica do ocorrido, liguei imediatamente para meu amigo irmão Lucas Ribeiro, irmão do prefeito James Ribeiro o qual tenho como irmão, para com sua influência política ajudar a resolver o problema. De imediato ele entrou em contato com o Deputado Estadual Edival Gaia, líder do governo e meu amigo irmão.
O Deputado Edival Gaia falou diretamente com o Dr. Cristiano Marinho Vital, diretor da SAMU em Arapiraca, contou todos os fatos, e ele se prontificou a mandar de imediato a ambulância. Segundo o Deputado, bastava só, a médica responsável ligar para o Dr. Cristiano e confirmar a vaga no Hospital do Açúcar. Seria mesmo necessário usar do conhecimento e da amizade para conseguir isso? Onde estamos?
Por volta de 1h da manhã, a Dra. Flávia me retorna e diz que o tal do Dr. Cristiano se recusava a fazer esse transporte na madrugada, nem que fosse demitido do cargo de diretor da SAMU. Agradeci a ela por todo seu esforço, competência e profissionalismo. Liguei para o Deputado Edival Gaia, mostrando toda minha indignação, assim disse: “Deputado, esse tal de Dr. Cristiano faz isso com você que é Deputado e líder do governo, imagine com um do povo”. Fiquei desesperado, não tinha mais para quem recorrer uma hora daquela.

Para meu conforto, a Dra. Paula Rodas que também trabalha na SAMU de Arapiraca me manda uma mensagem via Facebook: ‘Reyneri sei que é difícil, mas tente se acalmar. Tou em Maceió, se estivesse em Palmeira já tinha transportado seu filho. Demos um jeito de colocá-lo na UTI. Vou chegar amanhã bem cedo e eu mesma farei o transporte. Confie em mim. Vai dar tudo certo.’
Realmente deu tudo certo no transporte e fico grato pra toda vida pela atenção, carinho e dedicação da Dra. Paula Rodas e da enfermeira chefe do hospital Santa Rita, Ingrid Lessa, pessoas comprometidas com a vida, além de profissionais exemplares. Porém, foi muito tarde para meu anjinho amado que já chegou ao Hospital do Açúcar praticamente com morte encefálica.
Meu Deus! Quanto desprezo com a saúde nesse Estado. Acorda governador! Um cidadão desse não pode fazer parte do seu governo. Dr. Cristiano, você foi muito infeliz com a
sua prepotência e arrogância, era uma vida que estava em jogo. Dessa vez quem perdeu fui eu, perdi meu anjinho amado. Dr. Cristiano, você não é digno de ocupar esse cargo e muito menos de exercer essa linda profissão que é a medicina. Não tenho dúvidas que a sua incompetência, negligência e imperícia contribuíram para levar meu Riquinho a óbito. Mas a justiça divina não falha e nessa eu confio.

ESPERO QUE TODOS COMPARTILHEM COM SEUS AMIGOS ESSA MINHA INDIGNAÇÃO, PODERIA TER ACONTECIDO COM QUALQUER UM DE VOCÊS OU MESMO SEUS FILHOS. E QUE ISSO SIRVA DE EXEMPLO. PORQUE, UMA PESSOA COMO ESSE DR. CRISTIANO MARINHO VITAL, NÃO É DÍGNO DE EXERCER A MEDICINA E MUITO MENOS DE OCUPAR O CARGO QUE ESTÁ.
Versão do SAMU em carta do médico Cristiano Marinho Vital
"A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), através do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de Arapiraca, informa que em nenhum momento foi negado atendimento ao menor, como alega a matéria publicada em seu blog, publicado ontem (21.10.2011) cujo título é: Garoto de 12 anos faleceu em hospital de Palmeira dos Índios porque o diretor da SAMU negou-se a liberar a UTI para transportá-lo até o Hospital do Açúcar.
O verdadeiro fato é que foi solicitado a transferência de um paciente menor do Hospital Santa Rita para Unidade de emergência de Arapiraca, na noite de domingo dia 16/102011, com o quadro passado pela medica (Dra Flavia) de traumatismo craniano. A Medica do Samu (Dra Karina Cavalcante) não constatou o traumatismo, e sim uma criança grave com respiração irregular com miose bilateral e segundo a mãe crises convulsivas com posterior rebaixamento do nível de consciência. Sendo a unidade de emergência um hospital de trauma, que após regulação, informou não atender este tipo de patologia, tentou-se uma vaga em outras unidades hospitalares do estado. Tentou-se então, o, Hospital da Unimed, que após contato com o plantonista (Dr. Emanuel), que informou não ter como receber a criança por não ter respirador disponível naquele momento, que tentasse estabilizar o paciente e entrasse em contato no dia seguinte. Vale ressaltar que, como não havia uma vaga disponível, a ambulância do samu, foi regulada para retornar a base. Durante o seu retorno a base, a ambulância foi requisitada pelo médico regulador para prestar assistência a um acidente motociclístico no povoado Lagoa do felix.
Torna-se necessário ressaltar também que, durante o atendimento a esta vitima do acidente motociclistico o medico regulador recebeu nova ligação do hospital Santa Rita referindo à disponibilidade da vaga no hospital do açúcar, e que o mesmo informou que a ambulância estava em procedimento.
É imprescindível esclarecer que nenhum dos diretores do samu, ( Dr. Cristiano Vital e Dr. Cleildo Torres ) participaram da regulação, que é papel exclusivo do médico regulador e que não receberam qualquer telefonema, seja do samu, da Dra Flavia, dos familiares da criança ou do deputado Edval Gaia.
Vale esclarecer que para que haja concretamente a transferência do paciente é necessário que haja uma vaga no hospital onde o paciente deverá ser transferido, o que não ocorreu no momento que houve a comunicação, ou seja, entre o médico regulador de plantão e o hospital onde iria ser encaminhado o paciente, isto é, o hospital da Unimed em Maceió não tinha vaga para receber o menor. Isso é fato.
Os profissionais do SAMU só fazem transferência depois de passar por uma série de procedimentos, aprovados pelo Ministério da Saúde (MS), dentre os quais, só poderá fazer transferência depois de comprovada vaga no hospital receptor.
Assim, solicitamos que as informações sejam publicadas para que a população tenha conhecimento dos verdadeiros fatos.SESAU/SAMU"


