sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tchau, Jobim!!!!!!

A gota d'água
 

Foi, por fim, irônico. Ao desfazer uma situação nonsense em seu governo, definida de forma precisa por um experiente jornalista de Brasília (“O Brasil deve ser o único país do mundo que tem um ministro de oposição”), Dilma Rousseff usou uma só e certeira estocada contra as frenéticas canivetadas do subordinado. No lugar de Nelson Jobim na Defesa entra Celso Amorim, chanceler no governo Lula, colunista de CartaCapital e um dos principais alvos das futricas do antecessor. Conforme revelou documento da diplomacia dos Estados Unidos vazados pelo WikiLeaks, Jobim reunia-se com representantes da embaixada norte-americana no Brasil para falar mal da política externa conduzida pelo então colega de governo. O hábito da fofoca, como se vê, nunca abandonou o ministro recém-exonerado, vide a entrevista à revista Piauí, que selou sua demissão na quinta-feira 4.
Dilma estava disposta a manter Jobim no cargo, ao menos até 2012. Mas mudou de ideia no briefing matinal de rotina, no quarto andar do Palácio do Planalto, na quinta 4. Bem-disposta, sentou-se à mesa para discutir assuntos do dia com seus assessores mais diretos, os ministros Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral, Helena Chagas, da Comunicação, Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e o seu chefe de gabinete Giles Azevedo. Lá pelas tantas, recebeu a notícia de Helena Chagas: Jobim aprontara mais uma, dessa vez em uma entrevista à Piauí. Detalhes da entrevista haviam sido antecipados pela colunista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo: o então titular da Defesa classificara a colega Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, de “fraquinha” e teria dito que Gleisi “sequer conhecia Brasília”, em alusão à falta de experiência parlamentar da chefe da Casa Civil.
“Vou demiti-lo”, limitou-se a dizer a presidenta, ruborizada de raiva. Em seguida, mandou sua secretária localizar Jobim em Tabatinga (AM), fronteira com a Colômbia, onde o ministro assinava atos de cooperação mútua. A primeira conversa foi rápida e seca. Dilma pediu que o subordinado voltasse imediatamente a Brasília e comunicou o envio de um avião da Força Aérea para buscá-lo. Em missão oficial ao lado do vice-presidente, Michel Temer, e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, Jobim tentou um último ato para se preservar. Convocou uma rápida coletiva de imprensa para dizer que não havia dito o que a Piauí disse que ele disse. “As frases foram retiradas do contexto.” Saiu sem dizer mais nada, ciente de que, desta feita, as provocações não ficariam baratas.
Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Mantém um blog chamado Brasília eu Vi. http://brasiliaeuvi.wordpress.com

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