Impeachment,
o fim do PT e
delírios golpistas
Impeachment,
o fim do PT e
delírios golpistas
por Guilherme Santos Mello, no site Brasil Debate
Mal havia se concluído a contagem dos
votos da eleição de 2014, que garantiram o segundo mandato da presidenta Dilma
Rousseff, e já se falava abertamente no tal de “impeachment”. O motivo alegado
à época pela oposição derrotada girava em torno de uma suposta utilização de
estrutura pública (os Correios) para benefício da candidatura governamental.
Certamente, a derrota de última hora
frustrou boa parte dos oposicionistas, que minutos antes da divulgação dos
resultados oficiais comemoravam a vitória de Aécio com base em informações
ilegalmente vazadas por um alto integrante da cúpula judiciária nacional.
Tamanha frustração se traduziu em recusa na aceitação do resultado legítimo das urnas, e
boa parte dos apoiadores de Aécio, desde então, tem optado por dois caminhos: a
negação, por meio do pedido de impedimento, e a negação da negação, desistindo
do Brasil e indo para Miami, como revelou reportagem recente da Folha de São
Paulo.
Tendo início o segundo governo Dilma,
mudanças importantes na estratégia política da presidenta foram anunciadas,
apontando para a adoção de uma postura conciliatória com vários grupos que a
haviam difamado nos meses e anos anteriores. Para aqueles que votaram nela
esperando uma escalada no enfrentamento contra o establishment conservador e
liberal, foi grande a surpresa com a escalação de nomes como Joaquim Levy,
Kátia Abreu e Armando Monteiro para importantes ministérios.
A decepção de parcela importante do
eleitorado de Dilma, que ainda não compreendeu a razão por trás destas escolhas
(em grande medida pela dificuldade do governo em dialogar com a população),
somada à sanha golpista de parcelas relevantes da oposição e da mídia, deram
força ao até então risível coro pró-impedimento.
Para adicionar calúnia à injúria, o
avanço das investigações da Lava Jato mostra o envolvimento de todos os
partidos políticos em esquemas de corrupção, mas o foco é direcionado particularmente ao PT, seja pelo seu atual papel no
governo federal, seja em decorrência de uma estratégia mais ampla de desconstrução
da imagem do partido por parte de alguns veículos de imprensa.
É fato que alguns dos depoimentos
oriundos de delações premiadas (ainda sujeitos a comprovação) envolvem o PT em
casos de corrupção, assim como é fato que essas mesmas delações relatam casos
de propina de origem muito anterior, vindos desde o governo FHC e que envolvem quase a totalidade dos partidos políticos (inclusive o
PSDB de Aécio Neves).
Nunca é demais se
lembrar do falecido jornalista Paulo Francis, que
durante o governo FHC denunciou uma série de irregularidades na Petrobras e
teve como resposta um processo criminal, que o levou à depressão e à morte.
Desta vez, no
entanto, as denúncias geraram uma investigação séria e profunda, que atingiu as
maiores empreiteiras do País e desvelou as relações espúrias entre iniciativa
privada e setor público, com o objetivo de financiar as campanhas políticas.
Esta nova atitude
perante a denúncia apenas comprova o amadurecimento institucional do País nos
anos recentes, que através do fortalecimento e independência das instituições
poderá investigar e punir aqueles envolvidos nos malfeitos. Caso a maturidade
avance, podemos até sonhar com uma reforma política que proíba a continuidade
destas relações espúrias entre empresas privadas e financiamento de campanhas
políticas.
A avalanche de
notícias negativas, no entanto, reforçou ainda mais os arautos do impedimento
presidencial. O advogado do ex-presidente FHC chegou a encomendar para o
jurista ultradireitista Ives Gandra Martins um parecer que embasasse
juridicamente a tese do impedimento. Apesar de completamente desconstruído pelo
também jurista Dalmo Dallari, o parecer é apenas mais um movimento no tabuleiro
político para fortalecer aqueles que sonham com um novo golpe de Estado, custe
o que custar.
