“Lula continua na mira dos irmãos Marinho”; Instituto convoca para vigília no dia 16, contra o golpe
Celso
Marcondes: Lula vai pra rua enfrentar a baderna da extrema-direita
por Rodrigo Vianna
Com
mais de quatro décadas de atuação política, Celso Marcondes lança um alerta:
Lula segue a ser o alvo. É a força dele que atormenta tanto a extrema-direita,
quanto os setores mais “manhosos” da elite
empresarial/jurídico/midiática, que nos últimos dias baixaram o volume de
artilharia contra Dilma e seu governo.
“Eles [mídia e setores da
elite] suportam a Dilma enfraquecida, mas não pisaram no freio dos
ataques ao Lula. Ele vai ser alvo preferencial das manifestações de domingo e
continua sob a mira dos Marinho”, diz o experiente militante.
Jornalista
por formação, Marcondes é o diretor do Instituto Lula, órgão mantido pelo
ex-presidente no bairro do Ipiranga, em São Paulo – bem perto do local em que
Dom Pedro teria dado o “grito da Independência” em setembro de 1822. Em julho
de 2015, os gritos que se escutaram por aqui foram outros. Uivos enraivecidos
dos que lançaram uma bomba de fabricação caseira contra o Instituto, no último
dia 30. Berros assustados dos que moram e trabalham nas redondezas.
Por parte da polícia e da imprensa velha de guerra,
silêncio sepulcral. Duas semanas depois do ataque, a investigação não andou. A
polícia de Alckmin, diga-se, é comandada por um secretário que gasta seu tempo
comparecendo a manifestação de “juristas” em defesa da renúncia de Dilma (clique aqui para saber mais sobre o Secretario de Segurança
que defende a desordem pública)
Em entrevista exclusiva ao Escrevinhador,
Marcondes revela que o Instituto segue a receber “telefonemas e emails
ameaçadores.” Ou seja: os agressores sentem-se livres para atacar de
novo. Ele estranha que o caso não tenha sido federalizado: “É
responsabilidade também da PF tratar de um caso que envolve um ex-presidente.”
Ele diz que teme as ações da extrema-direita nos
próximos dias: “pregam o golpe militar, são preconceituosos, racistas.
São perigosos, sim. Mas não vão nos intimidar.”
Marcondes ficou um pouco mais aliviado com a
presença de metalúrgicos e sindicalistas que, desde o dia 10, montaram um
“acampamento” no Ipiranga pra defender Lula. Marcondes convoca militantes e
democratas para que, no dia 16, participem de uma vigília contra o golpe, em
frente ao Instituto: “Quem não quiser ir para a Paulista, que venha
para cá defender a democracia.”
Confira abaixo a entrevista na íntegra.
1) O ataque a bomba contra o Instituto Lula vai
completar duas semanas. Como estão as investigações? A Policia Civil mostrou
agilidade ou interesse em resolver o caso? Alguém foi ouvido? Há
indiciados/suspeitos?
Eu
estou muito preocupado com a lentidão na apuração do caso. Acho um absurdo não
termos nenhuma novidade depois de 14 dias. Toda a região é cercada por câmaras
de segurança de diversos edifícios. As pessoas que jogaram a bomba não passaram
“de repente” e jogaram o artefato. Seguramente passaram antes para ver a
situação e outras pessoas devem ter trabalho como informantes. Também não sei
de nenhuma pesquisa séria feita pela internet para identificar os agressores.
Por
“coincidência”, no dia do atentado aconteceu uma mini manifestação em frente ao
Instituto com exatas dez pessoas de um grupo de extrema-direita com cartazes
ofensivos ao Lula e ao Instituto, um deles com os dizeres “Instituto Lula =
Instituto do Crime”. E na manhã de sexta-feira, 31, enquanto avaliávamos o
prejuízo, outro grupo menor ainda, com cinco pessoas, veio nos provocar e
xingar. Está tudo registrado em fotos e vídeos que foram colocados na rede. Ou
seja, em menos de 24 horas, foram três ocorrências no Instituto. Além disso,
temos recebido telefonemas e emails ameaçadores. Eu pergunto: se as autoridades
tratam um ex-presidente da República com tal descaso, o que pode vir pela frente?
