TIRAVAM OS
SAPATOS E VENDIAM A PÁTRIA
Delúbio Soares (*)
“Dilma será aplaudida por outros países espionados pela NSA”
(The Washington Post)
A
nação mais poderosa do planeta espionou o Brasil, sua presidente e, de quebra,
a maior empresa do país e uma das maiores do mundo, a Petrobrás. Foram
interceptadas ligações telefônicas, mensagens de correio eletrônico e bancos de
dados foram violados. Um inaceitável atentado contra nossa soberania, com claríssimos
objetivos políticos e comerciais. Em verdade, nada mais que a
reafirmação de práticas antigas, contumazes e condenáveis por parte dos Estados
Unidos da América em relação a todos – rigorosamente todos – os demais países.
As
relações bilaterais norte-americanas sempre foram impregnadas por um
indisfarçável espírito colonialista, baseado num desejo insofreável de
hegemonia política e de defesa cega de seus inconfessáveis (porém, notórios…)
interesses comerciais.
A
cada nova intervenção militar, toda as vezes em que a maior potência econômica
e bélica se arroga em polícia do mundo, há o claro interesse de subtrair alguma riqueza do país
agredido e favorecer suas maiores empresas, como as do mercado
armamentista, as petrolíferas, as grandes corporações econômicas e financeiras.
Ninguém faz tanto pelo capitalismo dos EUA quanto a política externa
intervencionista daquele poderoso país.
O
episódio do monitoramento do Brasil através da NSA, a mega central de
espionagem eletrônica, é revoltante, mas não surpreendente. Surpreendente é que
nos dias de hoje, em pleno século XXI, ainda espionem governos, empresas e
países e possam acreditar – se é que creem, mesmo – que não conhecerão da
condenação do mundo civilizado e da reação corajosa das demais Nações agredidas.
Montou-se
uma estrutura bilionária, integrada por milhares de espiões e auxiliada por
outros milhares de técnicos, gozando de absoluta impunidade e de total cobertura tanto da
Casa Branca quanto do ‘status quo’ reinante, com a finalidade de
“proteger-se contra o terrorismo”. A realidade é bem outra, e a verdade atende
por outro nome: espionagem, pura e simples. O terrorismo, no caso, é dos que
nos agridem ao nos espionar.
Não
se economizou dinheiro nem esforços na tarefa de desrespeitar a soberania de
dezenas de países. Não se respeitou nada e ninguém. Colocou-se um fornido
aparelho estatal, pouco conhecido e de poderes praticamente ilimitados, ao
arrepio mesmo das leis vigentes no próprio país, para violar segredos, códigos
e comunicações oficiais, num exercício criminoso de lesa-soberania alheia. E,
chamada a explicar-se e esclarecer seu papel atrabiliário, a mais poderosa
potência não
reconhece a culpa e reafirma seu absoluto desapreço pelos demais países.
As seguidas derrotas de sua história (Coréia, Vietnã, Baia dos Porcos,
Afeganistão, etc, etc…) parecem não ter servido de pedagógica lição.
Quando
de revelações importantíssimas e estarrecedoras do Wikileaks, por obra do
valoroso militante das causa sociais Julian Assange, os brasileiros foram
alertados das intensas atividades de espionagem que se desenvolviam no Brasil.
Jornalistas, como Merval Pereira, e políticos, como José Serra,
apareciam em conversações explícitas como meros informantes de diplomatas dos
Estados Unidos que atuavam como bisbilhoteiros privilegiados de nossos assuntos de
Estado. Serra, por exemplo, assumia um compromisso claro com a petroleira
Chevron, conhecida por seu descompromisso com a questão ambiental e maneira
pouco ortodoxa de comportar-se mundo afora. O então candidato tucano à
presidência da República, logo depois derrotado fragorosamente por Dilma, prometeu à poderosa
multinacional da energia que iria mudar as regras do Pré-Sal para favorecê-la
tão logo fosse empossado na presidência. O povo brasileiro, em sua infinita
sabedoria, negou-lhe a oportunidade de cometer tamanha traição ao país, e o
vazamento dos Wikileaks desmoralizou definitivamente tanto impatriótico
entreguismo (http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/93008/) quanto os
vaticínios furados dos que praticam um sub-jornalismo à serviço das
idiossincrasias pessoais e infundados temores ideológicos dos patrões.
Desde
a posse do presidente Lula, em 2003, o Brasil conta com uma política externa
independente, resoluta em suas ações e absolutamente comprometida com o
desenvolvimento nacional e o futuro dos brasileiros. Vai longe o tempo em que o
Itamaraty – extraordinário exemplo de competência profissional e seriedade em
todo o cenário diplomático internacional – foi conspurcado pela pequenez de um prático como Celso Lafer,
que rasgou as melhores tradições da Casa do Barão do Rio Branco, em
diversas e inesquecíveis ocasiões. Uma delas, testemunhada com assombro pela
imprensa internacional, se inscreve como o mais baixo papel de um chefe da
diplomacia brasileira: indo, sôfrego, aos Estados Unidos para participar de
reunião internacional convocada por sugestão do Brasil e em solidariedade aos
EUA em mais uma de suas descabidas aventuras intervencionistas, Lafer (melíflua e
alegremente) sujeitou-se à humilhante revista por policiais da
aduana local, levantando
os braços e (pasmem!!!)
retirando os
sapatos. Foi um dos momentos mais deploráveis de nossa história. Em
outro exemplo do espírito bisonho daqueles tempos estranhos e melancólicos, o
mesmo Celso Lafer, segundo o grande escritor Fernando Morais no livro
biográfico de Paulo Coelho, transformou o Itamaraty num comitê eleitoral em
favor do tucano Hélio Jaguaribe, em sua campanha por uma vaga na já
desimportante Academia Brasileira de Letras.
Hoje,
o sapato que os Estados
Unidos descalçaram de um homem desfibrado, sem espírito público ou respeito ao
país que fingia servir como frágil chanceler, é apenas triste
memória. Dilma Rousseff, com o peso do mandato que recebeu dos brasileiros e o
qual vem honrando com sua postura impecável de Chefe de Estado, soube responder de
forma firme e categórica ao ataque à nossa soberania ao recursar a invitação de
Barack Obama para que visitasse o país agressor na qualidade de
“convidada especial”.
O
Brasil não é somente a sexta economia mundial, um país ascendente e com sua
respeitabilidade resgatada ao longo dos dois mandatos do presidente Lula e
reconfirmada pela postura firme e corajosa do governo Dilma. O Brasil é, antes
de tudo, a grande Nação que se dá ao respeito e não se apequena diante das
demais potências, como nos tempos de FHC, onde reinava um misto de descarado
entreguismo com o deslumbramento do célebre “complexo de vira-lata”. A
repercussão favorável em toda a mídia internacional e o apoio popular absoluto
em todo o Brasil demonstram o acerto da posição sensata e altaneira da presidente Dilma e de nossa
diplomacia, resgatada dos tempos infames daqueles homens que tiravam
os sapatos e vendiam a pátria.
*
Delúbio
Soares é professor

ATENÇÃO: as palavras destacadas em negritas e na cor vermelha são deste BLOGUEIRO.
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