O plano golpista se
aprofunda e, além de abaixo-assinados circulando pela internet, a oposição já
tenta criar um grande movimento de rua similar a junho de 2013, mas desta vez
pedindo o impedimento da recém-eleita presidenta Dilma. A queda na taxa de
aprovação do governo foi o combustível que faltava para o delírio golpista dos novos marchadores de 64, que
acalentam ainda em seus corações e mentes a sanha reacionária e antidemocrática
de seus ancestrais.
Há, no entanto, uma
falha no plano dos novos golpistas: eles ainda não compreenderam a natureza da
identidade petista e base social que este partido representa. Nos idos de 2005,
durante o auge do chamado “mensalão petista”, um dos maiores representantes da
oposição à época afirmou que o Brasil iria se livrar desta “raça” (petista) de uma vez por todas. O ex-senador
Jorge Bornhausen pertencia ao ex-PFL, partido que mudou de nome para DEM e
corre o risco de desaparecer e ser englobado por outros partidos.
Enquanto isso, o PT
sobreviveu, conquistou mais três eleições presidenciais e permanece como um dos
maiores partidos do País. O erro de avaliação de então se repete agora, quando
a oposição acredita que o PT está derrotado,
que não possui quem o defenda e que a presidenta Dilma está isolada. Desconhece, novamente, a ampla base social do
partido, que vai muito além de seus militantes e simpatizantes, englobando boa
parte das camadas menos privilegiadas da população (trabalhadores e excluídos
que viram suas vidas melhorarem nos governos
petistas), além de importantes setores da inteligência nacional.
O que os delirantes golpistas não compreendem é que,
parafraseando Euclides da Cunha, o petista é antes de tudo um forte. Ele sobrevive às maiores adversidades, seja em
relação à sua condição social desprivilegiada (afinal, a maior parte dos
petistas é composta de trabalhadores, assalariados e excluídos), seja em sua
árdua tarefa de debater e conviver em uma sociedade conservadora, cuja elite e boa parte da mídia os odeiam.
O ódio contra o PT
não advém apenas de seus erros, mas sim do projeto que representa: a
transformação do feudo brasileiro em uma verdadeira democracia política, social
e econômica. Este projeto transformador, mesmo quando travestido com uma carapaça
tradicional e afeito a concessões, não é o projeto de boa parte da elite
brasileira e por isso a enfurece.
O grande objetivo
das elites nacionais é manter seus privilégios e se alinhar servilmente aos
interesses estrangeiros, por acreditarem que tais interesses representam a
“modernidade” que falta ao País.
O verdadeiro petista
sobrevive aos piores ataques que um homem pode sofrer: a humilhação, a calúnia
e a difamação diárias, fruto do ódio
contra o ideal que representa. Sobrevive, não sem cicatrizes profundas, aos
graves erros cometidos por alguns dirigentes de seu partido, sabedor que é de
que, para além das pessoas, há um projeto e um ideal a ser defendido.
Sobrevive, por fim,
aos descaminhos da política, que por diversas vezes forçou o governo para uma
rota diferente da desejada pelo ideal petista, mas que, por meio de muita
batalha e pressão social, foi capaz de reconstruir o significado de um governo
de esquerda, progressista e socialmente responsável.
Mas o verdadeiro
petista também percebe que o PT é muito maior que alguns homens, que alguns
erros ou descaminhos. Reconhece no PT o símbolo de um projeto de país que sonha
com um Brasil livre, independente e democrático, com justiça social e
econômica.
Reconhece, acima de
tudo, que a construção desse ideal e desse símbolo está constantemente ameaçada
não apenas por seus próprios erros, mas por aqueles que querem fazer uso desses
erros para destruí-lo. E por reconhecer todas essas
questões, no momento em que for chamado, o petista não vai abandonar seu
governo para vê-lo derrubado por seu pior inimigo.
Que venham os novos marchantes de 1964, pois
encontrarão na base do povo brasileiro aqueles que se baterão contra seus
delírios golpistas.
ATENÇÃO: as palavras na cor vermelha constam originariamente no
texto, mas os destaques são deste BLOGUEIRO.
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