quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Walesa e Lula

Uma ocasião para voltar a olhar a história de uma complicada relação e o saldo de seus atividades: no dia 29 de setembro, Lech Walesa entregou a Luiz Inácio Lula da Silva um prêmio da Fundação Walesa como reconhecimento por ter atuado para diminuir as desigualdades sociais e fortalecer a importância dos países em desenvolvimento. O ex-presidente polonês (1990-1995), prêmio Nobel da Paz 1983, e o ex-presidente do Brasil (2003-1010) se reuniram em Gdansk, onde no início dos anos 80 Walesa liderou as greves que levaram à criação do primeiro sindicato independente do bloco socialista.

Ainda que ambos os dirigentes compartilhem as mesmas raízes – vem de famílias humildes, foram operários e líderes sindicais que lutaram contra ditaduras -, as realidades distintas de seu país dificultaram o entendimento entre eles. Como assinala Theotonio dos Santos, destacado economista e cientista político brasileiro, um dos autores da teoria da dependência, os principais vetores políticos no leste europeu e na América Latina eram completamente diferentes: enquanto na Polônia o capitalismo e o livre mercado eram sinônimos de liberdade, no Brasil o livre mercado chegou com a ditadura e a liberdade era o socialismo.

Nos anos 80, Lula procurou Walesa. Naquele período, comparar-se e colocar-se ao lado da estrela do sindicalismo livre era importante para sua luta. Eles se conheceram, mas Walesa afirmou que ele queria abolir o comunismo e Lula queria construir um. Não houve simpatia entre eles. Ainda assim, quando, em 1985, acabou o regime militar no Brasil, Walesa mandou a seu colega uma calorosa carta. Mas quando, depois de 1989, a Polônia ingressou na democracia, o líder do Solidariedade se ufanava que ele tinha virado presidente e Lula não.
Maciek Wisniewski (*) - Jornalista polonês - La Jornada
 


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