Bolsonaro dá show de
racismo, até contra judeus, e a comunidade judaica o aplaude
Por
Bajonas Teixeira
Embora
o fato tenha ocorrido há quatro dias, ele dá muito o que pensar e não vai ser
facilmente esquecido. O clube A Hebraica
do Rio de Janeiro, dentre os locais que preservam a cultura judaica, foi
único lugar do mundo em que um líder extremista de direita e racista
foi recebido, fez apologia do extermínio, ganhou aplausos e arrancou
gargalhadas do público. Uma afronta à memória do genocídio judeu que, no
mínimo, deve ter horrorizado a comunidade judaica internacional.
Vejamos
primeiro o que ocorreu durante o evento e deixemos para o final a tentativa de
explicar essa surpreendente abertura das portas para Bolsonaro exercitar a sua
especialidade: a propaganda do ódio.
Jair Bolsonaro deu um show de racismo
no clube judeu, mais ostensivamente contra negros e índios, mas também contra
os próprios judeus. Usou o termo “raça” – que em seu contexto político de
extrema direita deveria soar horripilante aos judeus presentes – para atacar os
manifestantes que o vaiaram: “Alguém já viu um japonês pedindo esmola por aí?
Não, porque é uma raça que tem vergonha na cara. Não é igual a essa raça
que tá aí embaixo, ou como uma minoria que tá ruminando aqui do lado”.
A palavra “raça”,
como se vê, com uma carga abominável de preconceito, foi lançada contra os
próprios judeus, contra aqueles que protestavam dentro (“uma minoria que tá
ruminando aqui do lado”) e contra os que protestavam do lado de fora (“essa raça
que tá aí embaixo”). E, enquanto isso, a maioria dos judeus presentes gargalhava
e aplaudia.
Para ir fundo
na abjeção, Bolsonaro atacou os negros. Afirmou que em um quilombo
que visitou “o afrodescendente mais magro pesava sete arrobas”. É evidente que, mesmo sem
considerar o resto, a mera aplicação da palavra “arroba” para se referir a um
negro, o reduz à condição de gado e o animaliza.
O público foi
ao delírio, aplaudindo e gargalhando com entusiasmo.
E isso é
incrível porque os precursores da animalização, os nazistas em seus filmes de
propaganda, investiram justamente na associação entre os judeus e os ratos.
Como se sabe, a animalização é a preparação para o extermínio. Mas ninguém,
nenhum dos judeus que foram prestigiar Bolsonaro na Hebraica, lembrou-se disso. Ao contrário, todos extravasaram
alegremente o prazer com a degradação dos negros.
Mas Bolsonaro foi além, nesse
processo de animalização, retratando de forma ainda mais degradante o negro na
perspectiva da animalização ao afirmar que “nem para procriar”
serviam. Ora, um animal que não serve nem para a reprodução, o que se faz
com ele? Se abate. É preciso desenhar para que se veja aí as premissas de
um genocídio?
Ele
justificou também, como sempre fez, a execução sumária por
policiais, chamando as vítimas de “vagabundos”. E, apesar de ter dito que os
que estavam “lá embaixo” – um grupo de judeus indignados que protestavam contra
sua presença na Hebraica – eram também
“vagabundos”, foi aplaudido pelos judeus que estavam acompanhando seu
discurso.
Mas isso foi
pura apologia ao crime, já que as leis brasileiras proíbem a execução sumária.
Tanto é assim que, já ontem, se lia que os PMs que assassinaram os “dois vagabundos”
foram indiciados por homicídio doloso.
Esses judeus
deveriam ter refletido sobre o seguinte: se os jovens judeus que protestavam lá
fora eram, eles também, “vagabundos”, também estavam sendo
postos na linha de tiro de Bolsonaro, sendo justificada a sua execução sumária, já que, no contexto,
a ideia era a de que vagabundo bom é vagabundo morto.
Todos os
aplausos e gargalhadas ouvido no interior da Hebraica, não esqueçamos porque é
um agravante, ocorreram enquanto o Rio de Janeiro se encontrava sob o impacto
da morte brutal da estudante Maria Eduarda Alves, trucidada por policiais que realizavam uma execução.
Cumpre
lembrar que em SP, no dia 27 de fevereiro, a Hebraica cancelou evento com Bolsonaro. O incrível, porém, é
como podem ter programado um evento com Bolsonaro.
De todo modo,
foi o manifesto assinado
por milhares de pessoas, a maioria certamente judeus indignados, que
demoveu a direção da Hebraica-SP de levar à frente o projeto. Já no Rio de
Janeiro, ao contrário, foi justamente como uma vingança contra a desfeita ao
líder da direita em São Paulo, que se promoveu o evento. Foi um desagravo.
O que se
perguntará em futuro próximo é se essa reação do Rio de Janeiro, estranha e
surpreendente, guarda alguma relação com a feira de armas do Rio, um evento
internacional que tem Israel e as empresas israelenses de armamento (os
caveirões, afinal, não caem do céu) como principais promotores e beneficiários.
E Bolsonaro, como todo mundo sabe,
ao pedir a liberação das armas, atua em consonância com os interesses da
indústria de armas.
E mais: os
interesses da indústria de armas de Israel, vão infinitamente além de fuzis e
pistolas. Trata-se de alta tecnologia militar que, em caso de um Bolsonaro na presidência, iriam
drenar bilhões para a indústria da morte. E, afinal, não será isso que
explica os aplausos, as gargalhadas, enfim, o delírio causado no público
presente?
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