domingo, 12 de janeiro de 2014

Os melhores POEMAS !!!

Escritores, críticos, professores, jornalistas elegeram os poemas mais significativos de autores brasileiros em todos os tempos. Cada participante poderia indicar entre um e dez poemas. Nenhum autor poderia ser citado mais de uma vez. 40 poemas foram indicados, mas, destes, apenas 24 tiveram mais de três citações. São eles: “A Máquina do Mundo”, “Procura da Poesia”, “Áporo” e “Flor e a Náusea”, de Carlos Drummond de Andrade; “O Cão Sem Plumas”, “Tecendo a Manhã” e “Uma Faca Só Lâmina”, de João Cabral de Melo Neto; “Invenção de Orfeu”, de Jorge de Lima; “O Inferno de Wall Street”, de Sousândrade; “Marília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga; “Cobra Norato”, de Raul Bopp; “O Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles; “Vozes d’África”, de Castro Alves; “Vou-me Embora pra Pasárgada” e “O Cacto”, de Manuel Bandeira; “Poema Sujo” e “Uma Fotografia Aérea”, de Ferreira Gullar; “Via Láctea” e “De Volta do Baile”, de Olavo Bilac; “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias; “As Cismas do Destino” e “Versos Íntimos”, de Augusto dos Anjos; “As Pombas”, de Raimundo Correia; “Soneto da Fi­delidade”, de Vinícius de Moraes.

Invenção de Orfeu
(Jorge de Lima)

1.
Um barão assinalado
sem brasão, sem gume e fama
cumpre apenas o seu fado:
amar, louvar sua dama,
dia e noite navegar,
que é de aquém e de além-mar
a ilha que busca e amor que ama.
Nobre apenas de memórias,
vai lembrando de seus dias,
dias que são as histórias,
histórias que são porfias
de passados e futuros,
naufrágios e outros apuros,
descobertas e alegrias.
Alegrias descobertas
ou mesmo achadas, lá vão
a todas as naus alertas
de vaia mastreação,
mastros que apoiam caminhos
a países de outros vinhos.
Está é a ébria embarcação.
Barão ébrio, mas barão,
de manchas condecorado;
entre o mar, o céu e o chão
fala sem ser escutado
a peixes, homens e aves,
bocas e bicos, com chaves,
e ele sem chaves na mão.
2.
A ilha ninguém achou
porque todos o sabíamos.
Mesmo nos olhos havia
uma clara geografia.
Mesmo nesse fim de mar
qualquer ilha se encontrava,
mesmo sem mar e sem fim,
mesmo sem terra e sem mim.
Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmo sem vagas e areias,
há sempre um copo de mar
para um homem navegar.
Nem achada e nem não vista
nem descrita nem viagem,
há aventuras de partidas
porém nunca acontecidas.
Chegados nunca chegamos
eu e a ilha movediça.
Móvel terra, céu incerto,
mundo jamais descoberto.
Indícios de canibais,
sinais de céu e sargaços,
aqui um mundo escondido
geme num búzio perdido.
Rosa-de-ventos na testa,
maré rasa, aljofre, pérolas,
domingos de pascoelas.
E esse veleiro sem velas!
Afinal: ilha de praias.
Quereis outros achamentos
além dessas ventanias
tão tristes, tão alegrias?
(Trecho de Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima).

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