Quem se surpreendeu por o Jornal Nacional dar uma forcinha aos golpistas?
A edição do Jornal Nacional
de segunda-feira, 9 de março de 2015, mostrou, pela enésima vez, que este país,
na contramão dos países mais desenvolvidos do mundo, permite que uma família
bilionária faça uso de concessão pública da importância da maior rede de
comunicação nacional com fim político-partidário, ilegal por força da lei.
O
Jornal Nacional começou e terminou mal. A rima acidental soa a conspiração dos
deuses da redação para, por esse meio, também manifestarem repúdio à
apropriação ilegal e imoral de um bem público, a faixa do espectro
radioelétrico por onde trafegam as ondas da Globo, por um grupo político
afinado com setores da sociedade que vêm se notabilizando pelo fascismo, pela
boçalidade, pela falta de uma réstia de educação e de um mínimo de civilidade.
O
telejornal começou tratando (pouco) do indiciamento de políticos no Supremo
Tribunal Federal, semana passada. Como era de se esperar, restringiu a
reportagem ao PT, com alguma sobra para o PMDB e para o PP, mas, obviamente,
poupando o PSDB ao não tocar na citação com arquivamento da acusação contra
Aécio Neves e no indiciamento de fato de seu afilhado político e sucessor no
governo de Minas, Antonio Anastasia.
Ao fim
do primeiro bloco, o JN anuncia reportagem sobre o “panelaço” de energúmenos
contra Dilma Rousseff. Milhões de espectadores devem ter pensado que viria
paulada, que seria feita uma reportagem massacrando a presidente – dentre esses
milhões, parte estaria torcendo para que isso ocorresse, parte estaria
indignada com a previsibilidade de ocorrer.
Não
foi o que se viu. Tratou-se de uma reportagem até bastante correta. Abriu com a
resposta de Dilma aos agressores, o mínimo que deveria ser feito contra alguém
agredida com palavrões do mais baixo calão, aos berros, pelas ruas de várias
partes do país, ainda que tenha sido manifestação de poucos. Em seguida, foi
apresentada a posição do PT sobre o ataque.
Foi só
ao fim da reportagem que, em tempo menor que o de Dilma e de seu partido, um
membro do DEM acusado recentemente de corrupção, e outro do PSDB ligado a
grupos políticos envolvidos com corrupção, responderam à acusação do PT,
veiculada pouco antes, de que a oposição estaria por trás da agressão de
domingo à presidente da República.
Então,
onde está o motivo para reclamação? Para entender, é preciso perguntar se
aquela notícia deveria receber tal destaque no maior telejornal do país, no
horário mais nobre da televisão, que medições oficiais mostram que atinge a
milhões de pessoas.
Dilma
Rousseff, a cidadã Dilma Rousseff, poderia processar qualquer uma das pessoas
que a chamaram de “vaca” da varanda de seus enormes apartamentos, incrustados
em condomínios de luxo.
Mais:
qualquer morador de um desses condomínios que tiver se sentido agredido pelos
palavrões berrados pelo vizinho a plenos pulmões poderia reclamar ao próprio
condomínio e até à Justiça, pois sair à janela e berrar palavrões e insultos a
quem quiser ouvir pode provocar danos morais, na melhor das hipóteses, a quem
não concordar com a manifestação em espaço onde todos têm direito a paz e
tranquilidade, já que interiores de condomínios não se prestam a esse tipo de
manifestação política truculenta.
Diante
disso tudo, o Jornal Nacional, tanto qualquer outro que tenha dado espaço
àquela aberração, tratou de ajudar os agressores energúmenos da primeira
mandatária da Nação, eleita por mais de meia centena de milhões de votos e que
não tem uma mísera acusação contra si na Justiça, à diferença dos dois tucanos
que, ao fim da reportagem, puderam dizer que haveria algum tipo de mérito na
agressão a ela.
O
telejornal da Globo ajudou esses golpistas boçais a divulgarem seu protesto,
que continuará no próximo domingo em manifestações de rua.
A
reportagem, se tivesse mesmo que ser feita, poderia, muito rapidamente, dizer
só os fatos, que algumas dezenas de pessoas, em algumas capitais, gritaram
palavrões contra a presidente da República, mas tratou de legitimar aquele ato
ao não revelar a virulência com que foi levado a efeito e ao pôr políticos com
ar de seriedade para defender tal barbárie.
Por
que não surpreende a Globo dar uma forcinha àqueles animais? Porque essa é a
história de cinquenta anos de Globo no Brasil, uma história suja, uma história
de promiscuidade com forças políticas obscuras como a ditadura militar de 1964,
que deu dinheiro ao fundador da emissora para ajudá-la a massacrar o povo
brasileiro.
Seja
como for, o Blog deixa ao leitor, através do vídeo abaixo, a prerrogativa de
concordar ou não com o que acaba de ler assistindo à edição em tela do Jornal
Nacional.
Fonte:
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