Mendonça reafirma que esquema de propinas funcionava desde a era FHC
O empresário e delator da Operação Lava Jato Augusto de Mendonça, do Grupo Setal Óleo e Gás (SOG), reafirmou em novo depoimento à Justiça Federal nesta segunda-feira (31), que o esquema de propinas na Petrobras funcionava desde 1990.
Por Dayane Santos no Portal Vermelho
Nos encontros, as empresas discutiam quem teria prioridades em determinadas obras e outras não atrapalhariam oferecendo preços superiores. “As empresas discutiam e escolhiam quais as oportunidades que gostariam de participar, havia um acordo entre elas”, reafirmou o delator.
Questionado pelo juiz Sergio Moro sobre o motivo do pagamento ilícito, o delator disse: “Pagavam porque a capacidade de um diretor da Petrobras de atrapalhar é muito grande. Todas as empresas tinham medo de não pagar. Eu acredito que todas pagavam”.
A preocupação de Mendonça era agradar o “diretor da Petrobras” para que não atrapalhasse os interesses das empresas. A maioria da imprensa, no entanto, destacou, inclusive em manchete, a afirmação de Mendonça de que “todas as empresas tinham medo de não pagar”, como se as empreiteiras fossem vítimas, tese que reforça a campanha de criminalização do PT em relação as doações de campanha.
Em outro depoimento, Mendonça afirma: “Conforme já fiz, já declarei em outros depoimentos, eu fazia um pagamento ao doutor Pedro Barusco, ao doutor Renato Duque e, se havia um entendimento deles com o doutor João Vaccari [ex-tesoureiro do PT], era um entendimento deles, o entendimento que eu tive com o doutor João Vaccari foram contribuições legais que ele solicitou e eu fiz, através das minhas empresas, dentro dos limites legais estabelecidos”.
Nesse mesmo depoimento, Moro questionou: “E essas contribuições não estavam relacionadas a esses valores de propina da Petrobras?”. Mendonça respondeu: “No meu caso, não”.
Moro insistiu: “O senhor, na conversa que o senhor teve com o senhor João Vaccari, o senhor mencionou que esses valores eram decorrentes de contratos da Petrobras?”. “Não, senhor”, respondeu.
“O senhor mencionou que estava procurando a pedido do Renato Duque?”, perguntou Moro. “Não, senhor”, disse.
Moro novamente persistiu: “O senhor não explicou a origem desses valores que isso era decorrente de acertos de propina com o senhor Renato Duque?”. E Mendonça respondeu: “Não, senhor”.
Refinaria Abreu e Lima
No depoimento desta segunda (31), não foi diferente. Moro perguntou sobre a participação do Grupo Odebrecht nas reuniões para escolher os vencedores das licitações da Petrobras. Mendonça disse que “sim”, detalhando que Márcio Faria representava a empreiteira naqueles encontros.
Mendonça disse ainda que a partir das obras da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, houve o que ele classificou como “desequilíbrio” entre as empreiteiras, ou seja, alguém estava ganhando mais e outras menos. Segundo ele, apenas as grandes empreiteiras ficaram com as obras da Abreu e Lima, o que gerou um descontentamento entre as que ficaram com um volume menor dos contratos.
Diante do descontentamento, decidiram criar o chamado “clube” com adoção de regras para que todas fossem contempladas com contratos na estatal petrolífera. “Houve uma adaptação, um ajuste da regra e isso foi escrito para que ninguém ficasse com dúvidas, como se as empresas fossem times, se dizia que o jogo começaria de novo”.
Aécio e doação não registrada da Odebrecht
Moro perguntou se as construtoras ajustavam os resultados das licitações. “Sim, as empresas escolhiam suas preferências e as demais respeitavam”. A Odebrecht participava das reuniões?, insistiu o juiz. “Sim, senhor”, respondeu Mendonça, citando também a OAS, UTC, Mendes Júnior, Camargo Corrêa, todas responsáveis por polpudas doações a vários de partidos políticos, inclusive da oposição.
E por falar em oposição, o PSDB deverá apresentar explicações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre 15 irregularidades encontradas nas contas de campanha do candidato derrotado nas urnas, Aécio Neves (PSDB-MG). Entre elas está o fato de Aécio ter repassado para o PSDB uma doação de R$ 2 milhões da Odebrecht, mas não ter registrado a transferência na prestação de contas. Diferentemente do amplo destaque e ilações que a grande mídia faz sobre as doações registradas do PT, muito pouco e discretamente se fala do não registro do repasse nas contas dos tucanos.
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