domingo, 6 de janeiro de 2013

O compromisso da continuidade !!!

Foi-se metade do governo Dilma. Restam-lhe, portanto, dois anos. Diz-se que, para os governantes, os primeiros dois passam devagar e que eles se sentem como se tivessem a eternidade pela frente. E que os segundos voam, pois o fim do mandato se torna um dado cada vez mais palpável e mais presente no dia a dia. Esse não é apenas um sentimento. A segunda metade é, de fato, mais curta.
Desde antes do fim do terceiro ano, a sucessão torna-se assunto principal. Cessam as inovações e as experiências. A pauta do governo fica limitada e a cobrança de resultados intensifica-se. É preciso ter coisas, de preferência “concretas”, para pôr na mesa. Tudo começa a girar em torno de um objetivo central: reeleger-se ou escolher quem possa vencer a eleição que vem a seguir.
A segunda metade dos governos costuma ter, portanto, dois tempos distintos: um terceiro ano predominantemente administrativo, mas já político, e uma “reta final”, marcadamente política. Se Dilma estivesse mal, se a população se sentisse insatisfeita com ela, os dois anos que tem pela frente seriam suficientes para que revisse rumos e encontrasse meios de consertar problemas.
Já vimos isso acontecer com governadores e prefeitos. São muitos os casos dos que conseguiram recuperar a imagem depois de atravessar dificuldades no começo. Mas Dilma está bem. Na verdade, muito bem. Segundo dados das pesquisas CNI-Ibope, ela saiu da eleição de 2010 com a imagem de que faria uma administração “ótima” ou “boa”. Em dezembro daquele ano, era assim que pensavam quase dois terços (62%) dos entrevistados pelo instituto.
Depois de ter alcançado, em março de 2011, a marca de 68% de avaliações positivas, Dilma foi a 55% em julho (sempre de acordo com o Ibope). De lá para cá, cresceu sistematicamente. A cada pesquisa, foi batendo os recordes de seus antecessores em igual momento. Nenhum presidente da República foi mais bem avaliado que ela. Nem Lula.
Nas mais recentes, seus números igualam ou ultrapassam as expectativas da população antes que começasse a governar. Em outras palavras: a maioria imaginava que seria uma presidenta “ótima” ou “boa” e acha que é isso que ela está sendo.
Para o eleitorado, quando disputou e venceu a eleição de 2010, Dilma fez uma promessa fundamental: faria um governo de continuidade. Era o que as pessoas queriam. Apesar das dificuldades, elas entendem que Dilma cumpriu seu compromisso nos primeiros 24 meses do mandato.
Ela manteve as políticas mais claramente identificadas com Lula, como o Bolsa Família, o ProUni, o Minha Casa Minha Vida. Não houve mudança na retórica ou em sua implementação. Foram ampliadas e aperfeiçoadas. Prosseguindo a principal opção da política econômica que herdou, renovou a aposta no mercado interno e continuou a procurar a expansão do emprego, da renda e do consumo.
As pesquisas mostram que insistir nas políticas do governo Lula nunca foi demérito para ela. A vasta maioria da população não desejava que fossem alteradas ou esperava que quem havia sido parte importante do governo anterior as mudasse. Com o agravamento da crise na economia internacional, essa continuidade mostrou-se mais significativa. Em vez de retroceder e voltar à prática conhecida de “apertar os cintos”, diminuindo gastos públicos e controlando a moeda, o governo manteve suas escolhas. E as aprofundou.
No segundo semestre de 2012, o governo mudou o discurso e passou a agir para corrigir velhas distorções no funcionamento da economia, algumas particularmente prejudiciais ao cidadão comum. Juros estratosféricos, impostos exorbitantes, preços abusivos da energia elétrica, incompetência e falta de transparência das prestadoras de serviços públicos básicos, coisas que as pessoas consideravam males eternos e sem remédio, começaram a mudar.
Em razão disso, cresceu a aprovação das ações do governo em relação, por exemplo, à inflação (entre junho de 2011 e setembro de 2012, a desaprovação caiu de 56% para 45%) e à taxa de juros (a aprovação subiu de 29% para 49%, no mesmo período). Alguns dos poucos temas de política econômica em que a insatisfação predominava diminuíram de gravidade.
Terminamos o ano com o aumento das preocupações relativas à crise, mas com a maioria da população acreditando que o Brasil está mais preparado que o resto do mundo para superá-la. Ainda bem que é pequena a credibilidade do noticiário econômico produzido pela imprensa oposicionista, que nos diz que vivemos à beira do abismo.

Foto: Shaun botterill/getty images/afp

As pessoas acreditam que o País e o governo vão bem, seja porque a economia está corretamente administrada, seja porque a opção social que caracteriza as administrações petistas foi mantida. Mas também porque a presidenta está sendo, desde o início, uma boa surpresa. Sua “maneira de governar” é aprovada por 77% e reprovada por 18%. Confiam nela os mesmos 77% e há 22% que dizem que não. Nas duas dimensões, as respostas positivas vêm aumentando desde 2011.
É a primeira vez que temos no Planalto alguém como ela. Que não chega lá para fazer “grandes mudanças”, mas para continuar. Que não exibe uma biografia de “coisas notáveis”, mas um perfil de administradora e gerente. Que não tem passado na política e revela pequena paciência com seus hábitos e personagens.
Com tantas particularidades, ela tinha um enorme desafio quando tomou posse: governar o País sem deixar que a população sentisse saudade de Lula. Não era fácil suceder “o melhor presidente que o Brasil já teve”, de acordo com a opinião majoritária. Mesmo para políticos experientes seria difícil. Imagine-se para quem estava em começo de carreira.
Ao longo do primeiro ano, enfrentou e resistiu ao desgaste de uma série de problemas nos ministérios. Diversos ministros acabaram substituídos, quase todos por suspeita de irregularidades, algumas graves, outras menores. Em nenhum episódio foi vista como conivente ou tolerante. Atravessou-os como a maior interessada no seu esclarecimento, como quem queria aproveitá-los para fazer uma “faxina” na administração federal.

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Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também é colunista do Correio Braziliense.

 

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