O repórter
que revelou a lista antes da Justiça

Breno Pires
Atualizado às 11h50 (correção):
ao
contrário do que escrevi no texto abaixo, o autor do "furo" de
reportagem sobre a Lista do Janot/Fachin é o repórter Breno Pires, também do
"Estadão".
A
matéria foi publicada no blog de Fausto Macedo, daí a confusão que fiz.
Apesar
da troca de nomes, mantenho o que escrevi sobre o Fausto e a importância do
trabalho dos repórteres numa redação.
Peço
desculpas aos dois e aos leitores.
Os
velhos repórteres também se enganam.
Ricardo
Kotscho
***
Era para ser depois
do Carnaval, ficou para depois da Semana Santa, mas antes que a Quaresma
acabasse surgiu um veterano repórter no meio do caminho para quebrar o sigilo
da Lista do Janot, agora Lista do Fachin.
Às 16h00
em ponto de terça-feira, o Blog Fausto Macedo, publicado no portal do Estadão,
deu a manchete que sacudiu o país: "EXCLUSIVO: A lista de Fachin _
Ministro relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal coloca o alto escalão
político do País sob investigação".
Fachin já
tinha viajado logo cedo para passar o feriadão no interior de Santa Catarina, e
outros cinco ministros do STF estavam fora de Brasília. Assim que souberam da
notícia, os parlamentares deixaram rapidamente os plenários da Câmara e do
Senado.
Não era
para menos: estavam na lista divulgada por Macedo nove ministros, 29 senadores,
42 deputados federais, três governadores, as cúpulas do governo e do Congresso,
atingindo toda a elite política brasileira, num total de 108 investigados em 83
inquéritos, um verdadeiro tsunami suprapartidário.
Apesar de
toda a expectativa criada, foi o anti-clímax da "delação do fim do
mundo", pois a quase totalidade dos nomes já circulava em sucessivos
vazamentos seletivos desde o final do ano passado.
"Não
há fato novo", resumiu-se a comentar o porta-voz do Palácio do Planalto,
no começo da noite.
De fato,
a única surpresa foi a aparição do nome do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, junto com Lula e Dilma, nos 201 pedidos da Procuradoria Geral da
República remetidos para tribunais de instâncias inferiores por não terem foro
privilegiado.
As
informações divulgadas por Fausto Macedo no meio da tarde só seriam confirmadas
pelo STF no final da noite, mas as autorizações para quebra de sigilo e a
abertura de inquéritos já tinham sido assinadas eletronicamente pelo ministro
Edson Fachin no dia 4 de abril.
Conheci o
discreto repórter policial do Jornal da Tarde, que falava baixo como se
estivesse sempre conspirando, em meados dos anos 1970, no velho prédio do
Estadão da rua Major Quedinho.
Naquela
época, em que ainda não existia esta história de jornalismo investigativo,
Fausto formava ao lado de Percival de Souza e Inajar de Souza a tropa de choque
da reportagem policial do JT que, entre outras façanhas, denunciou os crimes do
"Esquadrão da Morte" comandado pelo delegado Sergio Fleury, um ícone
da ditadura militar.
Nos anos
1990, o repórter migrou da editoria de polícia do JT, já extinto, para a
cobertura de política do Estadão, do mesmo grupo. Agora, com a Operação Lava
Jato, 42 anos depois de Fausto iniciar sua carreira na grande imprensa, o
noticiário policial acabou dominando as editorias de política.
Virou uma
coisa só, não dá mais para saber onde acaba uma e começa a outra.
E o Blog
Fausto Macedo está nadando de braçada, dando "furos" quase todo dia.
Desta
vez, "furou" não só a concorrência dos grandes conglomerados de
mídia, que mobilizaram centenas de profissionais na grande gincana dos
vazamentos da Lava Jato, mas também o ministro relator no STF.
Como
todos nós, Edson Fachin também deve ter sido surpreendido com a notícia dada em
primeira mão por Fausto Macedo.
Podem
criar mil novas tecnologias e plataformas, mas nada vai substituir o velho
repórter fuçador, bloco e caneta na mão, este animal jornalístico em processo
de extinção, que ainda é a alma de qualquer redação.
Vida
que segue.
Fonte
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