23/10/2011 22:33
Riquinho, uma vítima da burocracia médica
por Bernardino Souto Maior *

Dispensável apontar aqui o resultado que a infeliz escolha do burocrata alcançou

Recentemente a sociedade alagoana chocou-se com a insensibilidade do diretor da SAMU de Arapiraca. Diante de uma criança com risco de morte, o burocrata optou por ignorar seu juramento médico e seguir a papelada administrativa.
Mesmo encarando os apelos de um pai, o desespero de uma mãe, as orientações de uma médica e a sensibilidade das enfermeiras, o diretor do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência em Arapiraca fez a pior escolha que poderia ter feito diante de dois caminhos.

No último dia 16 de outubro, o pequeno Riquinho, garoto de 12 anos, que convivia com problemas congênitos e que por isso contava com toda a atenção de sua família e dos médicos que o acompanhavam, sofreu uma parada cardíaca que foi revertida no Hospital Santa Rita, em Palmeira dos Índios.
Sem muita delonga, a médica, que prontamente o atendeu, detectou a gravidade do caso e a necessidade imediata de remoção do pequenino paciente para a capital do estado. Para tanto era imprescindível o transporte por meio de uma UTI móvel, sendo que a única disponível na região é a do SAMU de Arapiraca.

Por razões desconhecidas, esta unidade, segundo seu responsável, o diretor do SAMU local, só tem permissão para o transporte, durante o período noturno, em casos excepcionais de traumatismo. Interessante salientar que sendo esta uma verdade há muito a ser revisto, pois a função primordial de todo transporte de urgência é o auxílio no pronto socorro, na salvaguarda de vidas e na preservação da saúde daqueles que dela necessitem, indinstintamente.
Entretanto, voltando ao caso em comento, ainda que o mencionado diretor estivesse apenas cumprindo regulamentos, nada e nem ninguém será capaz de justificar sua escolha periclitante. Afinal, acima de quaisquer papéis burocráticos está o direito fundamental à vida, e ao médico, enquanto tal, está seu juramento de Hipócrates.
“(…) a saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação. (…) Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza.”

Dispensável apontar aqui o resultado que a infeliz escolha do burocrata alcançou. Tendo chegado ao hospital da capital em tempo não hábil a sua salvação, Riquinho faleceu. Deixando desamparados pai e mãe, mas revelando uma realidade ainda pior do que a que já nos é clara. A sociedade alagoana não lida apenas com a falta de recursos, instrumentos, equipamentos e materiais hospitalares e médicos, mas também com a insensibilidade humana e a falta de compaixão pelos seres humanos.
Aos pais, além da dor e de toda saudade, restou a indignação e a revolta. Com pensamento firme em processar o médico, administrativa, civil e criminalmente, ficam questionamentos: “quantos ‘Riquinhos’ passam pelo mesmo descaso e não tomamos conhecimento?” “quantos outros ‘Riquinhos’ terão que encarar a mesma apatia social para que a indignação tome conta do coração daqueles que podem efetivamente proporcionar mudanças na saúde pública?”
Aos pais nossa solidariedade, nosso apoio e nossos mais sinceros sentimentos. Às política públicas de saúde nossa manifestação indignada e nossa esperança de que o passamento de Riquinho inspire a tomada de providências urgentes e eficazes.

Mais detalhes sobre o caso no Blog do Bernardino
Texto:Candice Almeida, advogada especial para este blog.


*Bernardino Souto Maior Iniciou no jornalismo aos 17 anos, em 1968, na rádio Educadora Palmares fazendo esporte. Passou pelos jornais: Correio de Maceió, Semanário Desafio, Jornal de Alagoas e Tribuna de Alagoas (extintos) e Jornal Gazeta de Alagoas Trabalhou na rádio Difusora. Foi correspondente do Jornal do Brasil, Última Hora do Rio, Jornal do Sport ,Diário de Pernambuco, Jornal do Commercio e Folha de São Paulo. Revista: Visão, Isto É, Veja e Placar. Assessor de imprensa do governo Lamenha Filho. Por 23 anos gerente de marketing da extinta Ceal.

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