O Senhor Anivaldo Padilha, pai do ministro da Saúde do Governo Dilma Rousseff, Alexandre Padilha, teve de fugir do Brasil quando sua esposa estava grávida e só conheceu o filho oito anos depois
Com voz suave e afável, Anivaldo
Padilho, narra com precisão como foi amarrado nu a uma cadeira
elétrica durante dias consecutivos no presídio Tiradentes – o
mesmo onde a presidenta Dilma Rousseff
esteve detida – no centro de São Paulo em fevereiro de 1970.
Ele conta como fugiu do Brasil quando sua companheira estava grávida
do filho mais velho, o agora ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
“As dores da tortura não foram tão fortes nem tão severas quanto
as dores de sair nessas circunstâncias”, lembra.
No último dia 22 de maio, mais de
40 anos depois, a União reconheceu oficialmente que errou ao
torturar aquele jovem militante da causa cristã e democrática. Por
unanimidade, a Comissão de Anistia pediu perdão, declarou a
condição de anistiado político a Padilha e o indenizou em R$ 230
mil. Agora, seu processo foi encaminhado à COMISSÃO DA VERDADE e ao
Ministério Público, para que os responsáveis pelas torturas e pelo
seu exílio possam ser julgados.
“É uma dívida que a ditadura tem
comigo e com meu filho que jamais vai ser paga porque eu fui privado
de ter contato com ele na primeira infância. Só pude conhecê-lo
pessoalmente quando ele já estava com oito anos de idade”, afirma
emocionado. No exílio, Padilha se casou com uma americana e teve
dois filhos, que se correspondiam com o meio-irmão brasileiro por
meio de gravações em fitas k7 e desenhos.
A noção de que sua vida pertence a
Deus e às causas populares o salvou de cometer suicídio em 1970 e o
mantém na ativa até hoje. Sempre vinculado às ações da igreja,
mas com posições nada conservadoras, Padilha segue defendendo os
mesmos princípios de liberdade de expressão. Na Parada Gay, ajudou
a criar um bloco de religiosos contra a homofobia e de incentivo à
distribuição de preservativos. São passos importantes em direção
à consolidação da democracia, segundo ele.
Padilha considera que ainda há no
País uma herança da ditadura militar que permeia o cotidiano de
todo cidadão, impedindo que a sociedade dê um ponto final nesse
passado precariamente esclarecido. “Precisamos acelerar o processo
de redemocratização”, diz. Para isso, defende, são necessárias
a revisão da Anistia, a divulgação de documentos, a abertura de
arquivos, a Comissão da Verdade e, como espera há décadas, a
condenação dos culpados.
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