O MICO EDUARDO CUNHA
Por
Emir Sader
Toda gangue tem um
operador maldito, que faz o jogo mais sujo, é indispensável, mas ao mesmo tempo
um tipo explosivo, que pode colocar tudo a perder. Fujimori tinha Vlademiro
Montesinos – preso hoje junto com ele -, a gangue do Collor tinha o Paulo Cesar
Farias. A que pretende assaltar o Estado brasileiro tem o Eduardo Cunha.
Ele é útil até um
certo momento, quando é necessário fazer jogos sujos de maneira mais pesada. Depois,
se torna um estorvo.
Isso passa com
Eduardo Cunha. Nem um tipo como o Paulinho da Força, sem nenhum caráter, que
afirma que ele é a pessoa mais honesta que ele conhece, desconhece que se trata
do político mais
corrupto do Brasil. Ele é o operador mais sujo da gangue, indispensável para
angariar fundos e apoios, para chantagear, corromper, ameaçar, obter maiorias
no Congresso, financiar campanhas e constituir sua bancada de bandidos e se valer
dela como instrumento de força para negociar, vender apoios, se tornar
indispensável.
Foi assim, desde a
campanha eleitoral em que, valendo-se da oposição frontal ao governo
praticamente da totalidade dos grandes empresários, arrecadou recursos e elegeu
uma bancada à sua feição. E articulou sua candidatura à presidência da Câmara,
com todo o profissionalismo
de um gangster, usando aviões, fazendo promessas, comprando apoios,
constituindo lobbies.
Fez da Câmara seu
território, em que manda e desmanda a seu bel prazer, convocando sessões e
desconvocando, nomeando e destituindo, provocando. E associando toda sua ação a
posições extremamente conservadoras, ligadas aos evangélicos fundamentalistas,
à bancada da bala, à do agronegócios – em suma, a tudo o que há de pior no
Congresso, na política e na sociedade brasileira.
Tornou-se o
bandido preferido da elite brasileira, aquele que faz o que ela precisa, sem
que ela suje diretamente suas mãos. Às vezes, hipocritamente, alguns editoriais
se queixam da incomodidade de ter alguém como ele do seu lado. Mas sabem que
devem muito a ele, que sem ele seu projeto não existiria.
Graças a ele
conseguiram os 2/3 na Câmara, num dos dias mais vergonhosos da história
política do Brasil, mas a que seus aliados fecharam os olhos, da mesma forma
que fizeram sobre o tipo de gente que se manifestava e o que diziam nas ruas.
Tudo é coerente: aquela maioria e o tipo de ódio manifestado por setores da
classe média, expressos no tipo de pessoa que é Eduardo Cunha. Nenhum
desses lados do golpe pode existir sem o outro.
E agora, o que
fazer com o Eduardo Cunha? Ele cabe nos corredores da Câmara, mas pega mal no
Palácio do Planalto, mais ainda se tivesse que assumir a presidência da república.
Seria a imagem mais expressiva do caráter gangsteril do golpe em curso, que
livra o bandido das garras da lei, e ainda o promove ao posto
político mais alto do país. Uma bela
recompensa, mas que não deveria ser vista por todo o país e pelo mundo. Os
excessos revelam a essência de um fenômeno, dizia Brecht. Nesse caso, Eduardo Cunha
presidente do Brasil seria a exibição da natureza mesma do golpe e da gangue
que o promove.
Editoriais
hipócritas falam em tirá-lo depois da votação no Congresso. Outro diz que ele
não poderia assumir a presidência do Brasil. Vergonha agora do aliado incômodo,
depois que ele já fez o trabalho sujo, sem o qual o projeto não seria possível.
Fala-se em tirá-lo da presidência da Câmara e preservar seu mandato. Mas o
bandido agora se sente mais forte, não vai entregar seu cargo, que lhe dá as
condições de força para negociar e chantagear, porque sabe que sem esses
instrumentos, o passo seguinte pode ser algum dos tantos processos – apesar de
que ele já se precaveu e ganhou a simpatia do STF, com o aumento
exorbitante dos salários, que a Dilma tinha vetado.
De qualquer
maneira, ele se tornou um tipo incômodo, um verdadeiro mico. Ficar com ele é
ruim, incômodo, tirá-lo é uma operação de muito risco, por tudo o que ele sabe,
por tudo o que pode revelar, arrastando o próprio projeto pro ralo. Eduardo
Cunha se baseia no papel jogado por Roberto Jefferson, conhece o poder dos bandidos e
estaria disposto a arrastar a todos com ele e implodir o projeto golpista.
Terminar o jogo
com esse mico na mão pode colocar a perder toda a operação. Daí que
ninguém na gangue sabe o que fazer, enquanto Eduardo Cunha segue operando,
sabendo muito bem os trunfos que tem. Não faltasse os planos de assalto ao
Estado como um botim para ser pilhado, bastaria esse personagem para definir a
esse grupo como uma gangue.
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