
Ontem [14/8] o Estadão divulgou
uma conversa entre Lula e o executivo da Odebrecht, Alexandrino de Salles
Alencar. Uma conversa onde quase tudo que o ex-presidente diz é “Aham”. Basta
ler e olhar com atenção o diálogo que segue no pé desta nota. Mas, na
interpretação sacana de alguns veículos, se tornou prova do envolvimento de
Lula no esquema da Lava-Jato.
Hoje [15/8], a revista da
Marginal divulga os dados do sigilo bancário do ex-presidente. Todos os
detalhes das operações estão ali. Quanto Lula repassou para cada um dos seus filhos,
quanto investiu em previdência privada e coisas do gênero.
Os dados teriam sido enviados pelo
Coaf, órgão do Ministério da Fazenda, aos procuradores da Lava-Jato. Que, ao
que tudo indica, só o solicitaram para tornar o assunto capa da Veja antes
da manifestação de amanhã [16/8].
Se o ministro da Justiça fosse outro,
hoje pela manhã talvez já tivesse dado uma coletiva de imprensa dizendo que
iria abrir um inquérito para investigar o vazamento e que os envolvidos seriam
punidos exemplarmente. Que as instituições no Brasil e as investigações não
podem mais ser tratadas na base da molecagem. E que o custo para a imagem do
país desse tipo de crime (quebra e divulgação de sigilo de dados é crime) não
podia mais ser admitido.
Mas, José Eduardo Cardoso pelo jeito
tem outras prioridades…
O vazamento dos dados do Instituto
Lula é insignificante do ponto de vista objetivo, mas não da narrativa que se
busca construir, de que o ex-presidente é um chefe de quadrilha.
Em primeiro lugar, Lula ter
conseguido vender R$27 milhões em palestras em aproximadamente 55 meses depois
de ter saído da presidência, o que significa uma renda de aproximadamente R$500
mil por mês. É muito. Sim, é muito dinheiro. Mas não exatamente para manter um
instituto.
Uma empresa que gire R$6 milhões por
ano é considerada pequena. Um bom restaurante da Vila Madalena tem um
faturamento desses. E o instituto não é só o Lula. Ele paga aluguel,
funcionários, tem várias atividades sem fins lucrativos e Lula tem sim peso
político para vender suas palestras.
Esse blogueiro apurou que o preço das
palestras do ex-presidente gira na casa dos US$200 mil quando contratadas por
empresas. Aliás, só estão sendo divulgados os nomes daquelas empresas que
apareceram na Lava-Jato, que representam pouco mais de 30% do volume total das
palestras. Mas, por exemplo, a Globo pagou pra ter uma palestra de Lula. E
muitas outras empresas nacionais e multinacionais, como a Microsoft.
Lula saiu com 85% de aprovação da
Presidência da República e se quisesse ter feito o dobro de palestras,
provavelmente teria conseguido. E a receita em vez de ter sido R$27 milhões,
poderia ter sido de R$50 milhões.
Fernando Henrique também faz
palestras pagas. Bill Clinton e Tony Blair também. E mesmo pessoas menos
talentosas, como alguns jornalistas e comentaristas da emissora dos Marinhos, o
fazem cobrando alguns milhares de reais. Ou seja, não é crime.
Mas então por que isso está sendo
divulgado como se fosse? Para ir preparando o terreno para o golpe que está
sendo desenhado a alguns meses. Ir pra cima de Lula.
Este blogueiro conversou com várias
pessoas nos últimos dias. E o que parece estar se consolidando é que os
investigadores da Lava-Jato estão engatilhando um pedido de busca e apreensão
no Instituto Lula.
Essa ação seria solicitada com base
nesses dois grampos divulgados entre ontem e hoje. E criariam as condições para
uma narrativa de criminalização do ex-presidente principalmente se não houvesse
reação popular e que poderia levar a um mandato de prisão dele com base na
espúria teoria do domínio do fato, que seu próprio autor, Clauss Roxin, não
entende da mesma forma que o Judiciário brasileiro vem aplicando.
Há quem considere que os operadores
mais radicais da Lava-Jato perceberam que se criou uma nova dinâmica na
operação política do impeachment de Dilma e que buscá-lo agora não deveria ser
o principal objetivo. Por isso, teriam mudado toda a estratégia para buscar
incriminar Lula e tirá-lo rapidamente do jogo.
Por conta disso, muitos têm defendido
que Lula assuma um ministério. Por um lado, para que o PT recuperasse mais
protagonismo na articulação política e os movimentos sociais entendessem um
recado de que não vão ficar apenas ajudando o governo sem ter um interlocutor
forte lá dentro. E ao mesmo tempo para impedir que fosse surpreendido por uma
operação amalucada para prestar depoimento ou mesmo ser preso sem provas.
Lula, porém, não gosta da ideia. Já
teria dito que não aceitaria ministério para ter fórum privilegiado e ter seu
caso julgado no STF. E que não tem medo de investigação nenhuma porque sabe
exatamente o que fez na vida.
Há uma única chance de ser dissuadido
dessa posição, um forte apelo de Dilma. E mesmo isso poderia não funcionar.
Lula prefere sair Brasil afora
disputando politicamente do que ficar “preso” em um gabinete de Brasília. E
acha que a ação iniciada nesta semana com a Marcha das
Margaridas e outros encontros já demonstraram que é
possível movimentar as ruas e resistir a essa escalada de criminalização do
governo, dos movimentos e da esquerda.
O Nordeste deve ser o primeiro alvo
do ex-presidente. E também da presidenta da República. O teste no Maranhão, no ato com o governador
Flávio Dino, foi considerado um sucesso. Isso deve se repetir em outros estados
menos intoxicados pela mídia.
A questão é se vai dar tempo para
isso. A turma radical da Lava-Jato parece querer realizar uma operação rápida.
Lula certamente está avaliando todos os cenários. Seu entorno idem. Mas às
vezes quando se está só ouvindo o rugido do bicho, sem vê-lo, pode parecer que
ele é maior ou menor do que na realidade. E este blogueiro está achando que o
bicho é feio e grande. E que não tem o menor compromisso com qualquer lógica.
Lula não deveria ignorar a falta de
lógica na ação de canalhas que andam dizendo para jornalistas que vão prendê-lo
a qualquer custo.
Lula não deveria ignorar que não há
lógica na ação de quem vive perguntando para réus da Lava-Jato que o primeiro
que vier a entregá-lo terá benefícios pela delação.
Mas, Lula e esses caras podem ter
certeza de uma coisa, se fizerem alguma coisa com ele o bicho pode ficar feio
para o lado de lá também. A Lava-Jato ainda é algo confuso para muita gente,
mas sua ação tem credibilidade. Se vier a fazer uma operação tresloucada com
Lula, tudo pode mudar. Uma amiga que atua na política nordestina garante que
por lá isso seria uma bomba. Que imediatamente seria entendido como golpe. E
que a resistência seria radical. Que o Brasil não é São Paulo e Paraná. E eu
acho que ela tem razão.
O risco de virem para cima de Lula
também não é pequeno. Mas, ao mesmo tempo, quem disse que esses malucos não
estão dispostos a transformar o Brasil num Egito? Essa é a questão que ainda
está em fase de ser respondida.

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