2) Segundo a imprensa, o Secretario de
Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, estava presente em ato
público no dia 11 de agosto, quando “juristas” lançaram um manifesto
exigindo a renúncia de Dilma. Parece uma manobra golpista. A lentidão da
polícia (subordinada a Moraes) para investigar a bomba não poderia ser motivada
por essa posição política extremada do atual secretário?
Eu
não sabia da presença do secretário neste ato, mas lamento profundamente e me
preocupo ainda mais agora com essa informação. O clima de insegurança e medo
sempre propaga em momentos de crise. A história registra isso em abundância. Os
que querem o golpe se alimentam deste clima.
3) O caso da bomba não poderia ser federalizado? A
PF está investigando?
Acho
que tem que ser federalizado, estamos esperando diariamente por isso, não
entendo porque isso ainda não aconteceu. Ontem mesmo o presidente do Instituto,
Paulo Okamotto, enviou ofício ao ministro da Justiça pedindo intervenção
federal. É responsabilidade também da Polícia Federal tratar de um caso que
envolve um ex-presidente.
4) Como Lula e a equipe do Instituto avaliam a
maneira como a gloriosa “grande imprensa” tratou o atentado? “Folha”/UOL,
por exemplo, escrevem em seus textos: o ataque “é tratado pelo PT como um
atentado político”. Ou seja: dão a entender que não é um atentado, que só
os petistas tratam o caso assim… Você consegue imaginar o que aconteceria
se o Instituto FHC fosse alvo de bomba? Ou se o Instituto Clinton fosse atacado
pelo Tea Party nos Estados Unidos?
Foi
impressionante. A reação da maioria da grande imprensa, em especial de alguns
articulistas, foi a ironia ao desprezo. Não faltaram os que insinuaram que o
próprio PT havia montado a farsa. Tentaram reduzir o caso por se tratar de uma
bomba “caseira”. Mas “caseiras” foram as bombas da maratona de Boston, dos
atentados do Riocentro, da OAB, contra as bancas de jornais, essas nos
estertores da ditadura brasileira. Não foi coisa de um “baderneiro”, como disse
um delegado e repercutiu na imprensa. Um “baderneiro” jogaria uma bombinha de
São João. Aquela que foi jogada aqui tinha alta letalidade, basta ver as
imagens da explosão na internet. Era uma bomba de fragmentação, que espalhou
parafusos de mais de cinco centímetros. Fez pouco estragos porque explodiu
antes do portão, quase explode dentro do carro que a jogou. Por sorte não havia
ninguém por perto.
O
Instituto fica em frente ao Pronto Socorro do Hospital São Camilo e de um ponto
de ônibus. Companheiros nossos saíram daqui naquele dia meia hora antes da
explosão. O Lula saiu às 21 horas e a bomba explodiu às 22h18. E eu tenho que
ouvir Merval e Cantanhede brincando com isso. O que seria preciso para
impressioná-los? O portão ter sido destruído? Algum ferido? Algum morto?
5) Desde o dia 10, metalúrgicos montaram um
acampamento em frente ao Instituto Lula. Qual a ideia? Existe receio de que, no
dia 16, com as manifestações golpistas já agendadas, o Instituto Lula possa ser
alvo de extremistas da direita?
É
uma iniciativa dos metalúrgicos do ABC, que começaram a Vigília pela Democracia
e eu fiquei muito contente com isso. O acampamento está crescendo e seguramente
atrairá milhares de pessoas no dia 16.
Quem
não quiser ir para a Paulista, que venha para cá defender a democracia. Vai ser
uma grande festa, com música, barracas e alegria. Temos medo, sim, de grupos de
extrema-direita. Diante da inoperância da polícia, fomos obrigados a contratar
segurança particular para nos proteger e contar com o apoio dos companheiros e
amigos. Esses grupos, que aparecem impunemente pela internet, não tem apreço
pela democracia, pregam o golpe militar, são preconceituosos, racistas. São
perigosos, sim. Mas não vão nos intimidar.
