porLeonardo Sakamoto
Nesse
período, os empreiteiros procuraram, com sucesso, consolidar e ampliar seus
vínculos como o governo. Passaram, por exemplo, a patrocinar comícios – o
famoso comício das reformas (…), por exemplo, teve suas despesas pagas por um
grupo de empreiteiros. Às vésperas da votação de alguma lei cuja rejeição ou
aprovação interessava aos empreiteiros, pequenas fortunas influenciavam o
comportamento de deputados e senadores ligados ao governo.
O texto acima poderia ter sido publicado em qualquer jornal da última semana, recheada por escândalos de corrupção que envolveram parlamentares e empreiteiras.
O texto acima poderia ter sido publicado em qualquer jornal da última semana, recheada por escândalos de corrupção que envolveram parlamentares e empreiteiras.
Mas não.
O trecho foi extraído do livro “Minha Razão de Viver” (17ª edição, página 238),
do jornalista Samuel Wainer, fundador do Última Hora, e se refere à ditadura
militar.
Para não
dizer que nada mudou nos últimos 40 anos com relação a essa orgia de cal e
cimento, pontes e barragens, financiamentos de campanhas e os carpetes de cores
ultrapassadas dos corredores do Congresso, não temos mais o povo de farda verde
no poder, o país é pentacampeão no futebol e perdeu de 7 a 1 da Alemanha.
Mas, por
outro lado, essas empresas engordaram com o tempo e hoje o apetite de algumas
delas pelo erário público é bem maior.
Após cada
eleição, os veículos de comunicação divulgam levantamentos mostrando que a
maior parte dos parlamentares recebeu dinheiro de construtoras para suas
campanhas.
Receber
doação não é ilegal, mas quem acredita que tamanho investimento foi feito à toa
por essas empresas?
Pelo bem
da democracia? Faz-me rir.
Já disse
aqui antes que, quando fui ao Jóquei pela primeira vez, perguntei se seria
possível apostar em todos os cavalos ao mesmo tempo – no que fui
ridicularizado.
Talvez por isso, por trauma de juventude, receie um pouco em
questionar em público o motivo de, ora bolas, grandes empresas doarem dinheiro
para diferentes candidatos que disputam o mesmo cargo nas eleições.
Em outras
palavras, apostam no Batman e no Coringa, no Superman e no Lex Luthor, no
Scooby-Doo e nos Fantasmas, no Tico e no Teco – sem juízo de valor para que
candidato assume cada papel, é claro. Qualquer um pode ser o Tico e o Teco. E,
no caso brasileiro, o Superman não necessariamente é o mocinho. Muitas vezes, o
Pinguim é mais honesto…
Olha,
coisa bonita de se ver a construção republicana que essas empresas de cimento,
pedra e vergalhão ergueram ao financiar as candidaturas de políticos de
diferentes matizes!
Só um
espírito verdadeiramente altivo ignoraria diferenças partidárias e injetaria
recursos em campos opostos para possibilitar a compra de santinhos, adesivos,
banners, faixas, gasolina, diárias de hotel, salário de marqueteiro e deixar
correr o livre debate público.
No final,
apostaram no cavalo vencedor. Mas quem se importa com isso, não é mesmo?
Teoricamente,
o ato de doação é um indício de que o doador comunga das propostas do
candidato, deseja que ele o represente politicamente, seja por suas ideias,
seja por sua classe social ou quer criar com ele um vínculo por meio desse
apoio em campanha. Alguns eleitos mantém apenas diálogos cordiais com os financiadores,
outros literalmente “pagam” através de serviços prestados – como já foi
extensamente provado em operações da Polícia Federal e Comissões Parlamentares
de Inquérito.
Sempre para garantir o financiamento de amanhã.
Não estou
querendo fulanizar a questão neste post porque são muitos os nomes. E os
colegas da imprensa já estão fazendo um trabalho extenso ao relatar em matérias
financiadores e financiados e favores prestados.
O que
teria acontecido se os eleitos com recursos de empresas tivessem sido impedidos
de participar de obras públicas? Para a Petrobras, a Copa, Olimpíadas, mas
também o Programa de Aceleração do Crescimento, Minha Casa, Minha Vida, Luz
para Todos. Se um investimento passa a não dar retorno, ele deixa de ser
investimento?
Há
políticos, de diferentes partidos, de progressistas a conservadores, que nunca
aceitaram doações de pessoas jurídicas. São chamados de idiotas porque não
teriam percebido que o mundo é outro. Hoje, segundo a maioria, não é possível
fazer política sem muito dinheiro e sem empresas fluindo rios de recursos. Na
verdade, é outro porque nós permitimos que as eleições se tornassem um turfe.
Ou melhor, um cassino sem regras, uma grande mesa de fundos de investimentos
futuros.
O Supremo
Tribunal Federal decidiu, nesta quinta (17), por 8 votos a 3, que as doações de
empresas a candidatos e partidos são inconstitucionais – a possibilidade de
pessoas físicas doarem até um limite de seu rendimento está mantida. Segundo a
corte, o poder econômico tira o equilíbrio da disputa eleitoral. A manutenção
dessa decisão depende de que Dilma vete a lei aprovada pelo Congresso
Nacional – e apadrinhada por Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados
– que permite a doação de empresas a partidos.
Isso vai
impedir o caixa dois? De maneira alguma, ninguém é inocente aqui. Mas
com as doações empresariais se tornando proibidas e passíveis de
punição, há uma chance de conseguirmos reduzir os custos de campanha.
E, portanto, ideias poderão falar mais alto que o tamanho e a origem da
captação de recursos em uma eleição.
Com
base no resultado acachapante no STF, espera-se que Dilma Rousseff vete a
lei. Pois ou viramos o jogo ou será impossível encontrar alguém que ganhou uma
eleição sem rabo preso nesse país.
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