Editorial
Desta vez não dá
O desvairado ataque midiático movido a ódio de
classe trai a fraqueza e o desespero da casa-grande
publicado 30/10/2015
02h29
Este
cidadão gosta da vida
Transcrevo o primeiro período do editorial do Estadão de quarta 28: “Não se pode dizer que
tenha causado surpresa o fato de a Operação Zelotes da Polícia Federal ter estendido suas
investigações à empresa de um dos filhos de Luiz Inácio Lula da Silva e
convocado a prestar depoimento seu fiel acólito, Gilberto Carvalho”. Na mosca.
De fato, não causa surpresa alguma que a Zelotes ganhe subitamente
a atenção nunca merecida. Tampouco causaram as retumbantes manchetes tanto do
próprio Estadão quanto da Folha de
S.Paulo que na
terça 27 celebraram o evento. Há uma operação em curso, contudo, a transcender
os alcances da Zelotes e quaisquer outras. A Operação Anti-Lula,Anti-Dilma, Anti-PT, precipitada por um
afã destruidor capaz de
atentados à verdade factual e aos valores e princípios democráticos e
republicanos.
O empenho é tanto que um mero
boato espalhado pelos apaniguados (ou seriam acólitos?) de Eduardo Cunha, intérpretes
do seu espírito ardiloso, a respeito da viabilidade técnica do impeachment,
move as manchetes da quarta 28, para que o próprio presidente da Câmara as
desminta na manhã do mesmo dia. Ele avisa, com a expressão de Buster Keaton,
não ter nada a ver com o rumor. Ah, sim, Keaton: grande ator cômico do passado
remoto que jamais sorria.
A Operação a serviço do ódio de classe é ampla e complexa, conta com a instrumentação da mídia nativa e evoca situações pregressas. Não é por acaso que o editorial do Estadão, que me inspira de saída,
intitula-se: “Lula e o mar de lama”. Pois é, o fatídico mar de lama em que,
segundo o Estadão de 60 anos atrás, então nutrido pela retórica de Carlos Lacerda, soçobrava o Palácio do Catete habitado pelo velho
Getúlio Vargas.
É do conhecimento até do mundo mineral que se esboçava o golpe de
1964. A história repete-se. Como farsa, há quem diga. De minha parte, intuo um
progresso, na acepção mais completa da palavra, mesmo porque não enxergo em
Lula a vocação suicida que muitos historiadores apontam em Getúlio.
Lula gosta da vida e quer vivê-la.
Não sei se a encenação atual há de ser definida como farsa, embora
não me desagrade a ideia ópera-bufa. Sobra-me apenas uma certeza, e me atrevo a
decliná-la em pleno andamento do espetáculo: desta vez a manobra está destinada ao fracasso. Por ora, no que diz respeito ao impeachment. Depois, veremos.
Entenda-se. O tempo é outro. Às vezes, admito, o meu ceticismo
dobra meu inextinguível otimismo na ação, mesmo assim há na trama uma patetice
que trai o desespero. Uma dúvida latente dos graúdos, a denunciar a
desconfiança na sobrevivência da força esmagadora que, faz 60 anos, alimentava
as certezas dos senhores da casa-grande. Algo se deu pelo caminho, além de uma
leve melhora nos índices da desigualdade.
Recordo épocas tragadas
pelo galope do tempo, em que um termo da moda era conscientização. Talvez algo
se mova agora neste sentido. Meus botões admitem a crença de que cresceu o
contingente de quantos se habilitam a perceber o lado tolo, e até ridículo, de
um enfadonho, desvairado ataque
midiático, a aguçar o açodamento raivoso da minoria e exibir sua fraqueza.
Surpreende uma pesquisa Ibope, divulgada pelo site do infatigável Estadão, para tratar dos índices
de rejeição das figuras políticas eventualmente candidatáveis às eleições de
2018. Os 55% que penalizam Lula são citados em primeiro lugar, mas o júbilo
dura pouco. José Serra tem 54, Geraldo Alckmin e Ciro Gomes 52, Marina Silva 50, Aécio Neves 47. Creio, em todo caso, que
estas porcentagens tenham peso relativo. Muitos dos entrevistados quem sabe
entendam ser a pesquisa prematura, à vista do longo prazo que nos separa do
pleito.
“Apesar da rejeição – e aqui volto a citar o Estadão – o porcentual dos eleitores que com certeza votariam nele (Lula,
leia-se) é maior do que a de todos os seus potenciais adversários.” Ou seja:
23% contra 15% de Aécio, 11% de Marina, 8% de Serra e 7% de Ciro. Cuja presença
na liça favoreceria o petista, conforme a análise dos meus botões. Ou, por
outra, se as eleições se dessem hoje, a despeito de toda a campanha contrária
febrilmente desfechada pela mídia, o ex-metalúrgico, homessa!, retomaria a
Presidência.
ôXENTE, CUIDADO, pois
as palavras na cor vermelha constam
originariamente no texto, mas os destaques e ênfases são deste BLOGUEIRO.
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