6) Qual cenário você enxerga nesse momento aí
em frente ao prédio? Há quantas pessoas? Todos dormem aí acampados?
Hoje
pela manhã umas 60 pessoas. Estão conversando, jogando baralho, cantando. Eles
fazem um rodízio. Montaram uma barraca de cem metros quadrados, não sei dizer
quantos dormiram aqui. Mas durante toda a semana comitivas de sindicalistas e
amigos virão nos visitar. No sábado vai ter samba e no domingo uma festa da
democracia.
7) Um colunista conservador, pago pela família
Marinho, andou espalhando que nesta quarta-feira viria uma “bomba” contra Lula.
Aparentemente, o tal colunista quis até fazer graça com o atentado do dia 30.
Há algum receio, no Instituto, de que Sergio Moro possa criar algum fato novo
antes do dia 16, para inflar o movimento golpista?
Eu
acho que aqueles que comemoram a “trégua” calculada, momentânea e tática da
Rede Globo e de outros veículos, tem que entender essa novidade na sua
plenitude. Depois de desgastar tremendamente a presidenta Dilma, chegaram à
conclusão que não há alternativa imediata tranquila.
Todos
sabem que Eduardo Cunha pode ser indiciado a qualquer momento pela Lava Jato. E
as elites, o capital financeiro, temem que a crise política aprofundada
prejudique ainda mais os seus negócios. Procuram alternativas rápidas e
seguras, mas não encontram. E a oposição está claramente dividida. Enquanto
esperam os resultados das novas investidas da Lava Jato e o alcance das
manifestações do dia 16, dão uma trégua, pisam um pouco no freio do golpe em
marcha. Mas, muita atenção: suportam a Dilma enfraquecida, mas não pisaram no
freio dos ataques ao Lula. Ele vai ser alvo preferencial das manifestações de
domingo e continua sob a mira dos Marinho, vide a capa do Globo de hoje.
8) Há uma página no facebook pedindo a morte de
Lula. O Instituto vai entrar com ação para pedir punição aos responsáveis pelo
crime? Qual a alegação do Facebook para manter a página?
Essa
é outra faceta do ataque ao Lula. Esse “grupo aberto” do Facebook é um absurdo,
um ultraje à democracia. Na sexta-feira eram 4 mil seguidores, hoje já passam
de 5.500. Já fizemos dois pedidos formais para a retirada e muito gente
denunciou a página, Eles mandam uma resposta burocrática dizendo que não
enxergam motivos para tal. É inconcebível tal atitude. Diante dessa, vamos
intensificar a mobilização pela rede e entrar com ação na Justiça, nossos
advogados já estão preparando.
9) Como está o humor de Lula com essa escalada
autoritária no Brasil?
Lula
está evidentemente preocupado com a situação política do país e altamente
empenhado no debate para enfrentar a crise, conter as ameaças golpistas e
unificar o Brasil na defesa da democracia. Começou ontem seu ciclo de viagens
pelo país, naquela maravilhosa Marcha das Margaridas. Volta à Brasília dia 14
para a Plenária Nacional da Educação. Depois vai a Belo Horizonte e tem inúmeros
convites para viagens. Ele está muito satisfeito com a quantidade de
mobilizações populares que começam a acontecer pelo Brasil.
10) E quem trabalha no Instituto: tem medo?
O
Instituto tem mais de 30 colaboradores regulares e dezenas de outros que passam
por aqui diariamente para participar de reuniões e atividades. Alguns mais
engajados politicamente, outros nem tanto, são profissionais em suas áreas.
Todos estão muito preocupados com a não apuração do atentado. Mas satisfeitos
com o serviço de segurança particular que contratamos e com a solidariedade dos
metalúrgicos. Mas um dos choques que ficou foi com a ausência da solidariedade
de importantes setores ditos democráticos de nossa sociedade. Você acredita que
não recebemos nenhum telefonema de dirigentes do PSDB, do PP e de muitos
ilustres democratas brasileiros? O que fica, é que compraram a versão dos
colunistas globalizados.
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