quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Um morador do Rio de Janeiro ESCREVE sobre a sessão de ontem na Câmara dos Deputados ! ! !

"UM CARTÓRIO COM SERVIDORES MEDÍOCRES E MAL EDUCADOS, SEM CHEFIA, LIDERANÇA OU COMANDO” 

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Ao contrário do que acontece em países politicamente maduros e de democracia estável, o parlamento brasileiro funciona como órgão de homologação das decisões do presidente da república, seja por acordo, propinas ou loteamento de cargos na máquina da administração pública e nas estatais.
Foi sempre assim, desde o golpe dado por Deodoro da Fonseca em seu amigo Dom Pedro, na Proclamação da República, do qual o golpe de Temer em Dilma foi um infeliz e rasteiro remake, de qualidade piorada.
Barak Hussein Obama, contrariando o status quo norte americano, por ser negro e de origem muçulmana, governou durante dois mandatos com minoria no parlamento, e nem por isso caiu ou foi sabotado.
Já nas plagas tupiniquins, terra de ladrões e papagaios, onde as sucessões presidenciais podem acontecer nas urnas, na força das baionetas ou nas negociatas, variando com a conjuntura, mutável como a meteorologia, presidente que não tem maioria parlamentar cai ou é chantageado, levado ao imobilismo.
Que o digam Fernando Collor e Dilma Rousseff.
FHC e Lula governaram em céu de brigadeiro por um único motivo: tinham maioria qualificada(mais de 2/3) nas duas casas parlamentares, transformadas em cartórios, meros órgãos homologadores das decisões dos dois.
A história se repete, com o golpresidente de plantão, mas, como em toda situação anômala, absurda, esdrúxula, ridícula, nem mesmo com o chamado rolo compressor, base de apoio de FHC, tivemos um Congresso Nacional de tão baixo nível, o pior da nossa História, seja qual for o critério de avaliação que se use: escolaridade, nível cultural, oratória, conhecimento do que discutem e até honestidade, basta vermos a quantidade de parlamentares investigados por roubalheira(o último deputado cassado, notório ladrão, afirmou que levaria outros cento e cinqüenta deputados ladrões, com ele).
Faltam cinco minutos para três da madrugada e estou cumprindo o doloroso dever, misto de masoquismo e fomento de revolta, de assistir a Tevê Câmara, onde foi aprovada, sem destaques ou alterações, a PEC 241, que congela os gastos públicos por vinte anos.
Sem entrar no mérito desse crime, decidido num banquete, no Palácio da Alvorada, em negociatas denunciadas pela Tevê Globo, onde a Caixa Econômica foi retalhada em troca de votos, atenho-me ao comportamento dos artistas circenses, sem maquiagem e sem cartolas, mas cumprindo os seus papéis no picadeiro da Câmara, digo plenário.
Assisti os debates serem interrompidos pelo deputado representante do Jogo do Bicho e das maquininhas caça níqueis, para saldar a presença do prefeito do United States of Japeri. Depois a bancada do boi defendendo a vaquejada, sob a alegação de que se o animal vai para o matadouro, que mal há em torturá-lo, antes? O “que dá emprego e diverte o povo”.
Ao invés de pedirem um minuto de silêncio como homenagem póstuma ao ex jogador Carlos Alberto Torres, pediram um minuto de silêncio pela morte, a homenageada.
Depois, diante de pronunciamento mais acalorado, de um parlamentar, de dedo em riste, pudemos ouvir o presidente da Câmara responder: “não tenho medo do seu dedo, o senhor pode colocá-lo onde quiser”.
Aprendi novos termos, que eu supunha inexistentes: “gastança desemprenhada”, “vaquejadas culturais”, “agiota institucional”...
Em total desrespeito aos colegas que discursavam, um coral de energúmenos parlamentares entoaram, repetidamente, contagem regressiva: “três, dois, um...”, uma maneira de mandar o orador calar a boca.
Enquanto a oposição apresentava números, estatísticas, dados, cálculos... Parlamentares permaneciam de costas, conversando, sem prestar a atenção, conversando ou consultando a Net, nos celulares, sem o presidente considerar questões de ordem e encaminhamentos, cortando o som do microfone de quem estava se pronunciando, em meio à balbúrdia, à indisciplina, à má educação... Dignas de adolescentes da escola elementar.
Fui tentado a concluir esse artigo comparando à Câmara a um puteiro, mas nos puteiros há mais ordem e mais respeito, não só às profissionais que lá trabalham como aos clientes, que lhes pagam os salários, ao contrário do nosso parlamento, que tem o povo que o sustenta como uma manada a ser pastoreada, numa autêntica vaquejada, que defendem.
Baixaram tanto o nível que chegaram ao subsolo, reduzidos a cumprir o protocolo de aprovar o que lhes é imposto ou comprado nos banquetes palacianos."

Francisco Costa
Rio, 26/10/2016.

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