Um Congresso, com a maioria de bandidos, enterrado na Lava Jato não tem
moral para derrubar Dilma
Não é por bondade ou espírito democrático que peões da mídia
antipetista vêm se opondo aos
delírios golpistas de tucanos de pijama e/ou daquela turma que quer a volta do
regime militar. Apesar do risco que o inconformismo da oposição em ficar mais
quatro anos fora do poder gera à nossa ainda estreante democracia, analistas
políticos sabem o que vem por aí.
E o que vem por aí não é pouco. Um passarinho do Planalto Central
bateu para este blogueiro que, na melhor das hipóteses, pelo menos TRÊS senadores da oposição estão
envolvidos até o pescoço nas
delações premiadas. Isso no Senado. Agora imagine na Câmara, leitor, onde a
tonitruante operação da PF fará o maior estrago.
Seria até engraçado que dezenas e dezenas de parlamentares
indiciados por corrupção se dessem ao desfrute de discutir a dseposição de uma
presidente da República reeleita por 54 milhões de brasileiros – e contra a
qual não pesa um mísero indício
– enquanto estiverem respondendo a inquérito judicial amparado não em injunções
políticas, mas em provas concretas.
O Congresso, antes de querer derrubar alguém de outro Poder, terá
que discutir cassações de seus próprios membros.
Nas semanas que se avizinham, portanto, a Justiça irá divulgar os
nomes de dezenas e dezenas de parlamentares cujas digitais foram encontradas
pelas investigações da Operação Lava Jato. E a oposição sabe muito bem que não passará incólume.
Aliás, outro dado importante é o de que as investigações da Lava
Jato já estão chegando a Estados e Municípios. Em breve, o Brasil descobrirá
que governadores e prefeitos, ao contrário da presidente da República, deixaram digitais nos cofres das
empreiteiras bandidas.
Quanto ao desabamento da popularidade de Dilma, é conjuntural.
Decorre de um mês de janeiro no qual ela se expôs com (inevitáveis) medidas de
austeridade e nomeações de ministros indicados pelos partidos conservadores da
base aliada. Mas uma outra pesquisa do mesmo Datafolha mostra que há um caminho
para Dilma se recuperar.
Em setembro do ano passado, o
instituto de pesquisas da Folha de São Paulo pesquisou a ideologia dos
brasileiros e descobriu um dado surpreendente: o brasileiro é mais de direita
em temas comportamentais como aborto, idade de responsabilização penal etc.,
mas é mais de esquerda em questões econômicas.
Abaixo, trechos daquela pesquisa.
“(…) Em meio ao debate eleitoral,
a parcela de eleitores brasileiros afinados com temas defendidos pela direita
(45%) supera atualmente à de eleitores mais afinados com as ideias ligadas à
esquerda (35%). Esse resultado mostra uma mudança na opinião dos brasileiros em
relação a temas relacionados a comportamentos, valores e economia, que resultam
nessa segmentação
(…)
Ao tratar somente de
temas comportamentais e ligados a valores, os segmentos da população com mais
afinidades com a direita (55%, sendo 15% de direita, e 40%, de centro-direita)
superam os mais ligados à esquerda (25%, sendo 3% afinados com a esquerda, e
21%, com a centro-esquerda). O centro puro, neste caso, abrange 21% do
eleitorado. Em novembro de 2013, 49% estavam posicionados à direita (12% à
direita, e 37%, à centro-direita), 29% nos segmentos à esquerda (4% na
esquerda, e 25% na centro-esquerda), e 22% no centro.
Quando se consideram
apenas aspectos econômicos, 30% mostram mais afinidades com temas ligados à
direita (20% na centro-direita, e 10% na direita), e 43%, com temais ligados à
esquerda (18% na esquerda, e 25%, na centro-esquerda). A fatia dos que se
situam no centro abrange 27%. Em novembro de 2013, a parcela situada à esquerda
era de 46% (21% à esquerda, e 25% na centro-esquerda), enquanto 26% estão mais
afinados economicamente com a direita (8% com a direita, e 18% com a
centro-direita). A fatia dos que se situam no centro para temas econômicos
ficou estável, em 27% (…)”
Como se vê, de 2013 para cá o brasileiro foi mais para a direita. Em termos políticos, muito
mais. Em termos econômicos, porém, bem menos. Em resumo: somos caretas no comportamento, mas queremos proteção
do Estado. Daí o resultado do Datafolha de sábado passado, que expressou preocupação
da sociedade com a possibilidade de Dilma adotar o programa econômico da
oposição, já que a própria esquerda a acusou disso.
Esse dado sobre a incoerência ideológica do brasileiro e sobre seu
“endireitamento”, aliás, exige uma reflexão não só de Dilma, não só do PT, mas
da esquerda brasileira em geral, inclusive da oposição de esquerda. O discurso
esquerdista está seduzindo cada vez menos este povo. Atribuir isso só a Dilma
ou ao PT é suicídio político.
Entretanto, é através da economia que o governo Dilma poderá
recuperar a popularidade. O que manteve o PT no poder por mais de uma década
tem sido a maior presença do Estado na economia e na vida dos cidadãos. É o que
o povo quer, em grande parte. Dilma, portanto, precisa mostrar que seu governo não mudará de rota.
Como se vê, a oposição pode até estar vencendo o jogo neste
momento, mas esse jogo não terminou. Vai durar mais quatro anos. Dá para virar
e, se bobear, dá até
para vencer de goleada.
Fonte:
ATENÇÃO: as palavras na
cor vermelha
constam originariamente no texto, mas os destaques são deste BLOGUEIRO.
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