por Patrus Ananias*
O
PT está vivo. Ferido, mas vivo; menor do que foi em anos recentes, mas vivo e
povoado de reservas morais, espirituais, culturais e políticas que o credenciam
a vencer os desafios que tem que enfrentar. As análises publicadas após o
primeiro turno das eleições municipais destacam, acima de tudo, a perda de
apoio popular e de poder pelo Partido dos Trabalhadores.
É
notório que o PT perdeu — e muito. Sua direção reconheceu “derrota profunda do
campo democrático-popular, principalmente do nosso partido”. Mas as urnas nos
dão outras notícias, tão graves que tornam reducionistas, algo como obras de
torcedores, as análises centradas no desempenho do PT e/ou outros partidos de
esquerda.
As
eleições deste ano foram as mais despolitizadas desde que entrou em vigência a
Constituição de 1988. A indiferença e, em alguns casos, a agressividade das
pessoas anteciparam o elevadíssimo número de abstenções e de votos brancos e
nulos. Não foi difícil compreender, a partir das ruas e praças públicas e do
resultado das urnas, que a maioria da população não se envolveu com o processo
eleitoral.
Considero
positivo o fim das contribuições empresariais. Mas os efeitos foram tímidos,
porque os candidatos ricos levaram nítida vantagem. Foram mantidos e ampliados
os currais eleitorais com a compra de votos e o apoio de muitas lideranças
comunitárias e religiosas. E a redução do período eleitoral a 45 dias cerceou o
debate de propostas entre candidatos e sociedade.
A
omissão do Legislativo continua permitindo a expansão da influência do
Judiciário, especialmente da Justiça Eleitoral, que sai da função de julgar e
pacificar os conflitos para exercer o papel de normatizadora e propagandista do
processo eleitoral. Cabe também uma rigorosa autocrítica aos partidos
políticos. E, dentro da autocrítica que devem fazer os partidos comprometidos
com o estado democrático de direito e com o bem comum, cabe avaliar o pior
desempenho eleitoral do PT em sua esplêndida trajetória ascensional de 36 anos.
O
PT enfrenta uma duríssima campanha de setores da mídia em trabalho permanente
de desgastá-lo, inclusive pela desqualificação de políticas públicas dos
governos Lula e Dilma que resultaram em históricas conquistas nacionais. E foi
transformado em alvo exclusivo de ações da PF, do MP e do Judiciário. Mas o
fato de sofrermos perseguições com visíveis finalidades políticas e
eleitoreiras não nos exime das nossas faltas, como a de aceitarmos as regras do
jogo com relação ao financiamento privado das eleições e aos acertos daí
decorrentes.
É
forçoso reconhecer também que o PT perdeu a força inaugural, de quando garantia
vez e voz aos militantes e simpatizantes através de cursos de formação
política, debates, eventos de partilha de conhecimentos e experiências,
encontros partidários. É hora de seguirmos o conselho de Gandhi e fazermos em
nós a mudança que cobramos dos outros.
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